2009-01-22 18:33:43

APELO DOS BISPOS IRAQUIANOS, EM VISITA 'AD LIMINA', PARA QUE O MUNDO NÃO ESQUEÇA OS CRISTÃOS DO IRAQUE


Cidade do Vaticano, 22 jan (RV) - Os bispos iraquianos iniciaram hoje, no Vaticano, a sua visita 'ad Limina'. Alguns prelados foram recebidos em audiência, esta manhã, pelo Santo Padre. Trazem ao Sucessor de Pedro as esperanças e os sofrimentos de uma pequena comunidade eclesial duramente provada pelas conseqüências da guerra.

Antes de 2003, ano da invasão anglo-americana, os cristãos eram 800 mil numa população total de 27 milhões de habitantes; 95% dos quais muçulmanos. A emigração, conseqüência das difíceis condições de vida e das violências anticristãs – com assassinatos, seqüestros, intimidações e ataque a igrejas – reduziu pela metade a presença dos cristãos no País do Golfo.

O drama dos cristãos no Iraque é um drama no drama. Além dos atentados e das violências que atingem diariamente toda a população, há a triste realidade de uma comunidade expulsa de suas casas com a força e a intimidação – quando não até mesmo com casos de morte – e obrigada a abandonar tudo e a fugir, sobretudo para a Síria e Jordânia, vivendo na indigência e somente graças às ajudas das organizações humanitárias, com a perspectiva sempre mais distante de retornar um dia à pátria ou de iniciar uma nova vida nos EUA, na Austrália ou na Europa.

Uma situação dramática, num país que de há muito vive na tragédia: primeiro a ditadura, depois as guerras e a ocupação, o terrorismo e as disputas entre as várias facções pelo controle dos recursos e do território de um Estado que parece ainda ter que recomeçar do zero.

O medo dos cristãos é que o mundo esqueça o Iraque, como ressalta, nos microfones da Rádio Vaticano, o arcebispo caldeu de Kirkuk – norte do Iraque – Dom Louis Sako:

Dom Louis Sako:- "Infelizmente, nos sentimos um pouco isolados, esquecidos. Os cristãos que deixaram o país e os outros, que ficaram, esperam, sem muita esperança no futuro. Vivem na preocupação por suas crianças, pelo futuro delas, preocupados com a casa deles, com o trabalho. Creio que caiba também ao Ocidente, às Igrejas, ajudar-nos. Somos uma pequena Igreja, estamos ali há dois mil anos e já tivemos problemas mais graves do que esse. Portanto, agora não se pode ir embora deixando o Iraque. A metade dos cristãos deixou o país e agora, talvez, seja preciso ajudar esses cristãos para que retornem."

P. Barack Obama poderia ser é uma esperança a mais?

Dom Louis Sako:- "Não se sabe. A política não depende de uma só pessoa. Se ele decidir retirar os soldados será um problema. Talvez tenhamos uma guerra civil. Não temos soldados e policiais o suficiente para controlar um país de 25 milhões de habitantes."

E a própria Igreja iraquiana carrega consigo as feridas de tantos leigos e sacerdotes mártires assassinados pelo fanatismo e pela violência de grupos fundamentalistas locais. Entre essas vítimas recordamos o arcebispo caldeu de Mossul, Dom Paulos Faraj Rahho, seqüestrado no dia 29 de fevereiro de 2008 e encontrado morto no dia 12 de março. Um "ato de violência desumana que ofende a dignidade do ser humano" – disse o Santo Padre por ocasião do funeral do prelado. Mas a esperança de quem foi obrigado a deixar o país e de quem permaneceu, ainda não acabou, apesar das enormes dificuldades. A propósito, ouçamos o bispo auxiliar caldeu de Bagdá, Dom Shlemon Warduni:

Dom Shlemon Warduni:- "Queremos que haja paz e segurança, porque sem isso, os cristãos e os iraquianos de modo geral que deixaram o país, não terão nenhuma garantia. Nós esperamos que a paz e a segurança sejam um motivo para fazê-los retornar, porque onde se encontram, não estão bem."

P. Como a pequena comunidade cristã iraquiana vive o fato de também a Igreja ter sido duramente atingida através de seus representantes?

Dom Shlemon Warduni:- "Certamente, é uma coisa impressionante e muito dolorosa. Também os fiéis, quando um sacerdote ou um bispo é assassinado, se sentem desmoralizados."

Dom Warduni disse ainda que "a democracia não pode ser imposta no Iraque, mas deve ser ensinada: é necessária, portanto, uma educação à democracia." Trata-se de uma tarefa que cabe a quem hoje controla o país.

Os dois prelados participaram ontem, quarta-feira, junto com o arcebispo sírio-caldeu de Bagdá, Dom Matti Matoka; e o arcebispo sírio-católico de Mossul, Dom Georges Casmoussa, da apresentação, na sede da nossa emissora (Rádio Vaticano), do documentário "Iraque – SOS refugiados", realizado por Elisabetta Valgiusti: imagens e testemunhos emblemáticos de uma situação, por ora, sem saída.

No debate, na presença de uma platéia atenta, Dom Matoka exortou a comunidade internacional a contribuir a fim de que haja "uma população iraquiana que viva em paz". "Peguem o nosso petróleo, mas deixem o nosso país" – reiterou, por sua vez, Dom Warduni.







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