BISPO PREOCUPADO PORQUE CORRUPÇÃO VENCE ESTADO DE DIREITO NA NICARÁGUA
Manágua, 21 jan (RV) – O bispo nicaraguense de Granada, Dom Bernardo Hombach,
manifestou, nesta terça-feira, sua preocupação porque, na Nicarágua, na sua opinião,
"a corrupção aniquila o Estado de direito". Esse comentário foi motivado pela decisão
do Supremo Tribunal de Justiça, de absolver, por falta de provas, o ex-presidente
Arnoldo Alemán.
"A Igreja Católica, evidentemente, não é o fórum competente
para condenar alguém e nem tem interesse em prender uma ou outra pessoa, mas o que
preocupa a Igreja é o fato que, às vezes, parece que a corrupção consegue derrotar
o Estado de direito" – sublinhou o prelado, em declarações a um canal televisivo local.
"O
que preocupa a Igreja é o fato que a sociedade funcione e isso se verifica somente
se o sistema do Direito está intacto" – acrescentou.
O Supremo Tribunal de
Justiça da Nicarágua rejeitou, na última sexta-feira, a sentença de condenação a 20
anos de reclusão, em primeira instância, do ex-presidente Arnoldo Alemán, por corrupção,
deixando-o em liberdade.
A reforma da sentença absolve totalmente Alemán, líder
do Partido Liberal Constitucionalista (PLC) e presidente da Nicarágua de 1997 a 2002,
processado por lavagem de dinheiro, peculato, malversação, associação ilícita, crimes
eleitorais e fraude, delitos que lhe haviam acarretado em 2003, uma condenação a 20
anos de reclusão.
Dom Hombach advertiu que a ausência de justiça pode induzir
a população a "fazer justiça com as próprias mãos". "Sinto no ar uma grande disponibilidade
à violência – comentou o bispo – e não sei a que atribuí-la. Muita gente se ressente
da falta de justiça e isso induz muitos a buscá-la com as próprias mãos; além disso,
as pessoas violentas passam a crer na impunidade" – alertou.
O procurador-geral
da justiça, da Nicarágua, Hernán Estrada, esclareceu que o ex-presidente Alemán foi
absolvido por seis imputações, mas que ainda restam quatro processos pendentes contra
ele, por fraude e associação ilícita. Estrada comentou que "se os milhares de documentos
probatórios que existem contra Alemán não foram suficientes para garantir sua condenação,
poderão constituir o acervo de "um museu de moral histórica" do povo nicaraguense".
(AF)