Uma vida ao serviço da Santa Sé e da construção da paz e concórdia entre os povos:
Bento XVI nas exéquias do cardeal Pio Laghi
(13/1/2009) “De novo ofereço a Deus a minha vida, pela Igreja, pelo Santo Padre e
pela santificação dos meus irmãos no sacerdócio. Desde já aceito a morte que a Divina
Providência me reservou: apenas peço que os dias da minha vida sejam, se possível,
abreviados, até para não dar incómodo demais a quem devesse assistir-me”. Palavras
do cardeal Pio Laghi, no testamento espiritual escrito há menos de dois meses da sua
morte, domingo passado, em Roma, com 86 anos. As exéquias tiveram lugar nesta terça-feira,
na basílica de São Pedro, presididas pelo antigo Secretário de Estado, o cardeal Angelo
Sodano, Decano do Colégio Cardinalício. No final da celebração, Bento XVI desceu
à basílica, pronunciando uma homilia evocativa do defunto e presidindo ao rito da
encomendação final.
Evocando o Evangelho das bem-aventuranças, proclamadas
na Missa, observou o Santo Padre: “Quantas vezes o caro cardeal Pio Laghi se deteve,
certamente, a meditar estas palavras evangélicas, e quanta vezes as explicou aos fiéis!
Com a sua forte carga escatológica, elas sustentam a nossa esperança no Reino dos
Céus, prometido a todos os que se esforçam por seguir fielmente a via do Mestre, aderindo
aos seus ensinamentos”.
“Deus criou-nos para Ele e n’Ele encontramos a felicidade.
Conformando-nos à sua Palavra, é-nos possível transformar em fonte de paz e em manancial
de alegria até mesmo as provações e os sofrimentos que inevitavelmente fazem parte
da nossa peregrinação terrena. Peçamos ao Senhor que torne este nosso Irmão participante
da bem-aventurança eterna, cujas primícias ele pôde já experimentar aqui na terra,
na comunhão eclesial, na construção de elos de paz e de concórdia entre os povos e
as nações, junto das quais foi enviado como Representante Pontifício”.
Passando
brevemente em resenha o percurso de vida do defunto, Bento XVI começou por observar
que “toda a missão sacerdotal do cardeal Pio Laghi se consumou ao serviço directo
da Santa Sé”. Ordenado padre em 1946, após o curso de Teologia realizado em Roma,
como aluno do Pontifício Seminário Maior, foi desde logo chamado ao serviço da Santa
Sé. Doutorado em Teologia e em Direito Canónico na Universidade Lateranense, já em
1952 iniciava “o seu longo itinerário diplomático e pastoral” nas Nunciaturas de diversas
Nações: da Nicarágua a Washington, nos Estados Unidos da América, a Delhi, na Índia,
regressando seguidamente, por cinco anos, à Secretaria de Estado. Eleito arcebispo
em 1969, o Papa designou-o seu Delegado em Jerusalém e na Palestina, com o cargo também
de pró-Núncio em Chipre e Visitador Apostólico para a Grécia. Em 1974 tornou-se Núncio
Apostólico na Argentina, onde permaneceu até 1980, quando foi chamado a assumir a
missão de Delegado Apostólico nos Estados Unidos. Foi precisamente nesses anos que
se estabeleceram relações oficiais entre a Santa Sé e o Governo de Washington. A
longa experiência e conhecimento da Igreja, até então acumuladas, levaram João Paulo
II a escolhê-lo, em 1990, para Prefeito da Congregação para a Doutrina Católica, criando-o
cardeal no ano seguinte.
Bento XVI recordou também “com gratidão” algumas
missões especiais confiadas pelo Papa ao purpurado defunto: em Maio de 2001, junto
de Israel e da Autoridade Palestiniana, para entregar uma sua mensagem autografa,
encorajando as partes a um imediato cessar-fogo e a retomarem o diálogo; dois anos
depois, em Março de 2003, deslocou-se a Washington como enviado especial de João Paulo
II para ilustrar as posições pontifícias e as iniciativas empreendidas pela Santa
Sé para contribuir para o desarmamento e para a paz no Médio Oriente.
“Missões
delicadas que ele procurou realizar, como sempre, com fiel dedicação a Cristo e à
sua Igreja. Desejei amar a Cristo – escreve no seu testamento espiritual –
e servi-lo toda a minha vida, embora muitas vezes a minha fragilidade humana me
tenha impedido de manifestar-lhe de modo sempre edificante, como teria desejado, o
meu amor, fidelidade e plena dedicação aos seus desígnios. Demos graças a
Deus pelo dom deste nosso Irmão e amigo, e por todo o bem que ele, com a ajuda da
graça divina, pôde realizar nos vários âmbitos em que foi chamado a desenvolver a
sua preciosa actividade pastoral e diplomática”.