SOBRIEDADE E SOLIDARIEDADE FORAM AS INDICAÇÕES DE BENTO XVI PARA A ERRADICAÇÃO DA
POBREZA E A CONSTRUÇÃO DA PAZ
Cidade do Vaticano, 1º jan (RV) - Hoje, 1º de janeiro de 2009, solenidade de
Maria Santíssima Mãe de Deus e 42º Dia Mundial da Paz, Bento XVI presidiu à Capela
Papal, na Basílica de São Pedro.
Em sua homilia, depois de ter saudado de modo
particular o presidente do Pontifício Conselho da "Justiça e da Paz", Cardeal Renato
Raffaele Martino, manifestando seu reconhecimento pelo precioso serviço que presta,
juntamente com seus colaboradores, o papa recordou que "a história terrena de Jesus
é o início de um mundo novo, porque inaugurou, realmente, uma nova humanidade, capaz
– sempre com a graça de Cristo – de operar uma "revolução" pacífica".
"Uma
revolução não ideológica, mas espiritual – sublinhou o pontífice – não utópica,
mas real, e por isso uma revolução que necessita de infinita paciência, de tempos
às vezes muito longos, evitando a tentação de cortar caminho e percorrendo a estrada
mais difícil: a estrada do amadurecimento da responsabilidade das consciências."
Nesse
contexto, explicou as razões da escolha do tema deste 42º Dia Mundial da Paz – "Combater
a pobreza, construir a paz". Existem dois tipos de pobreza – ilustrou o Santo Padre
– a pobreza por opção e a pobreza imposta. A primeira foi aquela que Deus escolheu
para vir ao mundo.
"O nascimento de Jesus em Belém – disse o papa –
nos revela que Deus escolheu a pobreza para si mesmo na sua vinda em meio a nós.
A cena que os pastores viram e que confirmou o anúncio que lhes fora feito pelo anjo,
foi a de uma estrebaria, onde Maria e José haviam buscado refúgio, e de uma manjedoura
na qual a Virgem havia colocado o Recém-nascido, envolvido em faixas."
São
Francisco também foi indicado como exemplo por Bento XVI, para ilustrar a pobreza
evangélica, a pobreza como opção de vida: uma opção "que tanto bem fez e continua
a fazer à Igreja e à família humana" – sublinhou.
Mas existe outra forma
de pobreza: a indigência que Deus não quer e que deve ser combatida, como diz o tema
deste 42º Dia Mundial da Paz: "Uma pobreza que impede que as pessoas e as famílias
vivam segundo sua dignidade; uma pobreza que ofende a justiça e a igualdade e que,
como tal, ameaça a convivência pacífica. Nesta acepção negativa se situam ainda as
formas de pobreza não material que encontramos também nas sociedades ricas e desenvolvidas:
marginalização, miséria de relações, miséria moral e miséria espiritual."
Em
minha mensagem – sublinhou o Santo Padre – na linha de meus predecessores, quis considerar
atentamente o complexo fenômeno da globalização, para avaliar suas relações com a
pobreza em ampla escala. "Diante das chagas das doenças pandêmicas, da pobreza
das crianças e da crise alimentar, tive, infelizmente, que denunciar a inaceitável
corrida aos armamentos."
"De um lado – prosseguiu Bento XVI – se
celebra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, enquanto de outro, se aumentam
as despesas militares, violando a própria Carta das Nações Unidas, que empenha a reduzi-las
ao mínimo."
O papa advertiu sobre a necessidade de estarmos vigilantes,
de não abaixarmos a guarda, porque o perigo dos conflitos ronda continuamente a humanidade.
E podemos fazê-lo, mantendo elevado o nível da solidariedade. Nesse contexto, indicou
a atual crise econômica mundial como um teste, perguntando se estamos prontos a ler
esta crise, na sua complexidade, como um desafio para o futuro e não apenas como uma
emergência para a qual encontrar uma solução imediata.
"Para combater a
pobreza iníquia, que oprime tantos homens e mulheres e ameaça a paz de todos –
advertiu o pontífice – é preciso redescobrir a sobriedade e a solidariedade como
valores evangélicos e, ao mesmo tempo, universais. Mais concretamente, não de pode
combater eficazmente a miséria, se não se tem em mente o que escreve Paulo aos Coríntios,
ou seja, se não se busca "alcançar a igualdade", reduzindo o desnível entre aqueles
que esbanjam o supérfluo e aqueles aos quais falta até mesmo o necessário." "Isso
comporta – alertou o papa – opções de justiça e de sobriedade, opções forçadas
pela exigência de administrar de modo sábio os limitados recursos da terra. Quando
afirma que Jesus nos enriqueceu "com a sua pobreza", São Paulo nos oferece uma indicação
importante, não apenas do ponto de vista teológico, mas também do ponto de vista sociológico.
Não no sentido que a pobreza seja um valor em si mesma, mas porque ela é condição
para realizar a solidariedade."
Concluindo, o Santo Padre pediu a Maria
Santíssima Mãe de Deus, nesta sua solenidade, que nos ajude a seguir as pegadas de
seu Filho, e que nos enriqueça com a sua pobreza repleta de amor. "A Ela confiamos
_ disse Bento XVI _ o profundo desejo de viver em paz, que se eleva do coração
da grande maioria das populações israelense e palestina, que se encontram novamente
em risco, em virtude da maciça violência desencadeada na Faixa de Gaza, em resposta
a outra violência. Também a violência, o ódio e a desconfiança são formas de pobreza
– e talvez as piores – a serem combatidas."
"Aos pés de Maria –
disse o papa – colocamos as nossas preocupações pelo presente e os nossos temores
pelo futuro, mas também a esperança de que, com a sábia e ponderada contribuição de
todos, seja possível escutar-se reciprocamente, encontrar-se e individuar respostas
concretas às aspirações de viver em paz e segurança, e com dignidade!"
Ao
término da santa missa, o papa rezou a oração mariana do Angelus. Em sua alocução,
reiterou a disponibilidade da Igreja, para auxiliar na construção da tão desejada
civilização da paz: "Desejo, uma vez mais, dialogar com os responsáveis pelas Nações
e pelos organismos internacionais, oferecendo a contribuição da Igreja Católica para
promover uma ordem mundial digna do homem" _ sublinhou.
Após a oração mariana
do Angelus – a primeira deste ano que se inicia – o papa agradeceu a todos aqueles
que lhe enviaram mensagens de Feliz Ano Novo, e concedeu a todos a sua bênção apostólica.
(AF)