Na Faixa de Gaza é espezinhada a dignidade humana, alimentando-se assim o ódio e o
fundamentalismo homicida: sublinha o card. Renato Martino, entrevistado pelo "Osservatore
Romano"
(1/1/2009) “É preciso calar as armas. O diálogo é a única via possível para restituir
a paz à Terra que as três religiões abramíticas chamam Santa e que se encontra de
novo ensanguentada por uma feroz recrudescência de violências”. Esta a firme convicção
do Cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. Numa ampla
entrevista publicada no número de hoje do “L’Osservatore Romano”, o purpurado recorda
que “não se detém a espiral de atentados e retorsões prosseguindo uns e outras”. “O
Papa – prossegue - convida todos à auto-crítica. Os esquemas até agora seguidos revelaram-se
sempre, não só intrinsecamente injustos, mas também incapazes de deter as armas. Para
usar as palavras da Escritura, há que forjar relhas de arado com as armas. É precisamente
a imensa desproporção entre as despesas militares mundiais e a ajuda ao desenvolvimento
– isto vale para toda a parte, e portanto também para a Faixa de Gaza – que manifesta
uma desconfiança profunda no homem”. Interpelado pelo jornalista do quotidiano
da Santa Sé sobre a verdadeira génese dos conflitos, normalmente atribuídos à questão
religiosa, o cardeal Renato Martino observa que “muitos problemas hoje atribuídos
quase exclusivamente às diferenças culturais e religiosas têm origem nas inumeráveis
injustiças económicas e sociais”. E acrescenta, textualmente: “Isto é verdade também
no que diz respeito à complexa questão do povo palestiniano. Na Faixa de Gaza desde
há décadas que se espezinha a dignidade do homem; alimenta-se assim o ódio e o fundamentalismo
homicida”. “É precisamente sobre o respeito da dignidade do homem que a doutrina social
da Igreja coloca o fundamento ético mais profundo da busca da paz”.