«Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus» (Tt 2, 11).
Amados
irmãos e irmãs, com as palavras do apóstolo Paulo renovo o jubiloso anúncio do Natal
de Cristo: sim, hoje, «manifestou-se a todos os homens a graça de Deus, nosso Salvador»!
Manifestou-se!
Isto é o que a Igreja hoje celebra. A graça de Deus, rica em bondade e ternura, já
não está escondida, mas «manifestou-se», manifestou-se na carne, mostrou o seu rosto.
Onde? Em Belém. Quando? Sob César Augusto, durante o primeiro recenseamento a que
alude também o evangelista Lucas. E quem é o revelador? Um recém-nascido, o Filho
da Virgem Maria. N’Ele manifestou-se a graça de Deus, Salvador nosso. Por isso, aquele
Menino chama-Se Jehoshua, Jesus, que significa «Deus salva».
A graça de Deus
manifestou-se: eis o motivo por que o Natal é festa de luz. Não uma luz total, como
aquela que envolve todas as coisas em pleno dia, mas um clarão que se acende na noite
e se difunde a partir de um ponto concreto do universo: da gruta de Belém, onde o
Deus Menino «veio à luz». Na realidade, é Ele a própria luz que se propaga, como aparece
bem representado em muitos quadros da Natividade. Ele é a luz, que, ao manifestar-se,
rompe a bruma, dissipa as trevas e nos permite compreender o sentido e o valor da
nossa existência e da história. Cada presépio é um convite simples e eloquente a abrir
o coração e a mente ao mistério da vida. É um encontro com a Vida imortal, que Se
fez mortal na mística cena do Natal; uma cena que podemos admirar também aqui, nesta
Praça, tal como em inumeráveis igrejas e capelas do mundo inteiro e em toda a casa
onde é adorado o nome de Jesus.
A graça de Deus manifestou-se a todos os homens.
Sim, Jesus, o rosto do próprio Deus-que-salva, não Se manifestou somente para poucos,
para alguns, mas para todos. É verdade que, no casebre humilde e pobre de Belém, poucas
pessoas O encontraram, mas Ele veio para todos: judeus e pagãos, ricos e pobres, de
perto e de longe, crentes e não crentes… todos. A graça sobrenatural, por vontade
de Deus, destina-se a toda a criatura. Mas é preciso que o ser humano a acolha, pronuncie
o seu «sim», como Maria, para o coração seja iluminado por um raio daquela luz divina.
Os que acolheram o Verbo encarnado, naquela noite, foram Maria e José, que O esperavam
com amor, e os pastores, que vigiavam durante a noite (cf. Lc 2, 1-20). Foi, portanto,
uma pequena comunidade que acorreu a adorar Jesus Menino; uma pequena comunidade que
representa a Igreja e todos os homens de boa vontade. Também hoje, aqueles que na
vida O esperam e procuram, encontram Deus que por amor Se fez nosso irmão; quantos
têm o coração voltado para Ele, desejam conhecer o seu rosto e contribuir para instaurar
o seu reino. Di-lo-á o próprio Jesus na sua pregação: são os pobres em espírito, os
aflitos, os mansos, os famintos de justiça, os misericordiosos, os puros de coração,
os obreiros da paz, os perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5, 3-10). Estes reconhecem
em Jesus o rosto de Deus e regressam, como os pastores de Belém, renovados no coração
pela alegria do seu amor.
Irmãos e irmãs que me escutais, a todos os homens
se destina o anúncio de esperança que constitui o coração da mensagem de Natal. Para
todos nasceu Jesus e, como em Belém Maria O ofereceu aos pastores, neste dia a Igreja
apresenta-O à humanidade inteira, para que toda a pessoa e cada situação humana possa
experimentar a força da graça salvadora de Deus, a única que pode transformar o mal
em bem, a única que pode mudar o coração do homem e torná-lo um «oásis» de paz.
Possam
experimentar a força da graça salvadora de Deus as numerosas populações que vivem
ainda nas trevas e nas sombras da morte (cf. Lc 1, 79). Que a Luz divina de Belém
se difunde pela Terra Santa, onde o horizonte parece tornar-se a fazer escuro para
os israelitas e os palestinianos, difunda-se pelo Líbano, o Iraque e todo o Médio
Oriente. Torne fecundos os esforços de quantos não se resignam com a lógica perversa
do conflito e da violência e privilegiam pelo contrário o caminho do diálogo e das
negociações para se harmonizar as tensões internas nos diversos Países e encontras
soluções justas e duradouras para os conflitos que atormentam a região. Por esta Luz
que transforma e renova, anelam os habitantes do Zimbábue, em África, oprimidos há
demasiado tempo por uma crise política e social que, infelizmente, continua a agravar-se,
coma também os homens e as mulheres da República Democrática do Congo, especialmente
na martirizada região do Kivu, do Darfour, no Sudão, e da Somália, cujos infindáveis
sofrimentos são uma trágica consequência da falta de estabilidade e de paz. Por esta
Luz esperam sobretudo as crianças dos países referidos e de todo os outros em dificuldade,
a fim de que seja devolvida a esperança ao seu futuro.
Onde a dignidade e
os direitos da pessoa humana são espezinhados; onde os egoísmos pessoais ou de grupo
prevalecem sobre o bem comum; onde se corre o risco de habituar-se ao ódio fratricida
a à exploração do homem pelo homem; onde lutas internas dividem grupos e etnias e
dilaceram a convivência; onde o terrorismo continua a percutir; onde falta o necessário
para sobreviver; onde se olha com apreensão para um futuro que se vai tornando cada
vez mais incerto, mesmo nas Nações do bem-estar: lá resplandeça a Luz do Natal e encoraje
todos a fazerem a própria parte, com espírito de autêntica solidariedade. Se cada
um pensar só nos próprios interesses, o mundo não poderá senão caminhar para a ruína.
Amados
irmãos e irmãs, hoje «manifestou-se a graça de Deus Salvador» (cf. Tt 2, 11), neste
nosso mundo, com as suas potencialidades e as suas debilidades, os seus progressos
e as suas crises, com as suas esperanças e as suas angústias. Hoje refulge a luz de
Jesus Cristo, Filho do Altíssimo e filho da Virgem Maria: «Deus de Deus, Luz da Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Por nós, homens, e para nossa salvação desceu
dos Céus». Adoramo-Lo hoje, em cada ângulo da terra, envolvido em faixas e reclinado
numa pobre manjedoura. Adoramo-Lo em silêncio enquanto Ele, ainda infante, parece
dizer-nos para nossa consolação: não tenhais medo, «Eu sou Deus e não há outro» (Is
45, 22). Vinde a Mim, homens e mulheres, povos e nações. Vinde a Mim, não temais!
Vim trazer-vos o amor do Pai, mostrar-vos o caminho da paz.
Vamos, pois, irmãos!
Apressemo-nos, como os pastores na noite de Belém. Deus veio ao nosso encontro e mostrou-nos
o seu rosto, rico em misericórdia! A sua graça não seja vã para nós! Procuremos Jesus,
deixemo-nos atrair pela sua luz, que dissipa a tristeza e o medo do coração do homem;
aproximemo-nos com confiança; com humildade, prostremo-nos para O adorar. Feliz Natal
para todos!