2008-12-18 14:23:14

A paz e a justiça, segundo Deus, nas palavras do Papa a onze novos Embaixadores junto da Santa Sé


(18/12/2008) Num mundo que “tem sede de justiça e de paz”, quem desempenha “a bela missão de Embaixador” está chamado a ser “construtor de paz”, a qual, para ser “autêntica, só é possível quando reina a justiça”. Ele há-de contribuir também para que “cada povo cultive o seu próprio génio, a bem de todos, purificando ao mesmo tempo “os seus demónios, até os transformar em valores positivos, criadores de harmonia, de prosperidade e de paz”.
Palavras de Bento XVI, no discurso vigoroso e propositivo que dirigiu nesta quinta-feira de manhã, a onze novos Embaixadores “extraordinários e plenipotenciários” junto da Santa Sé, recebidos conjuntamente para a apresentação das respectivas Cartas Credenciais. Os países representados por estes diplomatas situam-se nas diversas partes do mundo: Malawi, Madagáscar, Serra Leoa e Tunísia – na África; Belize – na América central; Kazaquistão e Bahrein – no continente asiático; Islândia, Luxemburgo e Suécia – na Europa; e as Ilhas Fidji, na Oceânia.

Partindo precisamente desta “diversidade de proveniências”, o Santo Padre, dando “graças a Deus pelo seu amor criador e pela multiplicidade dos seus dons”, observou que “por vezes a diversidade causa medo”, pelo que, frequentemente, a tal diversidade, “o homem prefere a monotonia da uniformidade”.

“Por demasiado tempo, sistemas político-económicos provindo ou reivindicando matrizes pagãs ou religiosas afligiram a humanidade, procurando uniformizando-a com demagogia e violência. Reduziram e – infelizmente – continuam ainda a reduzir o homem a uma indigna escravatura ao serviço de uma ideologia única ou de uma economia desumana e pseudo-científica”.

O Papa reconheceu que “não existe um modelo político único”, “ideal a realizar absolutamente”. Aliás (observou), “a filosofia política evolui no tempo e na sua expressão com o apurar da inteligência humana e das lições tiradas da sua experiência política e económica”. “Cada povo – acrescentou Bento XVI - possui o seu génio e também os seus demónios próprios”.

“Cada povo avança, através duma gestação, por vezes dolorosa, que lhe é própria, em direcção a um futuro que deseja luminoso. O meu desejo seria portanto que cada povo cultive o seu génio, que o enriquecerá para o bem de todos, e que se purifique dos seus demónios, que venha a controlar o melhor possível até os eliminar transformando-os em valores positivos e criadores de harmonia, de prosperidade e de paz, a fim de defender a grandeza da dignidade humana”.

Passando depois a considerar “a bela missão do Embaixador”, o Santo Padre sublinhou, como aspecto essencial, “a busca e promoção da paz”, citando a propósito a bem-aventurança pronunciada por Cristo no Sermão da Montanha “Bem-aventurados os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

“O Embaixador pode e deve ser um construtor de paz. O artífice de paz de que aqui se trata não é apenas a pessoa com um temperamento calmo e conciliador, que deseja viver em boa relação com toda a gente, evitando se possível os conflitos. É também uma pessoa que se coloca totalmente ao serviço da paz, empenhando-se activamente em construí-la, por vezes mesmo a custo da própria vida. Não faltam exemplos históricos.”

Para haver paz – advertiu o Papa – não basta uma “situação política ou militar de não conflito”. A paz está ligada ao “conjunto de condições que permitam a concórdia entre todos e o desenvolvimento pessoal de cada um”. Por outro lado, “Deus quer a paz, propõe-na ao homem, oferece-lha como dom. Esta intervenção divina na humanidade tem o nome de aliança de paz”.

“Quando Cristo chama filho de Deus ao construtor de paz, quer com isso dizer que este participa e trabalha, de maneira consciente ou inconsciente, à obra de Deus e prepara, através da sua missão, as condições necessárias ao acolhimento da paz que vem do alto”.

A concluir o seu discurso a onze novos Embaixadores junto da Santa Sé, Bento XVI recordou ainda que “a paz autêntica só é possível quando reina a justiça” e que “ o nosso mundo tem sede de paz e de justiça”. E referiu, a este propósito, a Nota que a Santa Sé publicou, nas vésperas da Conferência de Doha, sobre a actual crise financeira e a suas repercussões sobre a sociedade e sobre os indivíduos.
“Trata-se – explicou – de “alguns pontos de reflexão destinados a promover o diálogo sobre alguns aspectos éticos que deveriam reger as relações entre a finança e o desenvolvimento, encorajando os governos e os actores económicos a procurarem soluções duradouras e solidárias, para o bem de todos, e mais particularmente para os que se encontram mais expostos às dramáticas consequências da crise”.

“A justiça não assume apenas um alcance social ou mesmo ético. Não tem apenas que ver com o que é équo ou conforme ao direito. A etimologia hebraica da palavra justiça faz referência ao que é ajustado, apropriado. A justiça de deus manifesta-se portanto pelo seu ser apropriado. Ele repõe tudo no seu lugar, tudo em ordem, a fim de que o mundo seja conforme ao projecto de Deus e ao seu ordenamento”.








All the contents on this site are copyrighted ©.