FREI CANTALAMESSA: COLOCAR CRISTO NO CENTRO DA PRÓPRIA VIDA É O MODO MELHOR PARA PREPARAR-SE
PARA O NATAL
Cidade do Vaticano, 12 dez (RV) - Esvaziar-se de toda pretensão, “em espírito
de pobreza e humildade, é o melhor modo” para preparar-se para o Natal: com essas
palavras, o pregador oficial da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, concluiu
esta manhã, na capela Redemptoris Mater da residência pontifícia, no Vaticano, a segunda
pregação do Advento. A meditação do frei capuchinho proposta à Cúria Romana foi ouvida
também por Bento XVI.
Hoje, ele meditou sobre o tema: “Quando chegou a plenitude
dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”, da carta de São Paulo aos
Gálatas. Assim, Frei Cantalamessa propõe a preparação da natividade de Jesus, com
base nas Cartas Paulinas, por ocasião do bimilenário de nascimento do Apóstolo dos
Gentios.
O religioso ressaltou, em particular, a necessidade de colocar Cristo
no centro da própria existência, como fez São Paulo, para que hoje a centralidade
de Cristo possa também reentrar nos diálogos mais fortes entre a Igreja e o mundo.
“Paulo…
não se converteu a uma doutrina…; se converteu a uma pessoa! Antes de uma mudança
de pensamento, foi uma mudança de coração, um encontro com uma pessoa viva.”
De
fato, o pregador da Casa Pontifícia centralizou sobre esse aspecto a sua segunda pregação
do Advento, insistindo que muitas vezes a centralidade de Cristo em São Paulo passou
em segundo plano. Como, por exemplo, nas discussões entre católicos e protestantes.
Especificando que aproximar-se de Cristo, conhecê-lo, “não indica uma descoberta
somente intelectual, o ter uma idéia sobre algo, mas uma ligação vital íntima”, o
religioso capuchinho afirmou:
“É tempo, creio, de ir além da Reforma e além
da Contra-reforma… Somente para dar um exemplo, o problema não é mais o de Lutero
sobre como libertar o homem do sentido de culpa que o oprime, de fazê-lo encontrar
um Deus benigno, hoje o problema é como dar novamente ao homem o verdadeiro sentido
do pecado que foi totalmente perdido… Eu creio que todas as discussões ao longo dos
séculos entre católicos e protestantes em torno da fé e das obras acabaram por fazer-nos
perder de vista o ponto principal da mensagem paulina, muitas vezes desviando a atenção
de Cristo para a doutrina sobre Cristo, na prática, de Cristo para os homens, os teólogo,
as escolas de pensamento….”
Frei Cantalamessa acrescentou que também hoje “Cristo
não entra em questão em nenhum dos três diálogos mais fortes em andamento… entre a
Igreja e o mundo”:
“Não entra no diálogo entre fé e filosofia, porque a filosofia
se ocupa de conceitos metafísicos, não de realidades históricas, como é o caso da
pessoa de Jesus de Nazaré; não entra no diálogo com a ciência, com a qual se pode
unicamente discutir sobre a existência ou não de um Deus criador, sobre um desígnio
da evolução; por fim, Cristo não entra no diálogo inter-religioso, que se ocupa daquilo
que no máximo as religiões podem fazer juntas pela paz, para combater a fome e assim
por diante….”
O pregador da Casa Pontifícia explicou que a experiência pessoal
de Paulo é aquele “viver em Cristo” que leva a uma visão global da própria vida centralizada
no Filho de Deus, de modo que o chamado a ser santos _ na carta aos Romanos _ equivale
a ser “chamados por Deus à comunhão com seu Filho Jesus Cristo”.
Para o Apóstolo
dos Gentios “a fé que salva é somente a fé na morte e ressurreição de Cristo”, confessar
com a boca que Jesus é o Senhor, e acreditar com o coração que Deus o ressuscitou
dos mortos.
Para descrever o modo em que judeu de Tarso se converteu, o frei
capuchinho usou também exemplos práticos, comparando a sua experiência ao “raio que
fulmina”:
“O efeito do enamorar-se é dúplice. De um lado se dá uma drástica
redução a uma única realidade, uma concentração sobre a pessoa amada que faz passar
a segundo plano todo o restante do mundo; de outro lado se torna capaz de sofrer pela
pessoa amada, de aceitar a perda de tudo.”
Portanto, amando Cristo, Paulo concentrou
a sua vida no Evangelho, doando-a totalmente e suportando todo e qualquer sofrimento
porque conquistado por Jesus. E hoje, refletindo sobre a sua experiência, é possível
acolher o seguinte _ observou o pregador da Casa Pontifícia:
“Ele fala sempre
de uma presença de Deus ‘em Cristo’. Uma presença irreversível e insuperável. Não
há um estado da vida espiritual em que se possa prescindir de Cristo, ou ir ‘além
de Cristo’. A vida cristã é uma ‘vida recôndida com Cristo em Deus’. Esse cristocentrismo
paulino não atenua o horizonte trinitário da fé, mas o exalta, porque para Paulo todo
o movimento parte do Pai e retorna ao Pai, por meio do Espírito. A expressão ‘em Cristo’
tem o mesmo significado, em seus escritos, da expressão ‘no Espírito’.”
Em
suma, concluiu Frei Cantalamessa, a presença do Ressuscitado é uma presença real junto
a nós, porque em seu afirmar: “Estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”,
“Cristo… se faz realmente nosso contemporâneo”. Mas além de colocar Cristo no centro
da própria vida, o fiel deve dar outro passo:
“Essa é a conversão mais necessária
para nós que seguimos Cristo e vivemos a seu serviço na Igreja. Uma conversão toda
especial, que não consiste em abandonar o mal, mas, num certo sentido, em abandonar
o bem! Isto é, no separar-se de tudo aquilo que se faz, repetindo a nós mesmos, como
nos diz Jesus: ‘Somos servos inúteis; fizemos aquilo que devíamos fazer’. E talvez
nem tão bem como deveríamos ter feito. Esse esvaziar-se de toda pretensão, em espírito
de pobreza e humildade, é o modo melhor para preparar-nos para o Natal.”
Portanto,
estar de mãos vazias é o modo para receber o dom de Cristo. (RL)