2008-12-12 19:05:48

FREI CANTALAMESSA: COLOCAR CRISTO NO CENTRO DA PRÓPRIA VIDA É O MODO MELHOR PARA PREPARAR-SE PARA O NATAL


Cidade do Vaticano, 12 dez (RV) - Esvaziar-se de toda pretensão, “em espírito de pobreza e humildade, é o melhor modo” para preparar-se para o Natal: com essas palavras, o pregador oficial da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, concluiu esta manhã, na capela Redemptoris Mater da residência pontifícia, no Vaticano, a segunda pregação do Advento. A meditação do frei capuchinho proposta à Cúria Romana foi ouvida também por Bento XVI.

Hoje, ele meditou sobre o tema: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”, da carta de São Paulo aos Gálatas. Assim, Frei Cantalamessa propõe a preparação da natividade de Jesus, com base nas Cartas Paulinas, por ocasião do bimilenário de nascimento do Apóstolo dos Gentios.

O religioso ressaltou, em particular, a necessidade de colocar Cristo no centro da própria existência, como fez São Paulo, para que hoje a centralidade de Cristo possa também reentrar nos diálogos mais fortes entre a Igreja e o mundo.

“Paulo… não se converteu a uma doutrina…; se converteu a uma pessoa! Antes de uma mudança de pensamento, foi uma mudança de coração, um encontro com uma pessoa viva.”

De fato, o pregador da Casa Pontifícia centralizou sobre esse aspecto a sua segunda pregação do Advento, insistindo que muitas vezes a centralidade de Cristo em São Paulo passou em segundo plano. Como, por exemplo, nas discussões entre católicos e protestantes.

Especificando que aproximar-se de Cristo, conhecê-lo, “não indica uma descoberta somente intelectual, o ter uma idéia sobre algo, mas uma ligação vital íntima”, o religioso capuchinho afirmou:

“É tempo, creio, de ir além da Reforma e além da Contra-reforma… Somente para dar um exemplo, o problema não é mais o de Lutero sobre como libertar o homem do sentido de culpa que o oprime, de fazê-lo encontrar um Deus benigno, hoje o problema é como dar novamente ao homem o verdadeiro sentido do pecado que foi totalmente perdido… Eu creio que todas as discussões ao longo dos séculos entre católicos e protestantes em torno da fé e das obras acabaram por fazer-nos perder de vista o ponto principal da mensagem paulina, muitas vezes desviando a atenção de Cristo para a doutrina sobre Cristo, na prática, de Cristo para os homens, os teólogo, as escolas de pensamento….”

Frei Cantalamessa acrescentou que também hoje “Cristo não entra em questão em nenhum dos três diálogos mais fortes em andamento… entre a Igreja e o mundo”:

“Não entra no diálogo entre fé e filosofia, porque a filosofia se ocupa de conceitos metafísicos, não de realidades históricas, como é o caso da pessoa de Jesus de Nazaré; não entra no diálogo com a ciência, com a qual se pode unicamente discutir sobre a existência ou não de um Deus criador, sobre um desígnio da evolução; por fim, Cristo não entra no diálogo inter-religioso, que se ocupa daquilo que no máximo as religiões podem fazer juntas pela paz, para combater a fome e assim por diante….”

O pregador da Casa Pontifícia explicou que a experiência pessoal de Paulo é aquele “viver em Cristo” que leva a uma visão global da própria vida centralizada no Filho de Deus, de modo que o chamado a ser santos _ na carta aos Romanos _ equivale a ser “chamados por Deus à comunhão com seu Filho Jesus Cristo”.

Para o Apóstolo dos Gentios “a fé que salva é somente a fé na morte e ressurreição de Cristo”, confessar com a boca que Jesus é o Senhor, e acreditar com o coração que Deus o ressuscitou dos mortos.

Para descrever o modo em que judeu de Tarso se converteu, o frei capuchinho usou também exemplos práticos, comparando a sua experiência ao “raio que fulmina”:

“O efeito do enamorar-se é dúplice. De um lado se dá uma drástica redução a uma única realidade, uma concentração sobre a pessoa amada que faz passar a segundo plano todo o restante do mundo; de outro lado se torna capaz de sofrer pela pessoa amada, de aceitar a perda de tudo.”

Portanto, amando Cristo, Paulo concentrou a sua vida no Evangelho, doando-a totalmente e suportando todo e qualquer sofrimento porque conquistado por Jesus. E hoje, refletindo sobre a sua experiência, é possível acolher o seguinte _ observou o pregador da Casa Pontifícia:

“Ele fala sempre de uma presença de Deus ‘em Cristo’. Uma presença irreversível e insuperável. Não há um estado da vida espiritual em que se possa prescindir de Cristo, ou ir ‘além de Cristo’. A vida cristã é uma ‘vida recôndida com Cristo em Deus’. Esse cristocentrismo paulino não atenua o horizonte trinitário da fé, mas o exalta, porque para Paulo todo o movimento parte do Pai e retorna ao Pai, por meio do Espírito. A expressão ‘em Cristo’ tem o mesmo significado, em seus escritos, da expressão ‘no Espírito’.”

Em suma, concluiu Frei Cantalamessa, a presença do Ressuscitado é uma presença real junto a nós, porque em seu afirmar: “Estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”, “Cristo… se faz realmente nosso contemporâneo”. Mas além de colocar Cristo no centro da própria vida, o fiel deve dar outro passo:

“Essa é a conversão mais necessária para nós que seguimos Cristo e vivemos a seu serviço na Igreja. Uma conversão toda especial, que não consiste em abandonar o mal, mas, num certo sentido, em abandonar o bem! Isto é, no separar-se de tudo aquilo que se faz, repetindo a nós mesmos, como nos diz Jesus: ‘Somos servos inúteis; fizemos aquilo que devíamos fazer’. E talvez nem tão bem como deveríamos ter feito. Esse esvaziar-se de toda pretensão, em espírito de pobreza e humildade, é o modo melhor para preparar-nos para o Natal.”

Portanto, estar de mãos vazias é o modo para receber o dom de Cristo. (RL)







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