SECRETÁRIO DE ESTADO: "DIREITOS HUMANOS SÃO A EXPRESSÃO DA FACE DA PESSOA HUMANA"
Cidade do Vaticano, 10 dez (RV) - Sessenta anos atrás, em 10 de dezembro de
1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Para comemorar esta data, a Santa Sé organizou esta tarde, na Sala
Paulo VI, Ato comemorativo de reflexão e de estudo, com discursos, entre outros, do
cardeal secretário de estado, Tarcisio Bertone, e do diretor-geral da Organização
Mundial do Trabalho, Juan Samovia, na presença do príncipe Grão-Meste da Soberana
Ordem Militar de Malta, Fra Matthew Festing, e também do presidente italiano Giorgio
Napolitano
Em seu discurso, o Cardeal Bertone falou que a Declaração testemunha
uma esperança renovada, pois é uma tentativa de purificar a memória da família humana.
"Não estamos diante de uma proclamação", disse ele, mas de uma nova consideração e
colocação da dignidade humana por parte da comunidade internacional.
A Igreja
viu na Declaração um "sinal dos tempos", considerando-a "um passo importante no caminho
rumo à organização jurídica e política da comunidade mundial".
Para o Cardeal
Bertone, hoje estamos diante de um preocupante quadro global, que primeiramente é
o reflexo de estruturas econômicas não correspondentes ao valor do homem. Neste contexto,
os direitos basilares parecem depender de mecanismos anônimos sem controle e de uma
visão que se fecha no interesse do momento, esquecendo que a característica da família
humana é a solidariedade.
Mas o que provoca a negação dos direitos humanos?,
perguntou o cardeal. São as estruturas econômicas e suas recentes mudanças ou o abandono
da visão da pessoa? Para o purpurado, a pessoa hoje se tornou sempre mais um objeto
do agir econômico, que muitas vezes se reduz a reivindicar somente os direitos ligados
à sua função de consumidor e não de pessoa.
Os direitos humanos, recordou,
não são depósitos, que segundo os momentos históricos, culturais e políticos se preenchem
de significado. Pelo contrário, a causa principal da ineficácia e da violação dos
direitos do homem é justamente a ausência de valores aos quais vinculá-los.
"Somente
uma visão débil dos direitos humanos pode considerar que o ser humano é o resultado
dos seus direitos, não reconhecendo que os direitos permanecem um instrumento criado
pelo homem para dar plena realização à sua dignidade inata", recordou.
O cardeal
destacou ainda que não existe uma hierarquia entre os direitos humanos. Eles formam
um conjunto, são como um único direito: o direito de se tornar homem, ou como dizia
Paulo VI, de se tornar "mais homem". "Os direitos não se fundamentam por si só, mas
são a expressão da face da pessoa humana e de sua dignidade", concluiu. (BF)