IGREJA RECHAÇA CRÍTICAS SOBRE SUAS POSIÇÕES ACERCA DO HOMOSSEXUALISMO
Cidade do Vaticano, 10 dez (RV) - Os meios de comunicação apresentaram uma
imagem distorcida da posição da Igreja sobre os homossexuais, posição que se baseia
na rejeição de aceitar a equiparação do "pacto de convivência civil" ao "matrimônio"
entre pessoas do sexo oposto. Tal equiparação implicaria a possibilidade da adoção
de crianças.
Da mesma forma, a não assinatura, por parte da Santa Sé, da Convenção
da ONU em defesa dos portadores de deficiências, é motivada pelo desejo de defender
o nascituro e, portanto, uma rejeição ao que seria o "aborto seletivo".
Às
vésperas das celebrações pelos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
o jornal vaticano "L'Osservatore Romano", num artigo assinado por Lucetta Scaraffia,
afirma e confirma a posição da Igreja em relação aos direitos dos homossexuais e dos
portadores de deficiências.
"Em particular, os meios de comunicação _ lê-se
no "L'Osservatore Romano" _ não consideraram devidamente, na realidade, o texto da
proposta francesa sobre a homossexualidade. Apesar de breve, é um texto que facilmente
faz entender que a inserção de termos como "discriminação e preconceitos", ao lado
do elenco dos comportamentos que as Nações Unidas devem denunciar, elenco que é compartilhado
pela Santa Sé, e que comporta prisão ou detenção arbitrárias, pena de morte, tratamentos
cruéis, desumanos e degradantes _ tornava esse documento, de fato, um instrumento
para introduzir, no contexto dos direitos humanos a serem respeitados obrigatoriamente,
também o "matrimônio" entre pessoas do mesmo sexo, e conseqüentemente a adoção de
crianças ou a possibilidade de recorrer à procriação assistida."
O artigo
da proposta francesa está contido no ponto nº 5, que reza: "Estamos também preocupados
com o fato de que violências, prepotências, discriminações, exclusões, atitudes estigmáticas
e preconceitos sejam dirigidos contra algumas pessoas, em todos os países do mundo,
em razão de sua orientação sexual ou da identidade de gênero, e que essas práticas
causem danos à integridade e à dignidade das pessoas sujeitas a esses abusos."
De
fato, no artigo não se faz referência a "matrimônios" entre pessoas do mesmo sexo
nem à adoção de crianças por parte desses "casais".
Em diversos artigos da
proposta francesa se pede, ao invés, aos Estados, que combatam as violações dos direitos
humanos derivados da orientação sexual. Todavia, o texto da proposta francesa faz
referência, repetidamente, à chamada "identidade de gênero", conceito fortemente contestado
pela Santa Sé, uma vez que negaria a identidade sexual masculina e feminina estabelecida
pela lei natural, para inserir o princípio da orientação sexual como fator constitutivo
de um novo modo de definir os sujeitos que gozam dos direitos humanos universais.
Tanto
a edição de hoje do "L'Osservatore Romano" quanto o observador permanente da Santa
Sé na ONU, Dom Celestino Migliore, já haviam sublinhado que, nos termos "preconceitos"
e "discriminações" estavam, em todo caso, incluídas também as uniões entre pessoas
do mesmo sexo.
O "L'Osservatore Romano" explica que a proposta francesa tem
uma "formulação ambígua", que "deu ensejo à denúncia de uma presumível crueldade da
Igreja Católica para com um grupo considerado vulnerável, com uma acusação que se
soma a outras análogas, precedentemente elaboradas com precisão e difundidas nos últimos
anos".
O resultado foi o de "apresentar a Igreja Católica como uma instituição
impiedosa" diante da dor dos enfermos, que poderiam ser curados com o desenvolvimento
da pesquisa das células-tronco embrionárias, ou daqueles que dizem que gostariam de
ser libertados de seu sofrimento, através da eutanásia: a imagem de uma instituição
que apresenta somente rejeições.
"Trata-se naturalmente _ explica Lucetta Scaraffia
no seu artigo _ de hábeis manipulações que mascaram a verdade das intenções e os motivos
autênticos desses comportamentos, mas que prejudicam gravemente a imagem da Igreja
Católica, percebida cada vez mais pela opinião pública, como "dura" e "desprovida
de caridade, com a única finalidade de permanecer fiel a instâncias dogmáticas".
Por
essa sua posição, a Igreja Católica pagará um preço _ o de ser "no mundo, a única
instituição importante que se opõe, racionalmente, a práticas e procedimentos contrários
à dignidade de todos os seres humanos; a única que indica, incansavelmente, quais
são as verdadeiras vítimas: não apenas os homossexuais quando são discriminados, mas
também e, sobretudo, as crianças que estes queiram ou gostariam de ter; não apenas
as mulheres que abortam ou são obrigadas a abortar, mas também e, sobretudo, os fetos
privados da possibilidade de nascer; não somente os enfermos, mas também e, sobretudo,
os embriões "congelados" e "excedentes", cujo desenvolvimento vital é impedido". (SP/AF)