SANTA SÉ: DIANTE DE CRISE ALIMENTAR FAO APÓIE FAMÍLIA RURAL E AGRICULTURA NOS PAÍSES
POBRES
Roma, 27 nov (RV) - A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO), em seu processo de reforma recentemente anunciado, deverá apoiar a “função
impulsionadora da agricultura nos processos de desenvolvimento”, trabalhando ao lado
de Estados e governos para afrontar a difusa crise alimentar. Essa é a visão da Santa
Sé expressa por meio de seu observador permanente junto à agência da ONU, o arcebispo
Renato Volante, em pronunciamento feito dias atrás na 35ª sessão da Conferência da
FAO.
Num cenário mundial dominado, em muitas áreas pobres do planeta, pela
insegurança alimentar, o mundo rural deve ser particularmente levado em consideração
pela FAO e pelos países ricos. Seus programas de ajuda devem ser modulados de modo
a “propor um ordenado equilíbrio” entre sistemas de produção inovadores e qualidade
dos bens produzidos, garantindo assim tanto a segurança alimentar quanto a saúde das
pessoas e dos ecossistemas.
É a “visão ideal” proposta por Dom Volante aos
membros da FAO reunidos para a sessão especial da Conferência da agência, que à distância
de 63 anos de sua fundação aprovou dias atrás um plano de reforma de mais de 42 milhões
de dólares.
“Reformar a Fao significa hoje partilhar a idéia de que a luta
contra a fome é uma questão determinada por múltiplos fatores” _ observou o representante
vaticano. Todavia _ acrescentou _, as estratégias adotadas muitas vezes têm o defeito
da falta de uma “visão unitária” que “coloque no centro as exigências da pessoa”,
mas afrontando os problemas de modo setorial.
Desse modo, objetou o arcebispo
Volante, se acaba penalizando justamente o setor agrícola naquelas áreas onde “mais
se agravam a pobreza, o subdesenvolvimento e a desnutrição, bem como a degradação
ambiental” _ enfatizou.
Ademais _ precisou o prelado _, mesmo “conhecendo com
grande antecedência os dados da produção e da disponibilidade nutricional das várias
áreas” do planeta, aumentou o número de pessoas que padecem a fome.
E isso,
além de evidenciar em alguns posicionamentos a vontade de defender somente interresses
de parte _ quando não evidencia até mesmo posicionamentos de “indiferença” _, mostra
governos, estruturas, agentes internacionais” quase numa atitude de resignação “diante
da fome e da desnutrição” _ denunciou.
Dom Voltante exortou as autoridades
em todos os níveis à co-responsabilidade e à colaboração com a FAO, a fim de que esta
“possa continuar dispondo de recursos”, e lembrou à agência a sua razão de ser, ou
seja, uma “organização de pessoas a serviço de outras pessoas e de seus direitos fundamentais”.
O
arcebispo destacou as “duas principais questões” que _ disse ele _ “representam o
‘novo’ que irrompe” no mundo rural: a proteção dos ecossistemas agrícolas das insídias
das mudanças climáticas _ como a desertificação ou as enchentes _ e uma “séria reflexão”
sobre o papel crescente das “novas técnicas do trabalho agrícola”.
A delegação
da Santa Sé tem a “firme convicção de que a estrutura da FAO e os seus respectivos
compromissos” devem “ressaltar a função impulsionadora da agricultura nos processos
de desenvolvimento, promovendo, em primeiro lugar, não a simples capacidade administrativa,
mas critérios de gestão ponderados e iniciativas realmente funcionais às necessidades”
_ reiterou o prelado.
Tudo isso em prol da “família rural”, que do trabalho
agrícola obtém “alimento, trabalho e renda”, e que, sobretudo, deve poder ser considerada
como uma protagonista daquilo que lhe diz respeito, ou seja, “como sujeito econômico
capaz de manifestar uma direta participação nos processos de decisão e de escolhas
produtivas” _ concluiu o observador permanente da Santa Sé na FAO. (RL)