ENCONTRO DE BENTO XVI COM CATHOLICÓS ARMÊNIO: PAPA MANIFESTA PREOCUPAÇÃO PELAS PERSEGUIÇÕES
ANTICRISTÃS
Cidade do Vaticano, 24 nov (RV) - O Santo Padre recebeu em audiência, esta
manhã, no Vaticano, o chefe da Igreja armênia apostólica de Cilícia, o Catholicós
Aram I, acompanhado de uma delegação de bispos e arcebispos.
O diálogo entre
as várias confissões cristãs para a paz no mundo, a preocupada denúncia das perseguições
que atingem os cristãos no Oriente Médio e em outras partes da terra foram os temas
tocados pelo papa na referida audiência.
Antes do encontro no Vaticano, a delegação
se deteve em oração, na Cripta Vaticana, diante do túmulo de João Paulo II. Uma oração
comum, na Capela Redemptoris Mater da residência apostólica, concluiu a audiência.
Existe
um mundo ao qual os cristãos _ unidos pela oração e pela herança espiritual de fé
comum _ podem testemunhar valores de paz. E há um mundo que se volta contra os cristãos
justamente por causa de seus valores e de sua fé. Ambos os aspectos foram ressaltados
no encontro entre Bento XVI e o Catholicós armênio, Aram I.
O encontro teve
um forte caráter ecumênico. De fato, o pontífice deu grande ênfase à contribuição
dada nestes anos pela Sé de Cilícia e por seus delegados aos “positivos contatos”
mantidos entre as Igrejas ortodoxas orientais com a Igreja católica. Nesse sentido,
o papa fez os seguintes votos:
“Devemos ter confiança que o diálogo continuará
seguindo avante, vez que promete esclarecer questões teológicas que nos dividiram
no passado, mas que agora parecem abrir-se a um maior consenso. Estou confiante de
que o atual trabalho da Comissão Internacional _ dedicada ao tema: ‘A natureza, a
Constituição e a missão da Igreja’ _ permitirá a muitas das questões específicas do
nosso diálogo teológico encontrar o seu justo contexto e a resolução.”
Ademais,
Bento XVI afirmou que a “maior compreensão” e “o apreço pela tradição apostólica que
nós partilhamos contribuirá a um ainda mais eficaz testemunho comum de valores espirituais
e morais, sem os quais uma ordem social verdadeira, justa e humana não pode existir”.
Por
sua vez, também o chefe da Igreja armênia apostólica de Cilícia observou que não existe
outro caminho a não ser o do confronto respeitoso.
O Catholicós armênio citou
a Declaração comum subscrita junto com João Paulo II em janeiro de 1997:
“‘O
encontro constituiu uma ocasião privilegiada para orar e refletir juntos, para reiterar
o seu compromisso e o seu esforço comum pela unidade dos cristãos’, renovado e reforçado
com o poder do Espírito Santo. Nós continuamos a viagem ecumênica dos nossos predecessores.
Nós acreditamos que esse é o único caminho _ fortificados pelos mandamentos de amor
e unidade de nosso Senhor _ que deverá levar-nos a uma missão comum diante da necessidade
que o mundo inteiro tem da mensagem do Evangelho que dá vida.”
Em seguida,
o pontífice voltou seu olhar para as difíceis realidades vividas pelas populações
do Líbano e do Oriente Médio. Bento XVI disse rezar todos os dias pelas referidas
populações afirmando que acompanha as respectivas vicissitudes com ”profunda preocupação”,
porque _ ressaltou _ o repetir-se constante de “tensões e conflitos” “continua minando
todos os esforços voltados a promover a reconciliação e a paz em todos os níveis da
sociedade civil e na vida política e na região”:
“Recentemente ficamos muito
sentidos com o aumento da violência e da perseguição contra os cristãos em algumas
partes do Oriente Médio e em outros lugares. Somente quando os países envolvidos forem
capazes de determinar o seu próprio destino, as várias etnias e comunidades religiosas
aceitarem e respeitarem plenamente as outras, a paz será construída em sólidos fundamentos
de solidariedade, justiça e respeito pelos direitos legítimos das pessoas e dos povos.”
O
respeito por tais direitos, violados em tempos recentes, encontra-se também na base
do que o Santo Padre definiu como “indizíveis sofrimentos” vividos pelo povo armênio
durante o Séc. XX: sofrimentos iluminados pelo testemunho de mártires e santos que
ainda hoje _ afirmou o pontífice _ modelam a cultura dos armênios. Uma ferida que
não pode ser silenciada, disse, por sua vez, Aram I:
“As Igrejas, as religiões
e os Estados devem reconhecer todo genocídio, inclusive o dos armênios, e fazer o
possível para evitar novos genocídios, afirmando o direito de todos os povos à dignidade,
à liberdade e à autodeterminação.”
Precedentemente, as palavras do pontífice
e do Catholicós armênio tinham sido unidas em oração, as quais deram início à celebração
ecumênica no Vaticano. As palavras dos Salmos e do Evangelho em língua armênia se
alternaram até confluírem na bênção final, cuja leitura em duas vozes _ a do papa
e do Catholicós de Cilícia _ deu à celebração uma força muito mais que simbólica.
Aram
I encontrará novamente Bento XVI na próxima quarta-feira, na audiência geral, ao término
da qual manterá um colóquio com o cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone.
A
estada em Roma do chefe da Igreja armênia apostólica de Cilícia inclui outros momentos
significativos, tais como a visita à Basílica papal de São Paulo Fora dos Muros _
para uma liturgia ecumênica diante do túmulo do Apóstolo dos Gentios no âmbito do
Ano Paulino; e a participação na celebração das Vésperas com a Comunidade romana de
Santo Egidio, na Basílica de São Bartolomeu, na Ilha Tiberina, marcada também por
um momento de oração na Basílica de Santa Maria em Trastevere.
Aram I participará
também de um Ato acadêmico promovido pela Pontifícia Universidade Urbaniana, durante
o qual pronunciará uma lectio magistralis sobre o tema “Os desafios apresentados no
Oriente Médio à Cristandade”.
Por fim, na tarde da próxima quarta-feira o Chatolicós
de Cilícia concederá, na sede da nossa emissora, uma coletiva de imprensa. (RL)