BENTO XVI: CRISTÃOS E MUÇULMANOS DEVEM CONSTRUIR JUNTOS UM FUTURO DE PAZ
Cidade do Vaticano, 06 nov (RV) - O papa recebeu nesta quinta-feira, na Sala
Clementina, 60 participantes do Fórum católico-muçulmano, que se concluiu hoje no
Vaticano.
Em seu discurso, o papa partiu do tema do encontro "Amor a Deus,
Amor ao próximo: a dignidade da pessoa humana e respeito mútuo", extraído por sua
vez da carta que líderes muçulmanos escreveram um ano atrás aos cristãos. Este tema,
disse o papa, evidencia ainda mais claramente os fundamentos teológicos e espirituais
das respectivas religiões.
No caso dos cristãos, o ensinamento central é "Deus
é Amor", amor que se tornou visível e manifesto em Jesus Cristo. Ele doou a si mesmo
para restaurar a dignidade de cada pessoa humana e levá-la à salvação.
"Certamente,
católicos e muçulmanos têm visões diferentes em relação a Deus", afirmou o papa. Todavia,
juntos devemos mostrar que nos consideramos membros de uma única família: a família
que Deus amou. Deus pede para unir forças em prol das pessoas vítimas de doenças,
fome, pobreza, injustiça e violência.
Para os cristãos, o amor a Deus é inseparável
do amor ao próximo, do amor por todos os homens e mulheres, sem distinção de raça
ou de cultura. Esse serviço aos necessitados também pertence à tradição muçulmana.
"Devemos
trabalhar juntos na promoção do respeito da dignidade da pessoa humana e dos direitos
humanos fundamentais, mesmo que nossas visões antropológicas e teológicas justifiquem
isso de maneira diferente", explicou Bento XVI.
"Somente reconhecendo a centralidade
da pessoa humana e a dignidade de todo ser humano, respeitando e defendendo a vida
que é dom de Deus, e é sagrada para cristãos e muçulmanos, somente com base neste
reconhecimento podemos encontrar um terreno comum para construir um mundo mais fraterno",
continuou.
Um mundo no qual as diferenças sejam enfrentadas de modo pacífico
e o devastador poder das ideologias seja neutralizado: "Mais uma vez, a minha esperança
é que esses direitos humanos fundamentais sejam protegidos por todos e em todos os
lugares. Os líderes políticos e religiosos têm o dever de garantir o livre exercício
desses direitos no pleno respeito da liberdade de consciência e de religião de cada
um".
O papa definiu como "inaceitáveis e injustificáveis" a discriminação
e a violência que ainda hoje fiéis de várias religiões enfrentam em algumas regiões
do mundo. "Tudo isso é ainda mais grave e deplorável quando é feito em nome de Deus",
recordou.
"O nome de Deus pode ser somente um nome de paz e fraternidade, justiça
e amor. Nós somos chamados a demonstrar, com as nossas palavras e ainda mais com as
nossas ações, que a mensagem das nossas religiões é incansavelmente uma mensagem de
harmonia e de mútua compreensão."
Por fim, o papa fez votos para que iniciativas
como este Fórum criem mais espaços para o diálogo, a fim de superar incompreensões
e desentendimentos: "Devemos trabalhar para superar os preconceitos do passado e corrigir
as imagens muitas vezes distorcidas que temos um do outro. E que as reflexões que
emergiram deste encontro não fiquem limitadas a um grupo de especialistas, mas sejam
colocadas a serviço de todos". (BF)