Africa Ocidental, placa giratória da droga para a Europa
(29/10/2008) A ONU alertou esta terça-feira para o facto de cerca de um terço da
cocaína que se consome na Europa passar pela África Ocidental, salientando que o dinheiro
dos traficantes latino-americanos ameaça a segurança da região. No total, são pelo
menos 50 toneladas de cocaína que passam pela região anualmente em direcção à Europa,
sobretudo ao Reino Unido e a Espanha, transportadas desde a América Latina até África
em barcos e avionetas, indicou a Agência das Nações Unidas para a Droga e o Crime
(ANUDC) num relatório ontem divulgado. Aquela droga vale no mercado europeu cerca
de 1,6 mil milhões de euros, dinheiro que tem um poder de corrupção enorme numa região
com alguns dos países mais pobres do mundo. Se no passado o dinheiro dos diamantes
financiou sangrentas guerras civis em países da região como a Serra Leoa e a Libéria,
a cocaína poderá agora ocupar o lugar da pedra preciosa com a diferença que o volume
de dinheiro movido pela droga é muito maior e ultrapassa o orçamento de muitos Estados. A
ONU teme que um grande número das "crianças soldados" e jovens com experiência paramilitar
em algumas das dezenas de guerrilhas que existiram na região nos últimos 10 anos possam
ser tentados pelo dinheiro da droga. Além das enormes limitações materiais das autoridades,
"os fiscais e os juízes não possuem provas ou vontade de levar à justiça poderosos
delinquentes com poderosos amigos", diz o relatório. O responsável da ONU pediu
aos países da região uma maior cooperação, reforço da justiça e travar a corrupção
"que está a infiltrar as estruturas dos países", além de pedir assistência internacional
para parar os traficantes. "Os cartéis da droga na América Latina aproveitam-se
da África Ocidental porque os países da região são vulneráveis. Países pobres como
a Guiné-Bissau - que está na zona mais baixa do índice de desenvolvimento humano -
são incapazes de controlar as suas costas ou o seu espaço aéreo", afirma a ONU.