Cidade do Vaticano, 24 out (RV) - Índia, China, Paquistão, Indonésia e Coréia
do Norte, entre outros: esses são alguns dos países em que têm se verificado, mais
recentemente, numerosas perseguições aos cristãos, além das já conhecidas e consolidadas
formas de repressão.
O Relatório sobre a Liberdade Religiosa, divulgado nesta
quinta-feira, pela "Ajuda à Igreja que Sofre" (AIS) delineia um quadro preocupante,
que deixa apenas entrever alguns leves sinais de coexistência marcada pelo respeito
recíproco. A Índia é, sem sombra de dúvidas, o país que mais tem estado na ribalta,
em razão dos numerosos e reiterados ataques contra as igrejas e as comunidades cristãs.
Mas a realidade eclesial na Ásia não é feita apenas de sombras. Há aspectos
positivos, baseados, sobretudo, nos valores oferecidos pelo Evangelho. A Rádio Vaticano
ouviu o bispo de Nashik, na Índia, Dom Felix Anthony Machado...
Dom Felix
Anthony Machado:- "Atualmente, na Índia, a situação se acalmou, relativamente.
Há poucos casos de violência, nestes dias, mesmo porque estamos próximos das festas
hinduístas de Diwali. Sente-se, todavia, que os fundamentalistas não renunciaram à
campanha de ódio contra os cristãos. Eles continuam a semear esse ódio, criando um
pretexto diante da população, para preparar-se _ creio _ para as eleições do próximo
ano."
P. Em termos mediáticos, fala-se, sobretudo, das agressões contra
os cristãos. Mas existe também um aspecto menos conhecido, que é o da solidariedade
dos hinduístas para com os cristãos...
Dom Felix Anthony Machado:-
"Certamente. E é preciso sublinhar esse aspecto da solidariedade. A maioria permanece
solidária com os cristãos. Os meios de comunicação em inglês têm divulgado isso muito
bem, e mesmo alguns indianos têm escrito contra os ataques aos cristãos. Faço votos
de que agora, também os meios de comunicação nas línguas e dialetos locais falem contra
essa repressão. Alguns amigos que tenho nos meios de comunicação locais, me disseram
que estão sob pressão, por parte de alguns grupos, sendo impedidos de publicar o que
desejam. A minha conclusão é que não são exatamente os fiéis hinduístas que semeiam
o ódio contra os cristãos, mas grupos que instrumentalizam a religião."
P.
Nos últimos tempos, Bento XVI tem elevado numerosos apelos em favor da coexistência
pacífica e do respeito mútuo. Que efeito têm esses seus apelos na sociedade indiana?
Dom
Felix Anthony Machado:- "As palavras do papa são muito preciosas. Quem leva a
cabo esses ataques é uma minoria exígua _ nem mesmo 2% da população, a meu ver. Isso
significa que 98% está observando, para ver qual será a nossa reação, mesmo porque
conhecem muito bem o espírito do Evangelho. Portanto, quando o Santo Padre fala, ele
é ouvido muito atentamente, por muitas pessoas. Até mesmo aqueles 2% que atacam os
cristãos, conhecem o "poder" da palavra do papa e se sentem tocados por suas palavras.
O que quer dizer que mesmo estes escutam, mas não querem que o papa fale da mensagem
cristã do perdão, da reconciliação e do amor."
Sempre no contexto das agressões
contra os cristãos, na manhã desta sexta-feira, afrontando o público após dois meses
de silêncio, Ir. Meena Barwa, estuprada por fundamentalistas hinduístas no dia 25
de agosto passado, leu uma declaração, pedindo justiça.
Ir. Meena, de apenas
25 anos de idade, é uma das primeiras vítimas do ataque sistemático que vem sendo
perpetrado na Índia, de modo especial em Orissa, há mais de dois meses, contra as
comunidades cristãs.
Além de acusar seus estupradores, a jovem religiosa, denunciou
_ entre lágrimas e mostrando-se muito provada _ a conivência da polícia local com
os autores da agressão que sofreu. (AF)