Rangun, 11 out (RV) - “Mianmar não recebe a visita de um papa desde os tempos
de São Pedro”: brincando, o arcebispo de Rangun, o salesiano dom Charles Maung Bo,
abriu ontem seu pronunciamento no Sínodo convidando Bento XVI a ser o primeiro papa
na história a visitar o seu país.
Em seguida, dom Charles passou da ironia
ao drama e ilustrou a trágica situação que a ex-Birmânia teve que enfrentar recentemente,
com a passagem do ciclone Nargis, que deixou dois milhões de sem-teto. “Perdemos tudo,
mas não a esperança, que distribuímos em abundância” – disse o arcebispo. “As igrejas
se transformaram em acampamentos, onde celebrávamos uma única liturgia: o anúncio
da Palavra, através de nosso acompanhamento e da compartilha do pão, em forma de
assistência”.
Ainda no Sínodo, ontem, foi lançado um apelo para que se evitem
temas da atualidade política nas homilias. Durante o debate, um dos 253 padres sinodais
convidou seus irmãos à prudência ao enfrentar argumentos que podem dividir os fiéis,
e de modo especial, aconselhou a não abordarem questões políticas.
Entretanto,
em outros pronunciamentos, foi dito que a humanidade hoje está muito estressada, ou
é pobre ou rica demais para escutar. “As pessoas andam tão preocupadas que não são
capazes de ouvir; estão imersas em rumores contínuos e confusos, não têm mais ouvidos
nem para seus semelhantes e nem para a Palavra de Deus” – observou um delegado africano.
“A distração causada pela pobreza e as preocupações com as coisas essenciais
da vida, assim como a excessiva riqueza, dificultam até mesmo a escuta durante a missa”
– denunciaram.
Já um bispo sul-americano recordou que as pessoas vivem oprimidas
e dispersas, e isso torna difícil desenvolver a capacidade de escuta. “A prática da
escuta, em meio aos homens e mulheres de nosso tempo – disse – é da maior importância:
escutar a partir das necessidades e do sofrimento, assim como fazia Jesus Cristo”.
(CM)