2008-10-11 14:00:27

 
SINODO 2008 : As realidades locais nas intervenções dos padres sinodais


(11/10/2008) Chegou ao fim a primeira semana de trabalhos da XII assembleia geral ordinária do sínodo dos bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Uma semana dedicada quase inteiramente ás intervenções individuais dos delegados das varias conferencias episcopais, abordando os pontos que consideram mais pertinentes do documento base de discussão, o chamado instrumentum laboris ( o documento de trabalho).
Alguns padres sinodais falaram da evangelização em contextos como a Europa do leste, a Birmânia ou a Terra Santa: áreas geográficas marcadas por perseguições dos passados regimes totalitários, por catástrofes naturais e pelo conflito entre israelitas e palestinianos. Em particular foi salientado que os cristãos árabes têm dificuldades na leitura do Antigo Testamento por causa de interpretações politicas e ideológicas que pesam sobre ele. “Muitos cristãos árabes têm dificuldades em ler o Antigo Testamento, não pelas Palavras de Deus, mas devido às interpretações políticas e ideológicas”- disse o patriarca latino de Jerusalém Fouad Twal que finalizou a sua intervenção pedindo mais orações e peregrinos na Terra Santa “para testemunhar Jesus”.
De assinalar neste sentido a proposta avançada por Gregório III Laham, Patriarca de Antioquia dos Grego-Melquitas que sugeriu a organização de um fórum sobre a Palavra de Deus, no qual cristãos e muçulmanos se possam encontrar, discutir e meditar.
Na reflexão deste Patriarca a Palavra de Deus deve-se poder tornar Palavra para os outros, para a sociedade e para o mundo; o cristão vive a fé através da liturgia, centrada na Eucaristia. A mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia são inseparáveis. A Palavra de Deus é palavra de reconciliação. É por isso que no dia de Páscoa os fiéis (greco-melkitas) veneram o Evangeliário e o ícone da Ressurreição, antes de se darem uns aos outros o abraço da paz. Gostaria que pudéssemos partilhar a palavra de Deus. Não tenhamos medo dos versículos do Corão; e que os nossos irmãos muçulmanos não tenham medo do Evangelho e da Torah.
Presente também nas intervenções dos padres sinodais o tema da exegese bíblica: em particular foi reafirmada a necessidade de aproximar da Palavra de Deus as pessoas mais afastadas, favorecendo a tradução da Bíblia também em línguas com pouca difusão. Neste contexto foi anunciado que no próximo dia 14 será assinado um acordo entre a federação bíblica católica e as sociedades bíblicas para uma tradução e difusão do Livro Sagrado.
O cardeal Vinko Puljic, arcebispo de Sarajevo, na sua intervenção, focalizou o papel dos leigos na vida eclesial. Para o seu serviço, requerem-se “competências diversificadas e uma formação bíblica específica”. Para este purpurado, a catequese familiar é um “meio privilegiado para o encontro com Deus que fala ao homem”. Às famílias toca a responsabilidade de iniciar os filhos na Sagrada Escritura.O Arcebispo de Nagasaki, no Japão, D. Joseph Mitsuaki Takami afirmou que “somente a lectio divina não é suficiente. É importante conhecer as Palavras de Deus, relacioná-las com a nossa vida, partilhá-la e praticá-la ao longo de toda a nossa vida”. A forma como cada pessoa se deixa tocar e animar na sua vida cristã é uma questão que, segundo o bispo japonês “deve ser constantemente questionada”.
D. Takami pediu que Bento XVI “recomende a todos os cristãos a meditação e a partilha das Sagradas Escrituras, na Exortação Pós Sinodal. O Bispo pediu ainda a publicação de um livro explicativo “em detalhe, que aborde métodos actuais de como ler a Bíblia”.
Para o bispo de Torun, na Polónia, D. André Suski, é fundamental compreender a liturgia como lugar privilegiado da Palavra de Deus: a proclamação da Palavra, a meditação e o confronto comas muitas situações quotidianas – no âmbito da comunidade paroquial – dá início à comunidade eclesial, como afirmou João Paulo II na Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”. A paróquia tem motivações também teológicas, é comunidade eucarística.

Para o bispo auxiliar de Valparaiso (Chile), Santiago Silva, há que tomar em consideração três critérios para a leitura cristã da Bíblia, no contexto cultural de hoje: a sede de Deus; a identidade do cristão como filho de Deus, discípulo de Jesus e templo do Espírito; a nossa condição de “família de Deus” reunida para reconhecer essa condição e se preparar para a missão. Daqui a exigência de uma pastoral e de uma espiritualidade bíblica que favoreçam a experiência do amor de Deus.

D. Charles Soreng, bispo de Hazaribag (Índia) pôs em relevo a eficácia da Palavra de Deus na construção da comunidade e na realização da comunhão entre fiéios provenientes de culturas diversas, uma comunhão eucarística que se manifesta como testemunho e serviço.

Para responder às esperanças e aos desafios de hoje sem cair nos erros e perigos da chamada “teologia da libertação”, o bispo equatoriano de Ibarra, D. Júlio Teran faz uma série de observações: a reflexão teológica deve colocar-se no contexto da comunidade cristã de pertença; tal leitura comunitária da Escritura deve confrontar-se com os sinais de pecado e de graça que conformam o mundo globalizado e, no contexto da América Latina, deve prestar especial atenção aos pobres. Assim, a elaboração da reflexão teológica não terá dificuldade em se articular com a exegese científica, conforme as indicações do magistério. Ponto de convergência do trabalho dos teólogos é sempre a pessoa do Senhor da Igreja, o Jesus histórico que aparece nos Evangelhos e que é o próprio Cristo ressuscitado, realmente presente na Igreja através do mistério da Sua Páscoa.

“A homilia não é uma catequese, nem tão pouco uma meditação ou uma lição de exegética”, apontou na sua intervenção o Bispo de Terni e presidente da Federação Católica Bíblia, D. Vincenzo Paglia. “A homilia representa um momento em que devemos deixar a Palavra de Deus guiar-nos o coração”.
Recordando os vários debates que existem sobre a preparação das homilias, D. Paglia referiu não haver necessidade de “medos por se entregar a Bíblia aos fiéis”, referiu, sublinhando que “cada um deveria ter uma Bíblia pessoal para poder consultar e meditar regularmente”.
Vários outros bispos recordaram experiências e a relação entre os cristãos dos seus países e a Bíblia.
O Bispo de Kankan, na Guiné, D. Emmanuel Félémou indicou que a Igreja católica do seu país manifesta um especial interesse por este Sínodo. “Queremos que todos os agentes pastorais – catequistas, religiosos, padres, bispos – veiculem a mensagem que é importante ler a Bíblia e tirar, diariamente uma mensagem para o seu dia”.
“Todos os dias, nas famílias, a Bíblia deveria ser lida e meditada”, indicou o Bispo africano, reforçando que “os jovens precisam ouvir Jesus Cristo”. D. Emmanuel Félémou sublinhou que os bispos "têm o dever de acompanhar a formação".
Por sua vez, o Bispo Anthony Muheria, de Embu, no Quénia, afirmou que a forte presença dos evangélicos em África “que se vangloriam de decorar algumas passagens bíblicas, está a conduzir a uma tendência de mal entendidos no conhecimento sobre a Bíblia, gerando livres interpretações”.
Nesta sexta feira á tarde intervieram nos trabalhos sinodais dois delegados fraternos: o reverendo Gunnar Stalsett bispo emérito de Oslo, expoente da federação mundial luterana e o Reverendo Robert Welsh dos Discípulos de Cristo. NO centro das suas reflexões, a condenação do fundamentalismo religioso, o convite a todas as pessoas de fé a empenharem-se para se atingir os objectivos do milénio e o apelo a superar as divisões no interior do Corpo de Cristo.
E concluímos esta primeira parte dedicada aos trabalhos do Sínodo escutando o presidente da CNBB, conferencia nacional dos bispos do Brasil, o arcebispo de Mariana D. Geraldo Lyrio Rocha que já interveio na Aula Sinodal: fala-nos do grande impulso que vem da Palavra de Deus na acção evangelizadora da Igreja no Brasil. RealAudioMP3








All the contents on this site are copyrighted ©.