TERCEIRO DIA DE TRABALHOS DO SÍNODO DOS BISPOS É DEDICADO À DIFUSÃO DA BÍBLIA NO MUNDO
Cidade do Vaticano, 07 out (RV) - Hoje, terceiro dia do Sínodo dos Bispos,
que tem como tema "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja".
Pela manhã,
a XII Assembléia Geral ordinária teve as suas primeiras votações para a eleição dos
membros da Comissão para a Mensagem Final. Em seguida, teve início a discussão geral.
No intervalo dos trabalhos, Bento XVI recebeu os membros das "United Bible Societies",
cujo secretário-geral, o Rev. Miller Milloy, participa do Sínodo como convidado especial.
As
Sociedades Bíblicas Unidas presentearam ao pontífice uma versão poliglota das Sagradas
Escrituras. E por desejo do Santo Padre será doada uma cópia do volume a todos os
participantes da Assembléia, inclusive aos especialistas e aos que tomam parte como
ouvintes _ foi o que disse o secretário-geral do Sínodo, Dom Nikola Eterovic.
Os
trabalhos da manhã foram densos de reflexões. Entre as principais, a do decano do
Colégio cardinalício, Cardeal Angelo Sodano, que ressaltou a numerosa presença dos
purpurados no Sínodo: uma bela forma de integração e colaboração entre os dois organismos
chamados a ajudar o Pastor universal da Igreja, frisou ele.
Em muitas apresentações
o tema principal tem sido o da necessidade de encontrar novos instrumentos para a
difusão e a valorização das Sagradas Escrituras. Como fez o arcebispo de Camberra,
na Austrália, Dom Mark Coleridge, que sugeriu a formação de um Diretório Geral para
as homilias, a fim de que a pregação seja inspirada na experiência universal da Igreja,
sem deixar de lado os aspectos peculiares das Igrejas locais.
Por sua vez,
o presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, Cardeal Peter Erdö,
chamou a atenção para os perigos criados pelas publicações mais sensacionalistas do
que científicas, como o apócrifo Evangelho de Judas. Escritos que levam a confundir
fontes críveis e não críveis sobre a história de Jesus Cristo _ disse ele.
Por
outro lado, o secretário especial do Sínodo e arcebispo de Kinshasa, na República
Democrática do Congo, Dom Laurent Mosengwo Pasinya, centralizou seu pronunciamento
nos riscos representados pelas seitas. "A doutrina das seitas _ afirmou _ é geralmente
baseada numa interpretação fundamentalista das Sagradas Escrituras."
Portanto,
é necessário recorrer a critérios interpretativos estáveis, como a adesão à tradição
apostólica e a coerência com toda a Escritura. Critérios, concluiu o presidente dos
bispos congoleses, que protegem de uma interpretação fundamentalista e subjetiva da
Palavra de Deus.
E na parte da tarde de ontem, segunda-feira, os trabalhos
registraram a primeira das numerosas novidades introduzidas este ano, ou seja, os
cinco relatórios por continente sobre a realidade da Igreja no mundo.
Logo
depois tomou a palavra o rabino-chefe de Haifa, Shear-Yashuv Cohen, presente no Sínodo
como convidado especial. Tratou-se da primeira vez que um rabino _ um não-cristão
_ se dirigiu aos padres sinodais.
É um privilégio e uma honra: assim o rabino
Cohen definiu o convite a falar ao Sínodo dos Bispos. Um gesto significativo, disse
ele, um sinal de esperança e uma mensagem de paz para as gerações presentes e futuras.
"Vejo
no convite _ disse o rabino dirigindo-se aos padres sinodais _ uma declaração do fato
que os senhores continuam se referindo a nós como os seus 'Irmãos mais velhos". Em
seguida, o expoente judeu se deteve sobre o valor das Sagradas Escrituras, afirmando
que "a oração é a língua da alma a nós doada por Deus".
Por fim, o rabino recordou
a dor sofrida pelo povo judeu, em particular o Holocausto, chamando a atenção para
os riscos de um retorno do anti-semitismo.
Logo em seguida, o Cardeal Albert
Vanhoye deteve-se sobre a real possibilidade de diálogo entre judeus e cristãos, em
nome de um patrimônio comum:
"O diálogo permanece possível _ disse o purpurado
_ porque judeus e cristãos têm um patrimônio comum que os une, e é fortemente desejável,
para eliminar progressivamente de um lado e de outro, preconceitos e incompreensões,
para favorecer um melhor conhecimento do patrimônio comum e para reforçar as relações
recíprocas."
Mas os trabalhos da tarde de ontem foram iniciados com outra novidade,
ou seja, os relatórios sobre a realidade da Igreja nos cinco continentes. O fio condutor
entre os continentes foi o desafio da evangelização diante de um mundo que muda rapidamente.
Como se dá na África, onde o percentual de católicos gira em torno de 14%.
Foram
recordadas, em particular, as graves opressões, as limitações à liberdade e as perseguições
sofridas pelos cristãos na Ásia, sobretudo na Índia. Por fim, na esteira do discurso
pronunciado pelo papa no mês passado ao mundo da cultura, em Paris, a Europa foi chamada
em causa a fim de que olhe para o cristianismo como chave de leitura para compreender
a si mesma.
Os trabalhos em andamento foram retomados esta tarde com a continuação
da discussão geral e, no final, pronunciamentos livres. (RL)