BENTO XVI À ASSEMBLÉIA SINODAL: FALÊNCIA DOS GRANDES BANCOS DEMONSTRA PRECARIEDADE
DO DINHEIRO
Cidade do Vaticano, 06 out (RV) - Na abertura dos trabalhos da XII Assembléia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema "A Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja", iniciada na manhã desta segunda-feira, no Vaticano, Bento XVI sublinhou
que a Palavra de Deus é a "rocha" sobre a qual devemos fundar a nossa vida. "A falência
dos grandes bancos _ ressaltou _ demonstra a precariedade do dinheiro e da segurança
humana." Somente a Palavra de Deus dá à vida humana aquela "solidez" que não se
pode encontrar em nenhum outro âmbito, seja a carreira seja o dinheiro, como o demonstra
a atual crise financeira mundial. Esse foi um dos pensamentos centrais da meditação
com que Bento XVI inaugurou os trabalhos da assembléia sinodal, esta manhã. Ser
realista, para um fiel, significa inverter o sentido que, normalmente, se dá a essa
palavra. Significa optar por basear a própria existência na Palavra de Deus _ fortalecido
pela segurança que vem do Espírito Santo e, por isso mesmo, "estável como o céu e
até mesmo mais do que o céu" _ ou então optar pelas "seguranças" temporais, destinadas,
mais cedo ou mais tarde, a ruir como a areia nos alicerces da casa evocada por Jesus,
no seu célebre Discurso da Montanha. O salmo 118 deu ao papa a base para esta
sua reflexão que inaugurou os trabalhos sinodais. Falando sobre a "rocha" dos ensinamentos
da Bíblia e do seu efêmero contrário, o pontífice explicou o seu sentido, confrontando-o
com um dos cenários da atualidade internacional. "Sobre a areia constrói aquele
que constrói apenas sobre as coisas visíveis e tangíveis, sobre o sucesso, a carreira
e o dinheiro. Aparentemente _ ponderou o papa _essas são as verdadeiras realidades,
mas estamos vendo agora, com a falência dos grandes bancos, que esse dinheiro desaparece,
que se transforma em nada. Assim como todas as realidades que parecem ser a verdadeira
realidade com a qual contamos, são apenas realidades de segunda ordem. Quem constrói
a própria vida sobre essas realidades _ o que é material, o sucesso e tudo aquilo
que é tangível _ constrói sobre a areia." Acerca da Palavra de Deus, ao invés,
o Santo Padre asseverou que ela "é a verdadeira realidade sobre a qual basear a própria
vida... Recordemo-nos da Palavra de Jesus, que continua essa palavra do Salmo: "O
céu e a terra passarão, mas as minhas Palavras não passarão." Humanamente falando,
a palavra, a nossa palavra humana é quase um nada, um hálito que, apenas pronunciado,
desaparece: parece ser nada. Mas mesmo assim, as palavras humanas têm uma força incrível:
são elas que criam a história. E ainda mais a Palavra de Deus, que é fundamento de
tudo: é a verdadeira realidade." "Devemos mudar o nosso conceito de realismo" _
insistiu Bento XVI. Para sermos realistas _ acrescentou _ devemos "mudar a nossa idéia"
de que a matéria e as coisas sólidas, passíveis de serem tocadas, "representem a realidade
mais sólida e mais segura". "Realista _ observou o pontífice _ é quem reconhece
na Palavra de Deus o fundamento de tudo. Realista é quem constrói a própria vida sobre
esse alicerce que permanece inalterável." Em seguida, comentando os demais versículos
do Salmo, o papa falou também do "risco" que o homem _ como ser finito e limitado
_ não consiga encontrar nas palavras, "a" Palavra de Deus. "Este é um grande perigo
que corremos _ advertiu Bento XVI _ até mesmo na nossa leitura das Sagradas Escrituras:
que pensemos que se trate apenas de uma história do passado e não descubramos o presente
no passado; não entremos no movimento interior da Palavra que, nas palavras humanas
esconde e descortina as Palavras divinas. Por isso, devemos estar em busca da Palavra.
Mesmo a exegese, a verdadeira leitura da Sagrada Escritura, não é, absolutamente,
um fenômeno literário, a leitura de um texto, mas é mover-se em direção da Palavra
de Deus." Trata-se _ concluiu Bento XVI _ de uma espécie de "escada" para subir
das palavras humanas è Palavra de Deus, e para descer nas suas profundidades. Também
a história da salvação _ observou _ "não é um pequeno incidente que se inscreve num
pobre planeta, na imensidade do universo". "Não é uma realidade mínima que, por acaso,
aconteceu num planeta perdido, mas sim o móvel, o motivo de tudo, e tudo foi criado
para que se realize a história do encontro entre Deus e a sua criatura." A Igreja,
com o seu apostolado, trabalha incessantemente, para que esse encontra aconteça em
todos os tempos. Nesse sentido, o Santo Padre arrematou: "O anúncio do Evangelho
e a missão não são uma espécie de colonialismo eclesial, no sentido que se quer inserir
outros no nosso grupo. Isso não! Mas é um sair dos limites das culturas singularmente
consideradas, para entrar na universalidade que interliga todos, que une todos, que
nos torna todos irmãos. Rezemos para que o Senhor nos ajude a entrar realmente na
imensidão da sua Palavra e, assim, possamos abrir um horizonte universal à humanidade." Como
disse Bento XVI, os cristãos correm o risco de não saberem perceber, entre os rumores
e as palavras do mundo, o som da Palavra de Deus. Mas como evitar que isso possa acontecer?
Algumas sugestões práticas do Cardeal Albert Vanhoye... Cardeal Albert Vanhoye:-
"A Palavra de Deus é realmente essencial, porém, às vezes, não se tem contato
suficiente com ela. Então, eu diria que seria ótimo que os cristãos mantivessem um
contato pessoal com as Sagradas Escrituras; que muitos cristãos começassem a meditar
um pouco, todos os dias, por dez minutos por exemplo, sobre uma passagem das Sagradas
Escrituras, buscando compreender o que significa, o que sugere para a sua própria
vida. Por outro lado, é muito importante também que os pregadores sejam bons conhecedores
da Bíblia e possam, assim, introduzir os cristãos ao conhecimento mais vivo e mais
completo da Bíblia." (AF)