BENTO XVI NO QUIRINAL REIVINDICA GARANTIA DA PLENA LIBERDADE RELIGIOSA NO MUNDO
Roma, 04 out (RV) - Em visita ao Quirinal _ o palácio presidencial da Itália
_ Bento XVI reafirma o desejo da Igreja de colaborar para o bem comum no país, no
respeito pela soberania italiana e vaticana.
No final da manhã deste sábado,
o pontífice deixou o Vaticano com destino ao palácio presidencial italiano _ o Quirinal,
antiga residência dos papas _ para uma visita oficial ao Presidente Giorgio Napolitano.
A
Igreja jamais deixará faltar o amparo ao bem comum da Itália, não obstante as dificuldades
econômicas e sociais do momento. Mas a Igreja espera, por sua vez, respeito por sua
ação pastoral, sem por isso, reivindicar privilégios nem lesar a liberdade de quem
quer que seja. Esse foi, em síntese, o teor do discurso de Bento XVI durante a visita
que fez ao presidente da Itália, ocasião em que reafirmou a importância da colaboração
entre a Santa Sé e o Estado italiano, no reconhecimento da legítima soberania de ambos.
Ao
atravessar pela segunda vez os umbrais do palácio presidencial italiano _ a primeira
vez foi no dia 24 de junho de 2005, ocasião em que foi recebido pelo então Presidente
Carlo Azeglio Ciampi _ o pontífice recordou que o local já fora _ numa época não tão
distante _ palco de tantas felizes, mas também tristes, páginas da história do papado.
Bento XVI lembrou a chamada "questão romana", entre 1879 e 1929, quando a Itália desejava
estabelecer um único Estado, englobando o Estado da Cidade do Vaticano, enquanto a
Santa Sé estava preocupada em manter a própria independência, a fim de garantir a
missão universal da Igreja.
"Esta minha visita é uma confirmação de que as
colinas do Quirinal e do Vaticano não se ignoram ou se afrontam com rancor; são, ao
invés _ ponderou o papa _ lugares que simbolizam o mútuo respeito pela soberania
do Estado e da Igreja, prontos a colaborar para promover e servir o bem integral da
pessoa humana e o pacífico desenvolvimento da convivência social."
Acompanhado,
entre outros, pelo cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e pelo cardeal
vigário do papa para a diocese de Roma, Agostino Vallini, Bento XVI chegou ao Quirinal
por volta das 11h, depois de um sugestivo percurso pelas ruas de Roma _ que passara
em poucos momentos, de um ameno clima outonal, com sol brilhante, para uma chuva de
granizos, com a brusca queda da temperatura.
Escoltado por policiais em motocicleta
até a famosa Praça Veneza, o papa foi saudado pelo prefeito de Roma, Gianni Alemanno.
A seguir, o cortejo prosseguiu rumo ao Quirinal, escoltado por policiais a cavalo,
em traje de gala. Na torre do palácio presidencial, a bandeira vaticana tremulava
ao lado da tricolor italiana.
Após as honras militares e a saudação às autoridades
institucionais reunidas no Salão das Tapeçarias, o Presidente Napolitano e Bento XVI
conversaram a sós, por mais de meia hora. A seguir, foram feitos os discursos oficiais,
no Salão de Festas.
Tomando como ponto de partida São Francisco, cuja memória
litúrgica se celebra hoje, Bento XVI observou que na figura desse santo, que atrai
a devoção dos fiéis assim como daqueles que não crêem, podemos perceber a imagem da
perene missão da Igreja, em seu relacionamento com a sociedade civil.
"A Igreja
na época atual, de profundas e sofridas mutações _ observou o Santo Padre _ continua
a propor a todos a mensagem de salvação do Evangelho, e se empenha a contribuir para
a edificação de uma sociedade fundada na verdade e na liberdade, no respeito à vida
e à dignidade humana, na justiça e na solidariedade social."
"Para levar a
termo essa sua missão _ ressaltou Bento XVI _ a Igreja em todas as partes e sempre,
deve poder gozar do direito da liberdade religiosa, considerado em toda a sua amplitude.
Falando à Assembléia das Nações Unidas, que este ano celebra os 60 anos da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, fiz questão de reafirmar que "não se pode limitar
a plena garantia da liberdade religiosa e do livre exercício do culto; ao contrário,
deve ser tida na justa consideração, a dimensão pública da religião e, portanto, a
possibilidade de os fiéis fazerem a sua parte na construção da ordem social"."
Para
fazer isso, todavia, "a Igreja não mira o poder nem pretende privilegiar ou aspirar
a posições de vantagem econômica e social" _ repetiu Bento XVI, com as mesmas palavras
proferidas no ano passado, tocando um dos pontos mais delicados das relações entre
os católicos e a sociedade civil.
"Não há razão de temer _ sublinhou o pontífice
_ que a Igreja e seus membros faltem com o cumprimento de seus deveres em detrimento
da liberdade. Mas a Igreja e seus membros esperam que lhes seja reconhecida a liberdade
de não trair a própria consciência iluminada pelo Evangelho."
Por parte da
Igreja, o pontífice assegurou: "Os pastores e os fiéis continuarão a dar sua importante
contribuição para construir, mesmo nestes momentos de incerteza econômica e social,
o bem comum do país, assim como da Europa e de toda a família humana, com particular
atenção aos pobres e marginalizados, aos jovens em busca de emprego e aos que estão
desempregados, às famílias e aos anciãos que, com dificuldade e empenho, construíram
o nosso presente e, por isso mesmo, merecem a gratidão de todos."
Em sua saudação
ao papa, o Presidente Napolitano falara de "sintonia" com a visão de Bento XVI sobre
a necessidade de construir um progresso humano e civil, no "respeito à dignidade humana
em todas as suas formas, e em todos os lugares", condenando as novas manifestações
de discriminação racial que vêm ocorrendo em diversos países.
Essa foi a
sétima vez _ desde 1939 _ que um presidente da República Italiana recebeu no Quirinal,
um pontífice romano.
O Presidente Napolitano, por sua vez, foi hóspede do
pontífice, no Vaticano, no dia 20 de novembro de 2006, cinco meses depois de ter sido
eleito como chefe de Estado. (AF)