O dever de proteger não seja pretexto para expansões e agressões;está em causa a credibilidade
das Nações Unidas
(1/10/2008) O conceito de protecção das populações foi usado demasiadas vezes como
um pretexto para expansões e agressões e as Nações Unidas devem vigiar para que isto
não se verifique: está em causa a sua credibilidade. Foi o que afirmou o representante
da Santa Sé , D. Celestino Migliore falando perante a 63 assembleia da ONU. Enumerando
as principais crises enfrentadas no ultimo ano pela organização e o seu papel de caixa
de ressonância de respostas coerentes e partilhadas, o arcebispo Celestino Migliore
observou que demasiadas vezes as crises internacionais foram devidas a respostas
atrasadas, falências ou á relutância da parte dos lideres de assumir as suas responsabilidade
de proteger as suas populações. Recordando o discurso de Bento XVI à Assembleia
geral das Nações Unidas no mês de Abril passado, o prelado disse que «a responsabilidade
de oferecer protecção serviu e deve continuar a servir como princípio compartilhado
por todas as nações para o governo das suas populações e para regulamentar as relações
entre os povos». Estes pronunciamentos, declarou, «confirmam que o bom governo
não deveria ser avaliado simplesmente no contexto de ‘Estado de direito’ ou de ‘soberania’,
mas sim pela capacidade dos seus líderes de cuidar daqueles que lhes foram confiados
com a grave responsabilidade de guiá-los moralmente». «Apesar do crescente consenso
sobre a responsabilidade de oferecer protecção como meio para uma maior cooperação,
este princípio continua a ser invocado como pretexto para utilizar arbitrariamente
a força militar», denunciou. «Esta distorção continua com métodos e ideias que
fracassaram no passado. O uso da violência para resolver as divergências é sempre
um fracasso de visão e um fracasso de humanidade. A responsabilidade de oferecer protecção
não deverá ser concebida simplesmente em termos de intervenção militar, mas antes
de mais como a necessidade para a comunidade internacional de unir-se para enfrentar
as crises, buscando meios para conseguir limpas e abertas negociações, para apoiar
a força moral da lei e buscar o bem comum». «A falta de acção comum para proteger
as populações em risco e para prevenir intervenções militares arbitrárias debilitaria
a autoridade moral e prática» das Nações Unidas, advertiu. «A Organização das Nações
Unidas não foi criada para ser um governo global, mas sim o produto da vontade política
dos seus diferentes Estados membros», explicou. «As crianças órfãs por causa do
HIV, os jovens vendidos ou reduzidos à escravidão, os que acordam cada manhã sem saber
se hoje serão perseguidos pela sua fé ou pela cor da sua pele continuam a pedir uma
instituição e líderes que acompanhem as palavras com acções, compromissos e resultados»,
assegurou o arcebispo Celestino Migliore. «Estas vozes, frequentemente ignoradas,
devem ser escutadas para que possamos superar as divisões políticas, geográficas e
históricas e criar uma organização que seja o reflexo das nossas melhores intenções
e não dos nossos fracassos», concluiu.