Nova York, 23 set (RV) - O núncio apostólico e observador permanente da Santa
Sé na ONU, Arcebispo Celestino Migliore, proferiu um discurso na sessão da Assembléia
Geral da ONU, dedicada à África.
Dom Celestino recordou que, há 60 anos, a
África tem representado um desafio à capacidade da ONU de cumprir o ideal de paz e
prosperidade para todos, como consta em seu estatuto. Mas a história recente pôde
comprovar que os governos africanos são capazes de harmonizar seus interesses e necessidades
locais, a grande diversidade cultural e os desafios geográficos e climáticos com respostas
comuns aos sérios problemas que afetam, indistintamente, todos os países do continente.
Os êxitos obtidos na consolidação da independência, a superação dos conflitos
ideológicos do século XX, a abolição do "apartheid" e, recentemente, o fortalecimento
da União Africana e de outras estruturas de cooperação são sinais de esperança para
o potencial da África.
"Agora _ disse o observador da Santa Sé _ é hora de
encorajar o sentido africano de pertença, apoiando o processo de desenvolvimento que
pode libertar a África da angústia da pobreza extrema."
Para Dom Celestino
Migliore, o relatório do secretário-geral, que faz um apelo em favor de ações concretas,
é uma declaração política que deve servir como guia efetivo, para colocar em prática
as aspirações do continente.
Com suas riquezas humanas e diversidades climáticas
e culturais, a África e seu desenvolvimento são uma grande oportunidade para todo
o mundo. A África é o mais jovem dos continentes, com 60% da população abaixo dos
25 anos de idade. Em alguns países africanos, o crescimento foi igual ou por vezes
maior do que em nações desenvolvidas, o que indica também que os métodos de governo
estão melhorando.
Esse crescimento, porém, não foi suficiente para libertar
grandes segmentos da população africana da pobreza e a expectativa de vida média permanece
uma das mais baixas do mundo.
"Obviamente _ concluiu o arcebispo _ há ainda
muito que fazer para melhorar as condições de saúde do povo africano."
O núncio
esclareceu aos líderes mundiais que é um privilegio poder ilustrar as experiências
das comunidades da Igreja católica presentes no continente, inclusive em seus ângulos
mais remotos, dividindo responsabilidades, alegrias e conquistas de muitos africanos.
Na luta contra o HIV/AIDS, assim como nos campos da educação e saúde, a Igreja
católica permanece na vanguarda, seja em termos de extensão da obra de solidariedade,
seja na qualidade de seus programas.
Fortalecida por essa experiência, a Santa
Sé encoraja os participantes da cúpula a prosseguirem seus esforços de adaptar programas
de desenvolvimento à realidade da África, e a firmarem parcerias autênticas, nas quais
os países africanos não sejam simples receptores de idéias e programas de ajuda externos,
mas verdadeiros protagonistas de seu desenvolvimento.
A Santa Sé indica dois
caminhos para combinar metas econômicas, comerciais e ambientais na África: em primeiro
lugar, a criação de empregos produtivos para os jovens nas cidades; e em segundo,
a promoção e investimento em fazendas familiares, que produzam alimentos para a população
rural e urbana e sejam fonte de comércio.
As culturas africanas têm um forte
senso de solidariedade e de vida comum, e esse precioso patrimônio é um dom no qual
os governos e sociedades africanas devem se basear, para obter resultados efetivos.
Ao mesmo tempo, preservar a família africana e sua identidade cultural deve ser o
objetivo principal de todo plano de desenvolvimento.
Dom Celestino Migliore
concluiu seu discurso com a esperança de que este encontro seja mais um passo no caminho
da co-responsabilidade, para atingir tais objetivos. (CM)