Cidade do Vaticano, 22 set (RV) - Começou hoje em Lourdes uma peregrinação
de bispos anglicanos da Igreja da Inglaterra e de cerca de 400 fiéis leigos, organizada
pela “Society of Mary”, no âmbito da “Missão da Igreja em prol da unidade”, uma das
doze missões jubilares de Lourdes, por ocasião dos 150 anos das Aparições. Participam
da peregrinação o arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, primaz da Comunhão anglicana,
e o cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade
dos Cristãos. A Rádio Vaticano entrevistou o Cardeal Kasper sobre esta experiência
ecumênica significativa: Cardeal Kasper: “É a primeira vez que um grupo integrado
por anglicanos e católicos da Inglaterra faz uma peregrinação a Lourdes. E poder-se-ia
dizer que este acontecimento foi como que ‘milagroso’, precisamente como Lourdes mesma
é conhecida pelos seus milagres. Para mim, isto é realmente muito significativo: trata-se
de um evento espiritual e não teológico, mas é verdade também que a espiritualidade
é o centro, o coração do ecumenismo”. P. – Cardeal Kasper, na recente conferência
de Lambeth, o senhor abordou os novos problemas no diálogo anglicano-católico, referindo-se
principalmente à decisão da Igreja da Inglaterra de prosseguir com a ordenação de
mulheres bispos. Como podemos ver este “milagre de Lourdes”, como o senhor mesmo falou,
ao lado da persistência destes problemas sérios? Cardeal Kasper: “Nós estamos
obviamente decididos a continuar o diálogo, mas o diálogo tem outro caráter agora.
Queremos, em todo o caso, continuar este diálogo espiritual, que é também ele um passo
espiritual. O fato de muitos anglicanos virem a Lourdes significa que são muitos os
anglicanos que se sentem próximos à Igreja católica e à devoção mariana. Para nós,
é este um sinal muito positivo e tentaremos apoiar e encorajar estas tendências que
existem na Igreja anglicana. A peregrinação é certamente um passo nesse rumo; é também
significativo que o próprio arcebispo de Cantuária esteja presente. Dois ou três anos
atrás, publicamos um documento comum, o último da Comissão internacional entre a Igreja
católica e a Comunhão anglicana, precisamente sobre Nossa Senhora, “Maria, graça e
esperança”. É um documento muito positivo porque mostra um acordo - certamente não
um acordo pleno, mas de alto grau de unidade – concernente a Nossa Senhora. Isto é
muito significativo precisamente porque no passado eram muito divergentes as posições
sobre a devoção mariana”. P. – O senhor fala agora de um diálogo diferente
em relação ao passado. O que pode significar isto nos próximos meses? Cardeal
Kasper: “Não posso responder concretamente a esta pergunta, porque tem uma comissão
informal que discute estas coisas e não temos ainda os resultados desta discussão.
Há porém duas coisas importante relativas a isto: em primeiro lugar, devemos compreender
quem participa deste diálogo, porque são muitas as tendências do anglicanismo hoje
e devemos, portanto, entender se a Igreja episcopaliana americana fará parte deste
diálogo ou não, porque isto é um ponto importante; em segundo lugar, é necessário
compreender qual é a finalidade deste diálogo porque até agora a meta era a de tender
à unidade plena, mas agora que existem bispos mulheres isto é difícil e talvez até
impossível. É necessário, então, refletir sobre as finalidades concretas deste diálogo
e é precisamente sobre isto que queremos refletir e tomar decisões nos próximos meses”.
(PL)