MEDITAÇÃO DE BENTO XVI APÓS A PROCISSÃO EUCARÍSTICA (TEXTO INTEGRAL)
Lourdes, 14 set (RV) - Senhor Jesus, você está aqui! E vocês, meus irmãos,
minhas irmãs, meus amigos, vocês também estão aqui, comigo, diante d’Ele!
Senhor,
dois mil anos atrás, você aceitou ser elevado em uma cruz de infâmias, para depois
ressuscitar e permanecer sempre conosco, seus irmãos e suas irmãs. E vocês, meus
irmãos, minhas irmãs, meus amigos, Vocês aceitam deixar-se conquistar por Ele.
Nos
O contemplamos! Nós O adoramos! Nós O amamos! E tentamos amá-Lo ainda mais.
Nós
contemplamos Aquele que, durante a ceia pascal, doou seu Corpo e seu Sangue aos discípulos,
para estar com eles “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Nós adoramos
Aquele que está no início e no fim de nossa fé, Aquele sem o qual não estaríamos aqui
esta noite. Aquele sem o qual nós não existiríamos. Aquele sem o qual nada existiria,
nada, absolutamente nada! Ele, por meio do qual, “tudo foi feito” (Jo 1,3), Ele no
qual fomos criados, para a eternidade, Ele que nos doou seu Corpo e seu Sangue, Ele
está aqui, esta noite, diante de nós, oferecido a nossos olhos.
Nós amamos
– e tentamos amar sempre mais – Aquele que está aqui, diante de nós, oferecido a nossos
olhos, às nossas questões a nosso amor. Seja que caminhemos ou que estejamos presos
em um leito de dor (caminhemos na alegria ou estejamos no deserto da alma). Senhor
acolha-nos todos em seu Amor: no amor infinito, que é eternamente o de Pai para Filho,
e do Filho para o Pai, o do Pai e do Filho pelo Espírito Santo e do Espírito pelo
Pai e pelo Filho.
A Hóstia Santa, exposta a nossos olhos, manifesta esta força
infinita do Amor manifestada na Cruz gloriosa. A Hóstia Santa nos diz a incrível humilhação
d’Aquele que se fez pobre para fazer-nos ricos d’Ele, Aquele que aceitou perder tudo
para ganhar ao Seu Pai. A Hóstia Santa é o Sacramento vivo e eficaz da presença eterna
do Salvador dos homens à Sua Igreja.
Irmãos meus, irmãs, meus amigos,
Aceitamos,
aceitem, oferecer-se Àquele que nos doou tudo, que não veio para julgar o mundo, mas
para salvá-lo. Aceitem reconhecer em suas vidas a presença ativa d’Aquele que está
aqui presente, exposto a nossos olhos. Aceitem oferecer-Lhe suas próprias vidas!
Maria,
a Virgem santa, Maria, a Imaculada Conceição, aceitou, dois mil anos atrás, doar tudo,
oferecer seu corpo para acolher o corpo do Criador. Tudo veio de Cristo, inclusive
Maria; tudo veio mediante Maria, o próprio Cristo.
Maria, a Virgem santa,
está aqui conosco esta noite, diante do Corpo de seu Filho, cento e cinqüenta anos
depois de ter se revelado à pequena Bernadette.
Virgem santa, ajuda-nos a contemplar,
ajuda=nos a adorar, ajuda-nos a amar, a amar mais Aquele que tanto nos amo, para vivermos
eternamente com Ele.
Uma imensa multidão de testemunhas está presente de modo
invisível ao nosso lado, próxima desta gruta abençoada e diante desta Igreja desejada
pela Virgem Maria.
A multidão de todos os homens e mulheres que passaram horas
adorando-O no Santíssimo Sacramento do altar.
Esta noite não os vemos, mas
os ouvimos dizer a cada um e cada uma de nós: Venham, deixa-te atrair pelo Mestre!
É Ele que está te chamando! (Jô 11,28). Ele quer pegar a tua vida e uni-la à Sua.
Deixa-te levar por Ele. Não olhe mais às tuas feridas, mas às suas. Não olhe para
aquilo que ainda te separa d”Ele e dos outros; olhe para a infinita distância que
Ele desfez ao assumir a tua carne, ao subir à Cruz que os homens Lhe prepararam e
ao deixar-se conduzir à morte para demonstrar-te o seu amor. Em suas feridas Ele te
acolhe; em suas feridas, Ele te esconde. Não te negue a seu amor!”.
A imensa
multidão de testemunhas que se deixou invadir por seu amor é a multidão de santos
do céu, que não cessam de interceder por nós. Eram pecadores e o sabiam; mas aceitaram
não olhar para suas feridas, não olhar senão para as feridas de seu Senhor, para descobrir
a glória da Cruz, para descobrir a vitória da Vida sobre a morte. São pedro Julião
Eymard nos diz tudo, quando exclama: “A Santa Eucaristia é Jesus Cristo passado, presente
e futuro”.
Jesus Cristo passado, na verdade histórica da noite no cenáculo,
onde nos conduz em toda celebração da Santa Missa.
Jesus Cristo presente, porque
Ele nos diz: tomai e comei todos vós, este é o meu corpo, este é o meu sangue”. Este
‘é’, no presente, aqui e agora, como em todos “aqui e agora” da história humana.
Presença real, presença que supera nossos pobres lábios, nossos pobres corações, nossos
pobres pensamentos. Presença oferecida aos nossos olhares, esta noite, junto a esta
gruta onde Maria se revelou como Imaculada Conceição.
A Eucaristia é também
Jesus Cristo futuro, o Jesus Cristo que vem. Quando contemplamos a Hóstia Santa, o
seu corpo de glória transfigurado e ressuscitado, contemplamos aquilo que contemplaremos
na eternidade, descobrindo o mundo inteiro, sustentado em seu criador em todo instante
de sua história. Cada vez que nos alimentamos, mas também cada vez que o contemplamos,
nós o anunciamos até que Ele retorne: ‘donec veniat’. Justamente por isso, nós o recebemos
com infinito respeito.
Alguns entre nós não podem ainda recebê-LO no Sacramento,
mas podem contemplá-LO com fé e amor, e expressar o desejo de poderem finalmente unir-se
a Ele. É um desejo que tem grande valor diante de Deus: eles aguardam com ainda mais
ardor o seu retorno; aguardam Jesus Cristo que deve chegar.
Quando uma amiga
de Bernadette, no dia seguinte à sua primeira comunhão, perguntou-lhe: “Do que você
ficou mais feliz: da primeira comunhão ou das aparições?”, Bernadette respondeu: “São
duas coisas que caminham juntas, não podem ser comparadas. Fiquei feliz pelas duas”
(Emmanuélite Estrade, 4 junho 1958). Seu pároco testemunhou ao Bispo de Tarbes sobre
sua primeira comunhão: “Bernadette se comportou com grande recolhimento, com uma atenção
que não deixava nada a desejar... Parecia profundamente consciente da ação santa que
estava realizando. Tudo nela acontece de modo surpreendente”.
Com Pedro Julião
Eymard e com Bernadette, nós invocamos o testemunho de tantos e tantos santos e santas
que tiveram pela Eucaristia o maior amor. Nicolas Cabasilas exclama e nos diz, esta
noite: “Se Cristo habita em nós, do que precisamos mais? O que nos falta? Se permanecermos
em Cristo, o que mais podemos desejar? Ele é o nosso hospede e nossa moradia. Bem-aventurados
aqueles que como nós, somos a sua moradia! Que alegria sermos nós a morada de um
tal Inquilino!” (La vie en Jésus-Christ, IV, 6).
O Beato Charles de Foucauld
nasceu em 1858, mesmo ano das aparições de Lourdes. Não muito longe de seu corpo,
rígido pela morte, foi encontrada, como a semente de trigo jogada no chão, uma ‘luneta’
que continha o Santíssimo Sacramento, que irmão Carlo adorava todos os dias, por longas
horas. O Pe. de Foucauld nos confia a oração que brotou do profundo de seu coração,
uma oração dirigida ao Pai celeste, mas que, com Jesus, podemos fazer realmente nossa,
diante da Hóstia Santa:
«Meu Pai, confio meu espírito às suas mãos. É
a última oração de nosso Mestre, de nosso Predileto... Que possa se tornar nossa,
e que não seja apenas a de nosso último instante, mas de todos os nossos instantes:
“Meu Pai, coloco-me em Suas mãos; Meu Pai, entrego-me a você: Pai meu, abandono-me
a você; Pai meu, faça de mim o que quiser: qualquer coisa que fizer. Lhe agradeço;
obrigado por tudo; estou pronto para tudo; aceito tudo; agradeço a você por tudo.
Visto que Sua vontade se realiza em mim, oh meu Deus, visto que Sua vontade se realiza
em todas as criaturas, em todos os Seus filhos, em todos aqueles que Seu coração ama,
não desejo mais nada, meu Deus; deposito minha alma em Suas mãos; dou-lhe, meu Deus,
com todo o amor de meu coração, porque Lhe amo e doar-me é uma necessidade de meu
coração; colocar-me em Suas mas, sem medida, com infinita intimidade, porque Você
é o meu Pai”.
Queridos irmãos e irmãs, peregrinos de um dia e habitantes destes
vales, irmãos Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, vocês todos que
vêem diante de seus olhos a infinita doação do Filho de Deus e a glória infinita da
ressurreição, fiquem em silêncio e adorem o seu Senhor, o nosso mestre e Senhor Jesus
Cristo. Fiquem em silêncio, depois falem e digam ao mundo: não podemos mais omitir
aquilo que sabemos. Vão e digam ao mundo inteiro as maravilhas de Deus, presente em
todos os momentos de suas vidas, em todos os lugares da terra. Que Deus nos abençoe
e nos proteja, nos conduza ao caminho da vida eterna. Ele que é a Vida, pelos séculos
dos séculos. Amém.