"Reflectir sobre a importância e verdadeiro sentido da laicidade": propõe o Papa,
perante o presidente Sarkozy, na cerimónia de boas-vindas à França
Primeiro acto oficial, a visita ao Palácio do Eliseu. Depois de um colóquio com o
Presidente Sarkozy, Bento XVI tomou a palavra perante as autoridades do Estado, começando
por recordar a primeira razão da sua viagem: a celebração dos 150 anos das aparições
de Nossa Senhora, em Lourdes. “Desejo agregar-me à multidão dos inumeráveis peregrinos
do mundo inteiro… É uma fé, um amor, que venho celebrar aqui no vosso país…” Bento
XVI exprimiu a sua satisfação por ter assim ocasião de “prestar homenagem ao imponente
património de cultura e de fé que modelou” a França ao longo dos séculos, oferecendo
ao mundo “grandes figuras de servidores da Nação e da Igreja”. Bento XVI frisou
que, aquando da sua visita a Roma, o chefe de Estado francês tinha recordado que “as
raízes da França – como as da Europa – são cristãs”, nomeadamente assegurando a “transmissão
da cultura antiga através dos monges, professores ou copistas, formação dos corações
e dos espíritos no amor do pobre, ajuda aos mais desfavorecidos com a fundação de
numerosas congregações religiosas”. Detendo-se sobre as relações entre a Igreja
e o Estado, entre a esfera política e a religiosa, o Papa reconheceu que actualmente
a Igreja goza, em França, de um regime de liberdade, e congratulou-se com o “diálogo
sereno e positivo” em curso, “que se consolida cada vez mais”. Sinal daquela “laicidade
positiva” de que tinha falado o presidente francês na sua visita a Roma. “Neste
momento histórico em que as culturas se entrecruzam cada vez mais, estou profundamente
convencido de que se tornou necessária uma nova reflexão sobre o verdadeiro sentido
e sobre a importância da laicidade”. Para o Papa, “é fundamental insistir por um lado
sobre a distinção entre o político e o religioso, garantindo tanto a liberdade religiosa
dos cidadãos como a responsabilidade do Estado para com eles”. Por outro lado, “tomar
uma consciência mais clara da função insubstituível da religião para a formação das
consciências e da contribuição que ela poderá fornecer, com outras instâncias, à criação
de um consenso ético fundamental na sociedade”. Declarando-se, como Papa, “testemunha
de um Deus Salvador, que ama”, Bento XVI afirmou esforçar-se por ser “semeador de
caridade e de esperança”. E aqui evocou a precariedade da situação dos jovens, assim
como o incremento da “distância entre ricos e pobres”… O Papa declarou a sua convicção
de que seria “possível encontrar soluções justas, que, ultrapassando a necessária
ajuda imediata, vão ao coração dos problemas, para proteger os pobres e promover a
sua dignidade”. Finalmente uma alusão à União Europeia, de que a França assegura
neste semestre a presidência de turno: “Perante o perigo da emergência de antigas
desconfianças, de tensões e oposições entre as Nações, que hoje em dia testemunhamos
com preocupação, a França, historicamente sensível à reconciliação entre os povos,
está chamada a ajudar a Europa a construir a paz nas suas fronteiras e no mundo inteiro”. Bento
XVI fez notar que “é importante promover uma unidade que não pode e não pretende ser
uma uniformidade, mas que é capaz de garantir o respeito das diferenças nacionais
e das diversas tradições culturais que constituem uma riqueza na sinfonia europeia”,
recordando por outro lado que “a própria identidade nacional só se realiza na abertura
aos outros povos e através da solidariedade para com todos”.