JESUS HISTÓRICO E A PAIXÃO SÃO TEMAS CENTRAIS DE ENCONTRO DE BENTO XVI COM EX-ALUNOS
Castel Gandolfo, 30 ago (RV) - Realizou-se sábado, na residência pontifícia
de Verão de Castel Gandolfo, próximo a Roma, o encontro privado do papa com um grupo
de seus ex-alunos, o chamado Ratzinger Schülerkreis.
Entre os participantes
figuram mais de 30 pessoas, entre as quais o arcebispo de Viena, Cardeal Christoph
Schönburn, e dois exegetas evangélicos, Martin Hengel e Peter Stuhlmacher, docentes
eméritos do Novo Testamento, da Universidade de Tübingen, no sul da Alemanha, onde
o teólogo Ratzinger ensinou nos anos 60.
Dois temas em particular estiveram
no centro do encontro: a relação entre os Evangelhos e o Jesus histórico e a compreensão
que Jesus tinha do significado salvífico de sua morte. Domingo, o Santo Padre presidirá
uma liturgia eucarística com os seus ex-alunos.
Trata-se de um já tradicional
encontro entre Joseph Ratzinger e seus ex-alunos, iniciado nos anos 70 durante sua
docência em Regensburg. Quando Paulo VI em 1977 nomeou o teólogo Ratzinger arcebispo
de Munique e Freising, seus alunos pensaram que o encontro não mais se teria e, ao
invés, continuou.
E assim se deu também em 2005: após a eleição à Cátedra de
Pedro se pensava que esses encontros não seriam mais possíveis. Mas Bento XVI convidou
novamente seus ex-alunos.
Nos anos precedentes falou-se do Islã, do evolucionismo,
da fé e da Bíblia. De fato, este ano os temas centrais do encontro foram a relação
entre os Evangelhos e o Jesus histórico e a Paixão, também à luz do livro do papa
"Jesus de Nazaré".
Nesse livro, Bento XVI apresentou o Cristo dos Evangelhos
como o Jesus real, como o "Jesus histórico" na medida em que "essa figura _ afirma
_ é muito mais lógica e do ponto de vista histórico também muito mais compreensível
do que as reconstruções" das últimas décadas. São muitas diferentes compreensões acerca
de Jesus, justamente como acontecia com a multidão 2000 anos atrás:
"Também
hoje é assim: muitos aproximam-se de Jesus, por assim dizer, externamente. Grandes
estudiosos reconhecem a sua estatura espiritual e moral e a influência na história
da humanidade, comparando-o a Buda, Confúcio, Sócrates e a outros sapientes e grandes
personagens da história. Não chegam, porém, a reconhecê-lo em sua unicidade. Vem à
mente aquilo que Jesus disse a Filipe durante a Última Ceia: 'Há quanto tempo estou
convosco e não me conheceis, Filipe?' (Jo 14, 9). Muitas vezes Jesus é
considerado também como um dos grandes fundadores de religiões, de quem cada um pode
pegar algo para formar a sua convicção. Portanto, como na época, também hoje as pessoas
têm opiniões diferentes sobre Jesus. E como na época, também a nós, discípulos de
hoje, Jesus repete a sua pergunta: 'E vós, quem dizeis que eu sou?'. Queremos
fazer nossa a resposta de Pedro: ...'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'."
(Homilia de 29 de junho de 2007)
De fato, a morte de Jesus e o sucessivo nascimento
da Igreja, numa situação aparentemente falimentar _ ressalta _ o pontífice _, se explicam
somente a partir de algo extraordinário, "somente a partir do mistério de Deus". Um
mistério difícil de aceitar:
"É o drama da rejeição a Cristo, que, como no
passado, se manifesta e se expressa, infelizmente, também hoje de tantas maneiras.
Talvez as formas de rejeição a Deus na era contemporânea sejam mais enganosas: da
nítida rejeição à indiferença, do ateísmo cietífico à apresentação de um Jesus assim
chamado moderno ou pós-moderno. Um Jesus homem, reduzido de modo diferente a um simples
homem de seu tempo, privado de sua divindade; ou mesmo um Jesus de tal modo idealizado
que parece por vezes o personagem de uma fábula. Mas Jesus, o verdadeiro Jesus da
história, é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem e não se cansa de propor o seu Evangelho
a todos, sabendo ser 'sinal de contradição a fim de que sejam desvelados os pensamentos
de muitos corações'... Diante d'Ele não se pode permanecer indiferentes. Também nós,
caros amigos, devemos continuamente tomar posição. Portanto, qual será a nossa resposta?"
(Audiência geral de 03 de janeiro de 2007) (RL)