Cidade do Vaticano, 16 ago (RV) - O impulso dado pela Conferência de Lambeth,
para resolver a crise que atravessa há anos, é certamente “prometedor” e o processo
adotado pelos anglicanos, nesta fase tão delicada, é absolutamente “transparente”:
a análise do êxito do encontro dos bispos anglicanos é de Mons. Donald Bolen, responsável
pelo 'dossier' anglicano junto ao Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos.
Mons.
Bolen publicou, esta semana, um amplo artigo na edição em língua inglesa do jornal
vaticano L’Osservatore Romano sobre contexto, aspectos ecumênicos e resultados da
Conferência de Lambeth.
Os anglicanos, em nível mundial, estão há anos na beira
do cisma devido ao contraste entre algumas dioceses “liberais” dos países ricos, sobretudo
nos Estados Unidos, que ordenaram padres - e até mesmo um bispo homossexual - e deram
a benção de uniões de pessoas do mesmo sexo, e as dioceses mais “conservadoras” do
sul do mundo, que boicotaram em massa a conferência. Cerca de um quarto dos bispos
anglicanos não foi a Lambeth, entre eles os da Nigéria, a província anglicana mais
populosa.
Ao lado deste problema, há a questão da ordenação das mulheres como
padres e bispos, que porém, não divide – apesar de não faltarem contrastes – os anglicanos
no seu interior, mas tem, escreve Mons. Bolen, “efeito sobre o objetivo do diálogo
anglicano-católico” porque “impede à Igreja Católica de reconhecer a validade das
ordenações anglicanas”.
E todavia, num momento tão grave, Mons. Bolen observa
que da Conferência – que não tem nenhum poder de decisão concreta – emergiu uma “direção”,
quase uma estrada de saída da crise, com a indicação de “elementos a breve e longo
prazo para um reforçamento da Comunhão anglicana”.
Paradoxalmente, os anglicanos
estão pensando “catolicizar” a sua Comunhão – até hoje um network guiado somente simbolicamente
pelo arcebispo de Cantuária, Rowan Williams): é este o sentido do Covenant, um ''pacto''
em via de aperfeiçoamento que deveria dotar os anglicanos em nível mundial de estruturas
e procedimentos mais claros e eficazes.
Se – escreve Mons. Bolen - os anglicanos
caminharem na direção de “uma maior estabilidade eclesiológica e se se realiza uma
coerência dentro da Comunhão Anglicana, esta evolução será, com todas as probabilidades,
acolhida e apoiada pela Igreja católica”. Os anglicanos, para o Vaticano, não estão
“no mesmo ponto de antes da Conferência”. “Está emergindo um sentido de direção, que
esclarecerá qual é o papel da Comunhão anglicana”. (SP)