Só na relação com Deus é que a pessoa se regenera: Bento XVI exorta a momentos de
recolhimento e oração durante as férias
Na alocução antes das Ave Marias, Bento XVI evocou o tempo de repouso que ele próprio
viveu nos últimos quinze dias. “Tive ocasião de descansar no modo apropriado a um
ministro de Deus – afirmou o Papa, em alemão: dedicando-me à oração, à leitura e à
meditação, sem as preocupações das urgências pastorais de cada dia”. Embora sem as
esquecer – disse – “pude por assim dizer filtrá-las através de um salutar desprendimento,
que ajuda a restabelecer as justas proporções: a reconhecer que o Senhor é Deus e
que nós somos apenas seus humildes colaboradores ao serviço da Igreja para o bem da
humanidade”. Prosseguindo depois em italiano, Bento XVI quis “partilhar uma reflexão”
que (disse) nele “maturou espontaneamente” nestes dias de repouso, relativamente à
experiência vivida semanas atrás em Sidney, nas Jornadas Mundiais da Juventude… “Na
grande metrópole da jovem nação australiana, aqueles jovens foram um sinal de autêntica
alegria, por vezes rumorosa, mas sempre pacífica e positiva. Embora fossem tantos,
eles não causaram desordens nem qualquer dano. Para estarem alegres não tiveram necessidade
de recorrer a modos despropositados ou violentos, ao álcool ou a substâncias estupefacientes.
Havia neles a alegria de se encontrarem e de descobrir conjuntamente um mundo novo”. Nada,
portanto, de “falsas evasões” ou de “experiências degradantes” vividas por muitos
jovens de hoje, conduzindo tantas vezes a verdadeiras tragédias – observou o Papa.
Um típico produto da actual “sociedade de bem-estar”, assim chamada, em que, no desejo
de preencher o tédio e um vazio interior, se tentam “experiências novas, mais emocionantes,
mais extremas”. “Também as férias correm assim o risco de se dissiparem numa
vã busca de miragens de prazer. Mas desse modo o espírito não se repousa, o coração
não experimenta alegria, não encontra paz, pelo contrário – acaba por se sentir ainda
mais cansado e triste do que antes”. Esta reflexão – sublinhou Bento XVI – não
vale só para os jovens, é para todos: “Só na relação com Deus é que a pessoa humana
se regenera. E Deus, uma pessoa só O encontra aprendendo a escutar a sua voz no sossego
interior e no silêncio” de que fala neste domingo a primeira leitura da Missa. “Rezemos
para que numa sociedade onde se passa a vida a correr, as férias constituam dias de
autêntica distensão durante os quais saibamos assegurar momentos de recolhimento e
de oração, indispensáveis para nos reencontrarmos profundamente a nós próprios e aos
outros. É o que pedimos por intercessão de Maria Santíssima, Virgem do silêncio e
da escuta”.