Bressanone, 10 ago (RV) - O premente apelo pela situação na Ossetia do Sul,
com o convite à oração junto com os ortodoxos, e uma reflexão sobre os riscos do vazio
que comportam certos aspectos da “sociedade do bem-estar” estiveram no centro das
palavras do papa, que no Angelus de hoje _ ao meio-dia _ expressou a sua gratidão
pelo período de repouso e meditação em Bressanone, no nordeste da Itália, onde permanecerá
até amanhã.
O Santo Padre, falando em alemão na primeira parte de sua alocução,
ressaltou o benefício dos dias de repouso, para depois recordar que o Evangelho de
hoje “nos conduz do lugar de repouso à vida cotidiana”.
“Conta-nos _ explicou
o pontífice _ como após a multiplicação dos pães o Senhor vai para a montanha para
permanecer sozinho com o Pai. Por sua vez, os discípulos estão no lago e com a sua
mísera barca tentam inutilmente resistir ao vento contrário”.
Também hoje _
disse Bento XVI _ “em muitas partes da terra a Igreja se encontra penando para seguir
adiante não obstante o vento contrário e parece que o Senhor esteja muito distante,
mas o Evangelho nos dá resposta, consolação e encorajamento e, ao mesmo tempo, nos
indica o caminho”.
Cristo estende-nos a mão como aos discípulos e “somente
se nós segurarmos a mão do Senhor, se nos deixarmos conduzir por Ele _ acrescentou
o papa _ o nosso caminho será um caminho reto e bom”.
“Por isso, queremos pedir
ao Senhor que consigamos sempre encontrar a sua mão e, ao mesmo tempo, nessa oração
há também o convite a fim de que em seu nome estendamos a nossa mão aos outros, àqueles
que precisam dessa mão estendida para conduzi-los pelas águas da nossa história.”
Depois,
falando em italiano o pontífice prosseguiu a sua reflexão com um convite forte e afetuoso
aos jovens, a não perderem de vista a alegria verdadeira atrás de falsas miragens
de prazer.
Bento XVI recordou os “rostos alegres de tantos jovens de todas
as partes do mundo” reunidos em Sydney, que sentiram “a autêntica alegria de encontrar-se
e de descobrir juntos um mundo novo”, “sem ter tido necessidade de recorrer a modos
inconvenientes e violentos, ao álcool e a substâncias entorpecentes”.
O papa
ressaltou isso pensando com pesar naqueles jovens que caem vítima de “falsas evasões,
vivendo experiências degradantes que não raramente desembocam em tragédias”. O Santo
Padre analisou os motivos:
“Esse é um típico produto da atual chamada ‘sociedade
do bem-estar’ que, para preencher um vazio interior e a monotonia que o acompanha,
induz a tentar novas experiências, mais emocionantes, mais extremas.”
“Também
as férias _ recordou o pontífice _ correm assim o risco de dissipar-se numa busca
vã de miragens de prazer.” “Mas desse modo _ observa o papa _ o espírito não se repousa,
o coração não sente alegria e não encontra paz, pelo contrário, acaba por encontrar-se
mais cansado e triste do que antes.” E aí o Santo Padre explicou não falar somente
aos jovens:
“Referi-me aos jovens porque são os mais sedentos de vida e
de novas experiências, e por isso também os que mais correm risco. Mas a reflexão
vale para todos: a pessoa humana se regenera verdadeiramente somente na relação com
Deus, e Deus o encontramos aprendendo a escutar a sua voz na quietude interior e no
silêncio.”
Bento XVI observou que “numa sociedade em que se vive sempre
na correria, as férias são dias de verdadeira distensão”.
E após a oração mariana
o papa expressou a sua profunda preocupação “pelos trágicos eventos que estão se verificando
na Geórgia e que, a partir da região da Ossetia do Sul, já causaram muitas vítimas
inocentes e obrigaram um grande número de civis a deixar as suas casas”.
Bento
XVI expressou seus votos:
“Faço votos de que cessem imediatamente as ações
militares e que renunciem, também em nome da comum herança cristã, ulteriores confrontos
e represálias violentas, que possam degenerar num conflito de ainda mais vasto alcance;
de que sejam retomados, ao invés, o caminho da negociação e do diálogo respeitoso
e construtivo, evitando assim ulteriores, dilacerantes sofrimentos àquelas caras populações.”
E
o pontífice acrescentou um claro apelo à comunidade internacional:
“Igualmente,
convido a Comunidade internacional e os países mais influentes na atual situação a
fazerem todo esforço para apoiar e promover iniciativas voltadas a alcançar uma solução
pacífica e duradoura, em favor de uma convivência aberta e respeitosa.”
O
pontífice convidou à oração junto com os irmãos ortodoxos, recomendando a sua intenção
à Virgem Maria.
Nas saudações finais o papa recordou os peregrinos presentes
provenientes das diversas comunidades paroquiais da Diocese de Bolzano-Bressanone,
bem como os jovens e as famílias de outras dioceses italianas. A todos agradeceu pelo
afeto e, em particular, aos jornalistas e aos agentes dos meios de comunicação que
o acompanharam durante suas férias em Bressanone. Recordamos que Bento XVI retorna
amanhã, segunda-feira, para a residência pontifícia de verão de Castel Gandolfo, localizada
a cerca de 30Km de Roma. (RL)