DIÁLOGO DO PAPA COM O CLERO EM BRESSANONE, PARTE 3
Bressanone, 09 ago (RV) - Ontem, a Sala de Imprensa da Santa Sé publicou o
texto integral do longo diálogo do papa com o clero, quarta-feira passada, na Catedral
de Bressanone. Bento XVI respondeu a 6 perguntas. Nos dias passados, apresentamos
uma síntese de 4 delas. Hoje vamos facalizar as duas últimas. A pergunta, colocada
por um sacerdote franciscano, referia-se ao discurso do papa em Regensburgo, quando
então ressaltava a ligação substancial entre o Espírito divino e a razão humana. Por
outro lado, continuou o franciscano, o senhor sempre ressaltou a importância da arte
e da beleza, da estética. Então, ao lado do diálogo conceitual sobre Deus, não deveria
ser serpre reafirmada a experiência estética da fé no âmbito da Igreja, para o anúncio
e a liturgia? O papa responde, afirmando que as duas coisas devem caminhar pari
passu: a razão, a honestidade da reflexão sobre a verdade e a beleza, pois uma razão
que quisesse de certo modo despojar-se da beleza, seria reduzida à metade, e prosseguiu: “Para
mim, a arte e os Santos são a maior apologia da nossa fé. Os argumentos apresentados
pela razão são absolutamente importantes e irrenunciáveis, mas o dissenso pode sempre
permanecer de pé. Ao invés, se olhamos para os Santos, este grande facho de luz com
o qual Deus atravessou a história, vemos que aí realmente existe uma força do bem
que resiste aos milênios, aí existe verdadeiramente a luz da luz. E, do mesmo modo,
se contemplamos as belezas criadas pela fé, diria que estas são simplesmente a prova
viva da fé. Uma bela catedral é um anúncio vivo, que nos fala; e partindo da beleza
da catedral, conseguimos anunciar visualmente Deus, Cristo e todos os seus mistérios”. Onde
nasce a beleza – acrescentou o papa – nasce a verdade: “Quando, nesta nossa
época, discutimos sobre a racionalidade da fé, discutimos precisamente do fato que
a razão não acaba onde acabam as descobertas experimentais, ela não acaba no positivismo;
a teoria da evolução vê a verdade, mas vê somente a metade da verdade: não vê que
por trás está o Espírito da criação. Nós estamos lutando pelo alargamento da razão
e portanto por uma razão que seja aberta também ao belo… Penso que isto é, de certo
modo, a prova da verdade do cristianismo: coração e razão se encontram, beleza e verdade
se tocam. E quanto mais nós mesmos conseguimos viver na beleza da verdade, tanto mais
a fé poderá voltar a ser criativa também no nosso tempo”. Um pároco faz uma
pergunta ao papa sobre a diminuição dos padres e sobre a possibilidade de confiar
aos leigos algumas funções do sacerdote. Vejamos a resposta do papa: “Na minha
resposta gostaria de considerar dois aspectos fundamentais. De um lado, o caráter
insubstituível do sacerdote, o significado e o modo do ministério sacerdotal hoje;
do outro lado – e isto hoje se destaca mais do que antes – a multiplicidade dos carismas
e o fato que todos juntos são Igreja, edificam a Igreja e por isto devemos nos empenhar
por despertar os carismas, que sustentam também o sacerdote. O sacerdote sustenta
os outros e os outros o sustentam, e somente neste conjunto complexo e variegado a
Igreja pode crescer hoje e para o futuro”. O papa fala das dificuldades dos
sacerdotes, hoje, sobrecarregados de tantas coisas a fazer. E indica uma prioridade: “Uma
prioridade fundamental da existência sacerdotal é estar com o Senhor e ter tempo para
a oração. São Carlos Borromeo dizia sempre: “Não poderás cuidar da alma dos outros,
se deixas que a tua depereça. Afinal de contas, não farás mais nada nem mesmo para
os outros. Deves ter tempo também para estar com Deus”… E a partir daí, ordenar depois
as prioridades: devo aprender a ver o que é realmente essencial, onde é absolutamente
exigida a minha presença de sacerdote e não posso delegar ninguém. Ao mesmo tempo,
devo aceitar humildemente quando, muitas coisas que teria a fazer e onde seria exigida
a minha presença, não posso realizar porque reconheço os meus limites. Penso que as
pessoas compreenderão essa humildade”. Bento XVI volta a destacar o valor do
celibato, sinal de que o sacerdote pertence totalmente a Deus e aos outros, e termina
com uma oração diante de tantas conseiras do padre: “Rezemos ao Senhor que nos
console sempre quando pensamos que não agüentamos mais; sustentemo-nos uns aos outros
e então o Senhor nos ajudará a encontrar juntos as estradas justas”. (PL)