CARDEAL MARTINO: PROIBIR MENDICÂNCIA É FECHAR OS OLHOS DIANTE DA NECESSIDADE
Roma, 08 ago (RV) - Bispos de várias cidades italianas protestaram nos últimos
tempos contra medidas que proíbem o pedido de esmolas.
As prefeituras de Alassio,
Sanremo, Trieste, Pádua, Modena, Veneza, Florença e Cortina declararam guerra às esmolas.
Segundo o jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, essa guerra declarada
pode ter conseqüências "muito sérias".
Administrações de várias cidades proibiram
as esmolas em seus centros históricos. O “transgressor” pode ser multado de 50 a 500
euros. Os prefeitos justificam a medida, afirmando que não são contra a esmola, mas
contra a exploração, explicando que o que incomoda não são os pobres, mas a pobreza.
O jornal publicou dois editorais, o primeiro intitulado "Os pobres jamais
incomodam", e o segundo, "A presunção de vencer a pobreza tirando os pobres de circulação",
para reprovar a norma e esclarecer os reais problemas a serem enfrentados.
Agora,
em entrevista ao conceituado jornal de Milão, Corriere della Sera, o presidente do
pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal Renato Raffaele Martino, concorda
em que se deve lutar contra a máfia da esmola, sem lesar o direito de pedir ajuda.
É esta, segundo ele, a atitude a manter para com os mendigos, depois dos decretos
dos prefeitos de algumas cidades italianas, decretos que, segundo o Cardeal Martino,
serviriam para esconder a necessidade ao invés de se procurar responder a ela. Dar
esmola, diz o purpurado, é um direito humano fundamental, especialmente quando nos
deparamos com pessoas que passam fome e estão expostas ao frio.
O cardeal,
que é também presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os
Itinerantes, diz não querer julgar os decretos que foram emanados, que podem ter as
suas justificações, mas que julga inaceitável a proibição da esmola em geral: vejo
nisto – disse ele – uma tentação de fechar os olhos e de olhar para o outro lado.
Ele sugere que as autoridades deveriam, ao contrário, ajudar a população a compreender
o verdadeiro alcance da necessidade que ainda não foi satisfeita ou alcançada por
nenhuma forma de previdência social.(PL)