NA CONFERÊNCIA DE LAMBETH, O CARDEAL KASPER CONVIDA OS ANGLICANOS A REDESCOBRIREM
A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
Londres, 31 jul (RV) - O Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção
da Unidade dos Cristãos, Cardeal Walter Kasper, tomou a palavra, nesta quarta-feira,
na Conferência de Lambeth, em Cantuária, traçando um histórico das relações nos últimos
anos entre anglicanos e católicos; o Cardeal abordou também as questões que determinaram
as controvérsias atuais no seio da Comunhão anglicana. A Conferência de Lambeth
reúne de 10 em 10 anos, os bispos anglicanos do mundo inteiro e o Cardeal Kasper aproveitou
o ensejo para auspiciar uma redescoberta da tradição apostólica para superar as divisões
na Comunhão anglicana. “As divisões entre nós – afirmou o purpurado – impediram gravemente
o nosso testemunho e a nossa missão”. Todavia, acrescentou, “a plena unidade não
foi um fim em si, mas um sinal e um instrumento de busca da unidade com Deus e da
paz no mundo”. O pronunciamento do cardeal Kasper na Conferência de Lambeth não
foi o pronunciamento de um juiz, mas de um “amigo”, de um “interlocutor ecumênico
entristecido pelos problemas que surgiram no interior da Comunhão anglicana”. O
prefeito da Congregação para Promoção da Unidade dos Cristãos abordou as duas questões
que estão criando tensões e divisões entre os anglicanos: a ordenação das mulheres
ao sacerdócio e ao episcopado e a sexualidade. Sobre este último tema, o cardeal
Kasper lembrou algumas passagens do documento de 1994 intitulado “Vida em Cristo”,
da Comissão internacional anglicana-católica romana (ARCIC): no texto, os anglicanos
concordavam com os católicos ao afirmar o fato que “a atividade homossexual é desordenada”.
Ao contrário, as posições não eram concordantes sobre o conselho moral e pastoral
a oferecer sobre este tema. À luz das tensões dos últimos anos sobre a homossexualidade,
uma declaração clara por parte da Comunhão anglicana – ponderou o cardeal – “nos ofereceria
maiores possibilidades para um testemunho comum da sexualidade humana e do matrimônio”. Falando
da ordenação das mulheres ao sacerdócio e ao episcopado, o cardeal Kasper referiu-se
à Carta apostólica “Ordinatio sacerdotalis” de 1994, de João Paulo II. No documento
se ressalta que “a ordenação sacerdotal na Igreja católica, desde o início, foi sempre
reservada exclusivamente aos homens”. A Igreja católica – acrescentou o presidente
do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos – “está vinculada à
vontade de Jesus Cristo e não se considera livre de instaurar uma nova tradição alheia
à da Igreja de todos os tempos”. Embora o diálogo ecumênico tenha levado a um
acordo significativo sobre o sacerdócio, a ordenação das mulheres ao episcopado –
precisou o cardeal – “bloqueia substancial e definitivamente um possível reconhecimento
das ordens anglicanas por parte da Igreja católica”. A notável profundidade da cultura
cristã da vossa tradição – concluiu o cardeal Kasper - “nos dá também a confiança
de que, com a ajuda de Deus, encontrareis uma saída destas dificuldades e de que,
de modo novo, seremos robustecidos na nossa peregrinação comum rumo à unidade que
Jesus Cristo deseja e pela qual reza”. (PL)