Cidade do Vaticano, 25 jul (RV) - A encíclica de Paulo VI Humanae vitae
completa hoje 40 anos. Eis um resumo daquele período e a herança deixada pela encíclica
à Igreja do século XXI.
Em 1968, os jovens ocidentais deram início a um movimento
para subverter a ordem constituída, em todos os níveis. Nesse clima, muitas vezes
explosivo, a Igreja era um dos alvos mais atingidos por muitas alas da contestação.
A
Igreja interveio com um documento igualmente explosivo, que fala do amor conjugal
como fruto do Amor de Deus, que usa termos como o respeito pela natureza do ato matrimonial,
que entra em seu âmago afirmando o caráter inseparável da união sexual da procriação.
E
o faz distinguindo entre métodos lícitos e ilícitos para o controle da natalidade,
convidando os cônjuges, em primeiro lugar os cônjuges cristãos, a anteporem a responsabilidade
partilhada aos impulsos pessoais do egoísmo, a serem abertos à vida, que é um dom
de Deus.
No dia 25 de julho de 1968, Paulo VI assinou a encíclica Humanae
vitae: a Igreja se posicionou reiterando e defendendo a visão cristã do matrimônio
e da sua dignidade, justamente no momento em que, em nome da nova liberdade, se gostaria
de eliminar essa visão. A assinatura dada a esse ato do Magistério, que ainda hoje
é uma pedra fundamental, não foi fácil para o Papa Montini.
Ele mesmo o confessou
na Audiência Geral de uma semana depois, no dia 31 de julho de 1968, falando de "gravíssima
responsabilidade" diante das "vozes fragorosas da opinião pública" e, todavia, impossível
de ignorar devido à "imensa obrigação apostólica de ter que se pronunciar a respeito".
Quarenta
anos depois, a Igreja não cessou de caminhar nas trilhas profundas traçadas nas consciências
pelos princípios da Humanae vitae. "Aquele documento tornou-se logo sinal de
contradição", observou Bento XVI no dia 10 de maio passado, recebendo os participantes
do Congresso sobre os 40 anos da Humanae vitae promovido pela Pontifícia Universidade
Lateranense.
Na ocasião, o papa explicou que na encíclica de Paulo VI "o amor
conjugal é descrito dentro de um processo global que não se detém na divisão entre
alma e corpo nem subjaz somente no sentimento, muitas vezes fugaz e precário, mas
assume a unidade da pessoa".
Eliminada esta unidade, advertiu Bento XVI, se
perde o valor da pessoa e se cai no grave perigo de considerar o corpo como um objeto
que se pode comprar e vender: "Numa cultura submetida à prevalência do ter sobre o
ser, a vida humana corre o risco de perder o seu valor. Se o exercício da sexualidade
se transforma numa droga que quer sujeitar o parceiro aos próprios desejos e interesses,
sem respeitar o tempo da pessoa amada, então aquilo que se deve defender não é mais
apenas o verdadeiro conceito do amor, mas em primeiro lugar a dignidade da própria
pessoa".
O milagre da própria vida, observou o papa, "é fruto de um amor que
sabe pensar e escolher em plena liberdade, sem deixar-se condicionar para além do
eventual sacrifício exigido".
Eis o motivo pelo qual "nenhuma técnica pode
substituir o ato de amor que dois esposos intercambiam como sinal de um mistério maior
que os tem como protagonistas e co-partícipes da Criação".
E concluiu, falando
sobretudo aos jovens: "Que possam aprender o verdadeiro sentido do amor e se preparem
para isso com uma adequada educação à sexualidade, sem deixar-se desviar por mensagens
efêmeras que impedem alcançar a essência da verdade em jogo". (RL/BF)