AUDIÊNCIA GERAL: BENTO XVI INICIA CICLO DE CATEQUESES DEDICADAS A SÃO PAULO
Cidade do Vaticano, 02 jul (RV) - Passados poucos dias do início do Ano Paulino,
Bento XVI iniciou esta manhã um novo ciclo de catequeses dedicadas ao Apóstolo dos
Gentios. De fato, na Audiência Geral realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Santo
Padre fez uma reflexão sobre o ambiente no qual viveu e atuou São Paulo, reiterando
a atualidade dessa figura "quase inimitável".
Uma figura, acrescentou o papa,
da qual os cristãos do nosso tempo ainda têm muito a aprender. Por isso, é justo reservar
um lugar particular a São Paulo, não somente na veneração, "mas também no esforço
de compreender aquilo que tem a dizer também a nós, cristãos de hoje".
Por
outro lado, observou, "não é possível compreender adequadamente São Paulo sem colocá-lo
no contexto tanto judaico quanto pagão de seu tempo". Um contexto sociocultural de
dois mil anos atrás, ressaltou Bento XVI, que sob vários aspectos não difere do de
hoje.
Em tal âmbito, um fator primário a ser considerado é a relação entre
o ambiente no qual Paulo nasceu e o contexto no qual sucessivamente se inseriu.
São
Paulo, recordou o pontífice, vem de uma cultura bem precisa, a cultura do povo de
Israel. Os judeus representavam então cerca de 10% da população total do império romano:
"Seus credos e o seu estilo de vida, como se dá ainda hoje, os distinguiam nitidamente
do ambiente circunstante; e isso podia ter dois resultados: ou a zombaria, que podia
levar à intolerância, ou a admiração, que se expressava em várias formas de simpatia,
como no caso dos temerosos de Deus ou dos prosélitos".
Havia quem, como Cícero,
desprezava os judeus, e quem, ao invés, como Júlio César, lhes havia reconhecido direitos
particulares. Portanto, também Paulo é objeto de uma "dupla, contrastante avaliação".
Todavia, o particularismo da religião judaica encontrava tranqüilamente lugar dentro
do império romano.
Em todo caso, acrescentou, o empenho de Paulo foi favorecido
por dois fatores: a cultura grega, ou melhor, helenista, e a estrutura político-administrativa
do império romano, que garantia paz e estabilidade da Britânia ao Egito.
A
visão universalista típica da personalidade de São Paulo "deve certamente o seu impulso
de base à fé em Jesus Cristo, na medida em que a figura do Ressuscitado se coloca
acima de toda e qualquer limitação particularista".
Contudo, observou Bento
XVI, também a situação cultural e ambiental de seu tempo não pode deixar de ter tido
uma influência em suas escolhas: "Há quem tenha definido Paulo como 'homem de três
culturas', considerando a sua matriz judaica, a sua língua grega e a sua prerrogativa
de 'civis romanus' (cidadão romano, ndr), como atesta também o nome de origem latina".
Deve-se
fazer uma menção particular à filosofia estóica, que influenciou, embora de modo marginal,
também o cristianismo. E citou alguns filósofos como Zenon e Sêneca, nos quais se
encontram "valores altíssimos de humanidade e sabedoria" acolhidos pelo cristianismo:
"Basta
pensar, por exemplo, na doutrina do universo entendido como um único grande corpo
harmonioso, e conseqüentemente na doutrina da igualdade entre todos os homens sem
distinções sociais, na equiparação ao menos de princípio entre o homem e a mulher,
e depois no ideal da moderação, da justa medida e do domínio de si para evitar todo
excesso."
No momento das saudações em várias línguas, após a catequese, o pontífice
encorajou os jovens a serem "pedras vivas" da Igreja, vivendo o Evangelho com generosidade
e responsabilidade. Saudando os presentes de língua portuguesa, o Santo Padre disse:
"Amados
peregrinos vindos do Brasil e todos os presentes de língua portuguesa, de coração
vos saúdo com votos de que esta vossa paragem junto do túmulo dos Príncipes dos Apóstolos,
Pedro e Paulo, revigore os laços cristãos que fazem de todos nós a mesma e única Igreja
espalhada até aos confins do mundo. Que o amor de Deus reine nos vossos corações…
e a terra será nova. As maiores felicidades para cada um de vós e vossos queridos,
com a Bênção que vos dou em nome do Senhor."
A Audiência
Geral desta manhã foi a última antes de um período de repouso de verão europeu, que
será interrompido por ocasião do Dia Mundial da Juventude de Sydney. No final desta
tarde, às 18h locais, o pontífice deixou a residência apostólica vaticana transferindo-se
de helicóptero para a residência pontifícia de verão de Castel Gandolfo. (RL/BF)