Cimeira da UA pede que o continente africano assuma as suas responsabilidades na crise
do Zimbabue, mas não critica Mugabe
(1/7/2008) Depois de ter sido eleito numa corrida a solo, o novo presidente do Zimbabué
esteve nesta segunda feira na cimeira da União Africana, em Charm el-Cheik, no
Egipto. Robert Mugabe ouviu o responsável da UA dizer que o continente “deve assumir
as suas responsabilidades” na crise zimbabueana. A UA, organização que
reúne 53 nações, está a ser pressionada há uma semana por todas as partes a intervir
na crise, nomeadamente pelos ocidentais, que consideraram a reeleição de Robert Mugabe
como presidente do Zimbabué uma “farsa” e pediram à organização para rejeitar qualquer
legitimidade ao regime. Alguns líderes africanos têm-se mostrado renitentes em
criticar Mugabe e têm apenas apelado para o diálogo entre o presidente e a oposição. Apesar
do discurso neutro do responsável da União Africana, os observadores eleitorais da
UA consideraram que as eleições ganhas por Mugabe não decorreram de acordo com as
“normas” democráticas da organização. No entanto, os observadores afirmaram que se
sentiam “encorajados” pela “vontade” demonstrada pelo partido no poder e pela oposição
para “iniciar um diálogo construtivo com o objectivo de assegurar a paz, a estabilidade
e o desenvolvimento do Zimbabué”. Nesta cimeira da UA, contudo ninguém criticou
Mugabe. O Chefe do Estado do Gabão, Omar Bongo, foi mesmo ao ponto de elogiá-lo. "Os
africanos são capazes de decidir por si próprios. Nós acolhemos mesmo Mugabe como
um herói. Ele foi eleito, prestou juramento, está aqui, então ele é o Presidente",
disse, classificando como "grosseiras" as acusações da comunidade internacional. Estas
afirmações surgem depois de o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, ter
dito que os africanos deviam exigir uma mudança de Governo no Zimbabwe e a Comissão
Europeia ter denunciado uma "vitória usurpada". Condoleezza Rice, por seu lado, indicou
que a situação vai ser levada ao Conselho de Segurança da ONU. Os EUA estão a preparar
um novo pacote de sanções, que, entre outras coisas, inclui um embargo à venda de
armas. Neste momento alguns países começaram já a agir unilateralmente: a Itália,
por exemplo, chamou o seu embaixador em Harare a Roma Para além da situação no
Zimbabué, a cimeira da UA em Charm el-Cheik discutiu ainda a lista de países sob
sanções da organização. São Tomé e Príncipe e Cabo Verde são os dois países africanos
lusófonos mantidos sob sanções da UA por falta de pagamento de quotas, enquanto a
Guiné-Bissau voltou a ter voz na organização depois de regularizar a dívida. Além
dos dois países lusófonos, a lista de países sob sanções da UA, por falta de pagamento
de quotas há dois anos, inclui ainda a República Democrática do Congo, a Eritreia
e as Seicheles.