CONGRESSO EUCARÍSTICO DE QUÉBEC: RECORDAÇÃO DOS MÁRTIRES DA ARGÉLIA
Québec, 19 jun (RV) - A Eucaristia não é uma lembrança do passado, é a presença
real de Cristo, que ao mesmo tempo explica a entrega dos mártires, como aconteceu
em anos passados na Argélia: foi o que disse o arcebispo de Lyon, cardeal Philippe
Barbarin falando nesta semana no Congresso Eucarístico Internacional, que se realiza
em Québec, recordando o sacrifício de 19 filhos da Igreja desse país africano, assassinados
nos anos 90, durante a violência islâmica.
Em particular, Dom Barbarin atribuiu
à Eucaristia a motivação que levou os monges do mosteiro cisterciense de Tibhirine
a darem a vida. Eles foram assassinados na primavera de 1996, apesar de que poderiam
ter abandonado aquele lugar para um local mais seguro.
“A presença deles era
uma oferenda simples, discreta e compreendida por todos. E o sacrifício tocou o mundo
inteiro. Apresentar o cristianismo sem a cruz ou falar do sacrifício eucarístico sem
dizer até onde ele pode nos levar seria uma mentira”, advertiu.
O próprio Dom
Henri Teissier, até pouco arcebispo de Argel, constatou o purpurado francês, durante
mais de quinze anos esteve diariamente em perigo. “Neste ambiente espiritual, celebrava
a Eucaristia cada dia. Os mártires cristãos da Argélia entregaram sua vida por causa
de uma fidelidade evangélica a um povo ao qual Deus havia enviado para servir e amar”,
declarou.
O cardeal Philippe Barbarin citou o prior de Tibhirine, Pe. Christian
de Chergé, que havia escrito: “Se um dia eu for vítima de terrorismo, gostaria que
minha comunidade, minha Igreja, minha família, recordassem que minha vida havia sido
entregue a Deus e a este país, a Argélia”. Segundo o purpurado ele “devia pensar com
freqüência nos argelinos quando pronunciava as palavras da consagração: ‘Isto é meu
corpo que será entregue por vós’”.
“Todos haviam aprendido árabe – explicou;
o irmão Luc, monge e médico, o mais idoso da comunidade de Tibhirine, atendia gratuitamente
os doentes da região. Quando o ambiente se tornou perigoso, eles decidiram ficar”.
“Dom
Pierre Claverie, bispo de Orã, pouco antes de ser assassinado no outono desse mesmo
ano, em 1996, disse: “Para que o amor vença o ódio, é preciso amar até entregar a
própria vida em um combate do qual o próprio Jesus não saiu ileso”.
Após seu
assassinato, nenhuma religiosa, nenhum sacerdote, nenhum leigo abandonou seu lugar
na diocese de Orã, conforme o que ele havia escrito: ‘Estabelecemos aqui laços com
os argelinos que ninguém poderá destruir, nem sequer a morte. Nisso somos discípulos
de Jesus, nada mais’.
“Esta atitude de discípulos, 20 séculos depois, nos ajuda
a compreender a Eucaristia do Senhor”, assegurou o cardeal francês Philippe Barbarin.
(SP)