2008-06-17 12:24:11

ÁFRICA DO SUL QUER 'IMPORTAR' MODELO DA CPT BRASILEIRA


Brasília, 17 jun (RV) - A Conferência Episcopal da África do Sul enviará ao Brasil em julho um grupo de representantes para conhecer a estrutura e o funcionamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e manter contatos com o Movimento dos Sem-Terra (MST). De acordo com explicações do padre Nelito Dornelas, assessor da CNBB para o setor de Superação da Miséria e da Fome, e um dos encarregados de organizar a visita, os africanos estão vindo aprender com os brasileiros.

“Querem implantar lá a metodologia desenvolvida pela CPT”, disse o padre. “Também estão interessados em ter missionários brasileiros que ajudem os trabalhadores rurais a organizarem seus movimentos, como foi feito no Brasil. Como se sabe, o MST é filho da CPT.”

Na sexta-feira, 13, os bispos da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, dom Pedro Stringhini, dom Guilherme Werlang, dom Ladislau Biernaski; a assessora da comissão, Ir. Delci Franzen; o assessor do setor para a Superação da Miséria e da Fome, pe. Nelito Dorneles; e os coordenadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT), pe. Dirceu e Canuto, reuniram-se na sede da CNBB, em Brasília, com o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa. O objetivo do encontro foi informar dom Dimas sobre o trabalho da CPT para responder ao diálogo que ele terá com os representantes da Conferência Episcopal da África do Sul, em julho.

De acordo com o padre Nelito Dornelas, desde o fim do apartheid, o regime racista sul-africano, há 14 anos, a Conferência Episcopal tenta estimular a redistribuição de terras. Os bispos chegaram até a doar as terras da Igreja aos sem-terra. “Até agora, porém, não viram resultados: a reforma agrária, como plataforma política, continua restrita a pequenos grupos, enquanto a terra continua concentrada nas mãos de poucos proprietários”, disse o assessor da CNBB.
Durante o apartheid, os brancos controlavam 87% das terras cultiváveis no país. Estima-se que ainda controlem pelo menos 80% - o que faz da reforma agrária uma das hipotecas mais pesadas do antigo regime.

Diante desse quadro, os bispos sul-africanos estudam a possibilidade de levar para o país a experiência da CPT, que foi criada há 33 anos por setores progressistas da CNBB, ligados à Teologia da Libertação, e hoje está presente em quase todo o território nacional, com 130 equipes de base. No fim dos anos 70, a CPT ajudou a criar o MST, organização que até hoje conta com o apoio de setores do clero e do episcopado.

“Se não fosse a CPT, a reforma agrária não teria sido colocada na pauta política do País com a força que se viu nas últimas décadas”, ressaltou o padre Nelito. “A direção da luta está nas mãos dos trabalhadores, mas a CPT continua apoiando e promovendo a bandeira da reforma.”

Além da área oficial da Igreja, o MST já tenta manter contatos com os sul-africanos, especialmente com seu equivalente no país, o Movimento dos Camponeses Sem-Terra, criado em 2002. Os contatos são feitos por meio da Via Campesina, organização internacional que tenta estimular ações pela reforma agrária e contra o agronegócio em várias partes do mundo.

A comitiva que virá ao Brasil em julho deve ser coordenada por um bispo e terá a presença de especialistas leigos da área social. (CM)







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