POVO MILENAR "AINU" OBTÉM RECONHECIMENTO LEGAL NO JAPÃO
Tóquio, 09 jun (RV) - O Parlamento japonês reconheceu na última sexta-feira,
o povo indígena ainu, milenar no arquipélago, mas privado de existência legal até
hoje.
A resolução, aprovada por unanimidade, afirma pela primeira vez que os
ainus “são um povo indígena com sua própria língua, religião e cultura”.
A
maioria dos ainus vive na ilha de Hokkaido e na província de Aomori no extremo norte
da ilha de Honshu, mas alguns também vivem no sul da ilha de Sacalina, na Rússia. Tradicionalmente,
sua crença era animista. Hoje quase 90% dos ainus praticam o Nichiren-Shu (denominação
budista tradicional); o restante segue o xintoísmo tradicional e há alguns poucos
cristãos.
Provavelmente a maior dificuldade para evangelizar os ainus decorre
de sua introversão, conseqüência de uma história de preconceito e depreciação por
parte dos japoneses. Isso porque embora hoje eles vivam de maneira semelhante aos
japoneses nos aspectos cultural e social e seu físico seja muito semelhante ao do
homem japonês, a maioria dos ainus dissimula suas origens, temendo o preconceito e
o desprezo.
A resolução finalmente aprovada pelo Parlamento pede que o governo
adote medidas imediatas para ajudar os ainus, que estão entre os habitantes mais pobres
do Japão.
Apesar do caráter principalmente simbólico, o reconhecimento deve
resultar em ajudas em termos de educação e emprego. Apenas 17% dos ainus conseguem
diplomas universitários, ou seja, duas vezes menos que a média nacional.
O
reconhecimento acontece pouco antes da reunião de cúpula do G8, que o Japão organiza
de 7 a 9 de julho na ilha de Hokkaido, no norte, onde vive a maior parte dos 70 mil
ainus do país. Povo que vive tradicionalmente da caça e da pesca, os ainus se viram
obrigados a abrir mão de suas terras, língua e modo de vida pela “lei sobre os antigos
aborígenes de Hokkaido”, aprovada em 1899 em Tóquio.
Abolida em 1997, a lei
foi substituída por outra que defendia a proteção das tradições ainus, mas que, no
entanto não reconhecia este povo como indígena. (CM)