2008-06-05 12:54:26

Desinteresse pelo sector agrícola em boa parte do mundo, a ausência de investimento e a escalada dos custos de transporte, algumas das causas da crise alimentar mundial.A Cimeira da FAO que termina esta quinta feira deve propor soluções para evitar uma hecatombe


(5/6/2008) São necessários 15 a 20 mil milhões de dólares por ano para neutralizar os efeitos da crise alimentar resultante do aumento dos preços dos bens essenciais e do petróleo - uma batalha em que "o fracasso é inadmissível", afirmou ontem o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no segundo dia de trabalhos da cimeira da FAO, que hoje termina em Roma.


Como causas da crise identificou o desinteresse pelo sector agrícola em boa parte do mundo, a ausência de investimento e a escalada dos custos de transporte em resultado do preço do petróleo. Esta conjuntura agravou a situação em mais de duas dezenas de países, importadores de alimentos e combustível, identificados pela FAO como mais vulneráveis aos efeitos da crise, a maioria situada em África.


O presidente do Banco Mundial, Robert Zoeelick, anunciou que a questão alimentar e agrícola será uma das prioridades da cimeira do G8, em Julho, no Japão.


Os subsídios directos e indirectos da UE aos agricultores de países como a França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália e Irlanda, entre outros, são apontados como um factor decisivo para a redução do preço dos bens agrícolas europeus, colocando estes a níveis que impossibilitam a concorrência do sector agrícola dos países em desenvolvimento.


O valor anual dos subsídios representa 40% do orçamento total da UE. As políticas comunitárias asseguram ainda ao agricultor europeu preços mínimos garantidos, quotas e apoios à exportação. Esta política de subsídios gera excesso de produção em lacticínios e trigo, entre outros. Os principais beneficiários, segundo documentos da UE, são as grandes explorações agrícolas. Esta política de subsídios apressa, segundo os críticos, o fim da exploração agrícola de subsistência e familiar. Por outro lado, sobrecarrega os contribuintes europeus.


O resultado desta estratégia europeia, que só deve ter alterações radicais com as reformas previstas para 2013, provocou crises parciais nos sectores agrícolas da América Latina, África e, em menor grau, da Ásia.
A falta de capacidade de escoamento dos produtos agrícolas destas regiões originou uma diminuição da produção, a retracção dos investimentos, o desemprego e a redução global dos bens agrícolas disponíveis no mercado mundial. Contribuiu também para a distorção dos mecanismos do sistema comercial internacional. Os críticos da política da UE falam da prática de dumping (comercialização abaixo do preço de custo), o que induz a escassez e a inviabilidade do sector agrícola dos países menos desenvolvidos.


A "produção alimentar tem de aumentar em 50% até 2030 para corresponder à procura", disse o secretário-geral da ONU em Roma.


E para concretizar esta meta, a célula de crise para a questão alimentar, criada em final de Abril e que agrupa 15 agências da ONU, o FMI e o Banco Mundial, estabeleceu uma série de objectivos de curto e médio prazo. No imediato, destaca-se a ajuda alimentar de emergência, o fornecimento de sementes e adubos, o fim das restrições às exportações e a redução das subvenções.


A médio e longo prazo, a questão dos biocombustíveis, a criação ou recomposição das redes de segurança social, o acesso ao micro-crédito e os incentivos ao investimento agrícola devem ter um tratamento aprofundado e produzir a elaboração de medidas concretas.








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