Organizações religiosas e ONG contra fome no mundo. Mensagem para a Cimeira da FAO
sobre segurança alimentar
(4/6/2008) 270 organizações religiosas e não-governamentais de todo o mundo enviaram
uma mensagem aos participantes na conferência sobre segurança alimentar que vai ter
lugar em Roma, nos dias 3, 4 e 5 de Junho. Os signatários convidam a comunidade internacional
a lançar um processo de discussão e acção a longo prazo, baseado em valores espirituais
fundamentais. “À luz das mudanças climáticas, da preocupação sobre a futura disponibilidade
de energia, de um aumento sem precedentes do preço dos cereais e dos levantamentos
por causa da comida em muitas partes do mundo, os ‘sinais dos tempos’ indicam a necessidade
da comunidade internacional agir com urgência”, refere a declaração, logo no seu início.
O texto é subscrito por centenas de Institutos religiosos da Igreja Católica,
que lembram “o imperativo moral de mudar o nosso estilo de vida de acordo com a capacidade
de cuidar da terra e do seu clima”. “A comunidade Internacional e, particularmente,
as comunidades que sofrem as consequências da escassez de comida, desejarão não só
ver uma maior solidariedade em programas para aliviar os efeitos imediatos da fome,
mas também estarão ansiosas para que as causas de fundo sejam enfrentadas eficazmente”,
pode ler-se. A declaração aponta o dedo a “um sistema de comércio mundial injusto,
problemas ambientais e sociais causados pela ‘revolução de verde’, mudanças de clima,
práticas de agricultura insustentáveis, políticas de biocombustíveis, especulação,
desperdício”. Para estas organizações religiosas e não-governamentais, a conferência
de Roma “pode delinear as estratégias sustentáveis necessárias para gerar um ‘novo
paradigma’ que possa ser construído sobre a base das ideias defendidas pelas ONG’s
e pela sociedade civil nas últimas décadas, para conseguir uma segurança alimentar
sustentável”. “O acesso aos direitos de propriedade, à água e aos serviços energéticos,
aos financiamentos e ao microcrédito são fundamentais para garantir a existência dos
pequenos agricultores, em particular das mulheres”, acrescentam. Em relação aos
biocombustíveis, a declaração defende que antes de procurar “substituir a todo custo
a oferta energética dos carburantes fósseis, os esforços devem concentrar-se na reestruturação
da nossa sociedade para usar menos energia e recursos e uma aproximação igualmente
aplicável às técnicas de produção de alimentos”. O texto manifesta-se contra as
soluções a “curto prazo", frisando que “o respeito pela integridade da criação deve
ser mantido na eliminação da pobreza e das estruturas sociais injustas, das causas
das raízes da fome, através de uma aproximação com opções múltiplas”. Sobre estratégias
futuras a adoptar face às mudanças climáticas, as organizações signatárias assinalam
que “não podemos aceitar propostas que impliquem nos países em via de desenvolvimento
a migração em direcção às cidades de, pelo menos, mil milhões de pessoas, deixando
prevalentemente a produção alimento nas mãos das grandes companhias agro-industriais”.