PAPA À CÚPULA DA FAO SOBRE CRISE ALIMENTAR: "FOME NO MUNDO É INACEITÁVEL"
Cidade do Vaticano, 03 jun (RV) - Na mensaagem enviada aos chefes de Estado
e de Governo, ao Diretor da FAO, ao Secretário-Geral da ONU e a todos os presentes,
o papa, através do cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, diz que atribui
grande importância à tarefa que lhes compete, diante de tantos homens e mulheres cuja
sobrevivência está ameaçada. A crescente globalização dos mercados nem sempre favorece
a disponibilidade de alimentos e os sistemas de produção são muitas vezes condicionados
por limites estruturais, políticas protecionistas e fenômenos especulativos que relegam
vários povos ao subdesenvolvimento.
Assim sendo, o papa reitera que a fome
e a desnutrição são inaceitáveis neste mundo, que dispõe, na realidade, de níveis
de produção, recursos e conhecimentos suficientes para acabar com estes dramas e suas
conseqüências. O grande desafio de hoje é “globalizar não apenas os interesses econômicos
e comerciais, mas as expectativas de solidariedade, no respeito e na valorização da
contribuição de todos os componentes humanos”. E esta ação – frisa o papa, deve ser
unitária e coordenada.
Neste espírito, e em nome de Bento XVI, o cardeal Bertone
formulou os mesmos votos feitos em sua recente visita à ONU: “É urgente superar o
paradoxo de um consenso multilateral que continua em crise, por causa de sua subordinação
às decisões de poucos”.
Partindo do princípio de que toda pessoa tem direito
à vida, o papa recorda nesta mensagem a necessidade de promover a atuação deste direito:
“É preciso ajudar as populações que sofrem a carência de alimentos a tornarem-se,
gradualmente, capazes de satisfazer as próprias exigências de alimentação suficiente
e saudável”.
O pontífice observa que “neste momento particular, em que a segurança
alimentar é ameaçada pelo aumento dos preços agrícolas, devem ser elaboradas novas
estratégias de combate à pobreza e de promoção do desenvolvimento rural”. Neste sentido,
o papa convidou os governantes a colaborarem de modo transparente com as Organizações
da sociedade civil engajadas no combate ao contraste entre riqueza e pobreza. E os
exortou a prosseguir com as reformas indispensáveis para enfrentar os problemas do
subdesenvolvimento, que gera fome e desnutrição.
Pobreza e desnutrição não
são meras fatalidades, provocadas por situações ambientais adversas ou por calamidades
naturais – recordou o cardeal secretário de Estado. Por outro lado, considerações
de caráter exclusivamente técnico ou econômico não devem prevalecer sobre os deveres
de justiça com aqueles que têm fome.
“É possível adotar medidas corajosas,
que não se rendam diante da fome e da desnutrição, que não as consideram simplesmente
como fenômenos endêmicos e sem solução”.
A Igreja católica – diz ainda o papa
em sua mensagem enviada aos participantes da cúpula da FAO - deseja unir-se a este
esforço de todos os países do mundo para derrotar a fome e a desnutrição:
“Embora
se distinguindo dos Estados, a Santa Sé se une a seus objetivos mais nobres para cumprir
o compromisso que, por sua natureza, envolve toda a comunidade internacional: encorajar
todos os povos a compartilhar as necessidades dos outros povos, colocando em comum
os bens da terra, destinados pelo Criador a toda a família humana”. À luz destes princípios,
o papa fez votos de que as delegações presentes na reunião assumam novos compromissos
e os realizem com determinação, buscando sempre o progresso autêntico da pessoa e
da sociedade. (CM)