Uma nova mentalidade para lidar com a crise alimentar
(24/5/2008) Devido à falta de produtos alimentares, demasiados pobres morrem a cada
dia, enquanto imensos recursos são atribuídos para armamento. A denuncia parte do
Arcebispo Silvano M. Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas
e outras organizações internacionais em Genebra. “A comunidade internacional deve
ser mobilizada para a acção. O direito alimentar está directamente relacionado com
o futuro da família humana, assim como com a paz global”, afirma o Observador Permanente
da Santa Sé durante a Sessão Especial sobre o Direito Alimentar, no Conselho dos Direitos
Humanos. D. Tomasi advertiu para o “avassalador desafio de alimentar adequadamente
a população mundial”, num tempo em que “a oscilação nos preços dos produtos alimentares
ameaçam a estabilidade de muitos países em desenvolvimento”. Esta situação pede
uma acção internacional concertada, pediu. Esta crise é um “alarme às consequências
negativas que afectam os agricultores negligenciados, quando mais de metade do mundo
luta para ser sustentado pelo seu trabalho”. D. Silvano Tomasi evidenciou na sua
intervenção a disfunção do sistema de trocas mundiais, quando quatro milhões de pessoas
anualmente aumentam a estatística de 854 milhões que sofrem de fome crónica. O
primeiro Objectivo de Desenvolvimento do Milénio, lembrou o Arcebispo, procura reduzir
para metade o número de pessoas a viver em pobreza extrema e fome, até ao ano de 2015.
No entanto, a Sociedade deve confrontar-se com o facto de que “o estabelecimento
de objectivos não se adequam às actuais políticas. Como resultado, milhões de homens,
mulheres e crianças enfrentam a fome diariamente”. Enquanto que a escalada de
preços nos produtos alimentares causam inconvenientes às famílias dos países desenvolvidos
que gastam cerca de 20% do seu rendimento em alimentação, “estes preços são ameaças
de vida para um bilião de pessoas que vive em países pobres, uma vez que são forçados
a gastar quase todo o seu orçamento diário à procura de alimentos”. Mais do que
uma “emergência alimentar”, o problema de uma adequada produção alimentar coloca-se
ao nível da estrutura natural. Este problema deve ser encarado no contexto de crescimento
económico justo e sustentável”, indicou. D. Tomasi pediu implementação de políticas,
estratégias e acções efectivas que resultem em eficiência alimentar para todos. O
impacto das trocas internacionais na área alimentar e a liberalização das trocas de
produtos agrícolas tendem a favorecer as empresas multinacionais e, por isso, a prejudicar
os agricultores locais, que representam a base da segurança alimentar dos países em
desenvolvimento. O Arcebispo apelou a um “renovado compromisso com a agricultura,
especialmente em África”. A prioridade na produção alimentar deveria ser para
beneficiar as pessoas, lembrou. “Os subsídios injustos na agricultura devem ser eliminados”.
Neste complexo e urgente debate sobre o direito alimentar, D. Tomasi pede uma
nova mentalidade, que “coloque a pessoa humana no centro e não tenha o seu foco no
lucro económico”.