A personalidade, humana e sacerdotal do cardeal Bernardin Gantin, maravilhosa síntese
das características do ânimo africano com as que são próprias do espírito cristão,
da cultura e da identidade africana e dos valores evangélicos
(23/5/2008) Intervindo no final da missa de sufrágio pelo cardeal Bernardin Gantin,
na basílica de São Pedro, nesta sexta-feira de manhã, Bento XVI evocou o purpurado
como “fiel e devoto servidor da Igreja ao longo de muitos anos”. A celebração foi
presidida pelo actual decano do Colégio cardinalício, cardeal Angelo Sodano, tendo-se
o Papa associado à assembleia só no final da Missa.
O Papa começou por comentar
a primeira leitura, em que o Profeta Ezequiel anunciava em nome de Deus: “Eis que
eu abro os vossos sepulcros, ressuscito-vos dos vossos túmulos”. “Ao povo oprimido
e desanimado, esmagado pelos sofrimentos do exílio – observou – o Senhor anuncia a
restauração de Israel”. Uma “cena grandiosa, que preanuncia a intervenção resolutiva
de Deus na história dos homens”, para além de tudo o que é humanamente possível. “Quando
nos sentimos cansados, impotentes e perdemos a confiança perante a realidade, quando
somos tentados a ceder à desilusão e até mesmo ao desespero, quando o homem se encontra
reduzido a um monte de ossos ressequidos, é então o momento de esperar contra
toda a esperança.
“A verdade que a Palavra de Deus recorda com vigor
é que nada nem ninguém, nem sequer a morte, pode resistir à omnipotência do seu amor
fiel e misericordioso. Esta é a nossa fé, assente na ressurreição de Cristo”.
Foi
neste contexto que Bento XVI fez “memória” da dedicação com que o cardeal Bernardin
Gantin viveu a sua existência terrena, que se concluiu no passado dia 13 de Maio,
com 86 anos de idade, :
“A sua personalidade, humana e sacerdotal, constituía
uma maravilhosa síntese das características do ânimo africano com as que são próprias
do espírito cristão, da cultura e da identidade africana e dos valores evangélicos”.
Papa Ratzinger evocou mesmo “recordações pessoais” que o ligavam ao purpurado
defunto, desde quando, há 31 anos, receberam juntos o barrete cardinalício das mãos
de Paulo VI, colaborando depois lado a lado na Cúria Romana. E sublinhou “o seu típico
estilo humilde e simples”, assim como “a sua prudente sabedoria, a sólida fé e o sincero
apego a Cristo e ao seu Vigário na terra, o Papa”. “57 anos de sacerdócio, 51 anos
de episcopado e 31 de púrpura cardinalícia: eis a síntese de uma vida gasta ao serviço
da Igreja” – fez notar Bento XVI, que recordou que o cardeal Gantin tinha apenas 34
anos quando foi ordenado bispo e 37 quando assumiu a missão de arcebispo de Cotonou,
a capital da sua pátria, o Benin.
A concluir, comentando a frase paulina “Para
mim, viver é Cristo, e morrer (é) um lucro”, acrescentou ainda Bento XVI:
“Também
este nosso amigo e irmãos, ao qual prestamos a nossa grata homenagem, foi permeado
de amor a Cristo. Amor que o tornava amável e disponível à escuta e ao diálogo com
todos. Amor que o levava a encarar sempre, como ele costumava repetir, ao essencial
da vida que dura, sem se perder no contingente, que passa rapidamente. Amor que o
fazia sentir o seu papel nos vários cargos da Cúria como um serviço isento de ambições
humanas”. Recordando que a morte do cardeal Gantin ocorreu “numa significativa
data mariana”, a 13 de Maio, “memória de Nossa Senhora de Fátima”, Bento XVI exprimiu
o desejo e a esperança de que “seja Maria a confiá-lo às mãos misericordiosas do Pai
celeste e a introduzi-lo na Casa do Senhor, para a qual nos encaminhamos todos”
– disse. “No encontro com Cristo, que este nosso Irmão implore para nós, e especialmente
para a sua amada África, o dom da paz!”