Roma, 21 mai (RV) - Um temperamento simples, espontâneo, mas também decidido.
Foi o que descobriu em Bento XVI o Cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, narrando
ontem o seu primeiro encontro com Ratzinger após ter sido eleito papa, no qual decidiram
juntos os elementos do novo brasão papal. A ocasião foi a apresentação do livro "Benedictus
servus servorum dei" do jornalista Giuseppe De Carli.
"Dois dias depois da
sua eleição – contou o purpurado –, chamou-me o Padre Georg dizendo que o papa queria
falar comigo urgentemente e eu, vista a minha experiência heráldica eclesiástica,
imaginei o motivo."
"Pediu-me, de fato, para desenhar-lhe o brasão. Antes,
porém, me fez ver o seu brasão de cardeal e eu lhe disse que o mesmo apresentava algumas
imprecisões. Ficou surpreso e replicou que ninguém jamais lhe havia dito algo do gênero.
Perguntou-me em seguida como deveria ser o brasão papal e eu respondi que era ele
quem deveria exprimir a sua preferência. Disse que não queria a tiara, típica dos
brasões papais, porque representava um poder temporal que estava superado."
O
Cardeal Montezemolo continuou dizendo: "Eu sugeri ao papa inserir no brasão a mitra
no lugar da tiara, símbolo episcopal. Depois sugeri também inserir o pálio, símbolo
de jurisdição, e ele gostou muito da idéia. Somente no fim, foi o papa a sugerir um
símbolo que, creio, ele tinha em mente desde o início, isto é, a concha, símbolo do
peregrino".
A concha, desenhada também sobre a casula que Bento XVI vestiu
na primeira missa de pontificado no dia 24 de abril de 2005, recorda a narração do
encontro entre Santo Agostinho e uma criança que procurava colocar, com uma concha,
toda a água do mar num buraco. Vendo isso, o bispo de Hipona compreendeu como era
inútil também o esforço de fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana.
(SP/BF)