Dificil lutar pela sobrevivencia em Myanmar:decretados três dias de luto nacional,
16 dias após o ciclone Nargis
(20/5/2008) Só ao fim de 78 mil mortos, 56 mil desaparecidos e 2,5 milhões de desalojados
é que a Junta Militar que governa Myanmar (antiga Birmânia) decidiu decretar três
dias de luto nacional. Paralelamente o regime diz que abriu as portas à assistência
humanitária internacional, mas a Assistência Médica Internacional (AMI) não foi autorizada
a ajudar, facto inédito em 24 anos de actividade, lamenta Fernando Nobre. Enquanto
Fernando Nobre da Assistência Médica Internacional considera que as autoridades birmanesas
não querem a presença de ajuda ocidental para não divulgarem a verdadeira extensão
da tragédia provocada pelo ciclone "Nargis", que ocorreu há mais de duas semanas,
e, ainda, porque temem o contacto do seu povo com organizações ocidentais, o ministro
dos Negócios Estrangeiros de França, Bernard Kouchner, chama "cobardes" aos países
membros do Conselho de Segurança da ONU que não concordam em pressionar Myanmar a
abrir as portas à ajuda internacional. A revolta de Paris deve-se ao facto de
França não ter convencido o Conselho de Segurança de que a ONU tinha autoridade para,
ao abrigo da "responsabilidade de proteger", reconhecida numa resolução de 2005, sobre
conflitos armados, permitir a violação da soberania de Myanmar. China, Rússia, Vietnam
e África do Sul opuseram-se à iniciativa francesa, considerando que este caso, ao
contrário da resolução citadada, era uma questão humanitária e não política.
Irritado,
Kouchner, que foi um dos fundadores dos Médicos Sem Fronteiras,diz que a França "denuncia
a morte iminente de milhares de civis" e não aceita "ser acusada de intromissão nos
assuntos internos de um Estado soberano". Kouchner diz que se a resolução de 2005
não se aplica, "aplica-se com certeza a de 1988, que diz que deixar as vítimas de
um desastre natural sem assistência humanitária constitui uma ameaça à vida humana
e uma ofensa à dignidade humana". A ONU, apesar do drama e do atraso na ajuda,
ainda procura convencer os generais de Myanmar, razão pela qual o seu secretário-geral,
Ban Ki-Moon, vai deslocar-se amanhã ao país.