2008-05-20 15:02:27


Carta pastoral do Patriarca de Lisboa com apelos ao diálogo e á presença na sociedade


(20/5/2008) O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, publicou este Domingo uma Carta Pastoral na qual deixa apelos em favor de uma Igreja mais activa num tempo de “mutação cultural”, lamentando que a comunidade católica tenha vindo a perder espaço na sociedade "como principal fonte inspiradora de valores da humanidade".
Assim, a Carta frisa que a Igreja “não pode cruzar os braços e renunciar à sua mensagem, mas deve fazê-lo por outro caminho: o da fidelidade interna a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho e o do serviço à sociedade, à pessoa humana, suscitando pelo amor e pelo serviço, as sementes de esperança que ainda não morreram no coração dos homens”.
“A autenticidade do seu serviço à humanidade deve impor-se por si, e não por mera lógica de poder”, acrescenta.
A missiva, que assinala os 30 anos de Bispo e 10 de Patriarca, tem como título “A Igreja no tempo e em cada tempo”. Foi divulgada no Dia da Igreja Diocesana 2008, celebração que reuniu cerca de 400 participantes.
D. José Policarpo alerta que “é um erro considerar a fé cristã como uma atitude estritamente individual. Quer no seu dinamismo interno, quer na sua missão no mundo, a Igreja situa-se necessariamente num quadro cultural”.
“Sem a radicalidade evangélica autêntica da vida, a Igreja será, sobretudo, vítima da mutação cultural. Só isso lhe dará autoridade para, no inevitável debate cultural, afirmar a diferença de modo a interpelar e rasgar novos horizontes de esperança”, precisa.
O texto admite que “hoje há uma fronteira de tensão entre a Igreja e a sociedade na afirmação dos valores morais, inspiradores da dignidade do homem e do sentido último da existência humana. A sociedade pressiona a Igreja para que adopte a sua dimensão secular de valores, evolutiva e pouco sensível à dimensão perene da vida humana”.
O Cardeal-Patriarca refere que a retirada de “Deus da vida do homem, em termos culturais” levou a que o ser humano ficasse “dependente de si mesmo, da sua inteligência, da sua liberdade, da sua criatividade e perdeu algo de muito importante na auto-compreensão de si mesmo, que é a consciência da sua precariedade e incapacidade”.
“A absolutização da liberdade individual levou ao relativismo ético. Cada um decide a orientação da sua vida, o que é bem e o que é mal, progressivamente insensível aos valores de uma cultura comunitária”, atira.
Após defender uma “visão clara do rosto positivo da sociedade”, o texto indica que a Igreja deve ter “uma consciência clara de dinamismos e realidades que na sociedade contemporânea são contra o homem: a violência e a guerra escolhidos conscientemente como caminhos para alcançar certos objectivos; os egoísmos e a primazia do lucro nos processos de desenvolvimento económico; a relativização da consciência moral; o relativismo da verdade; a alteração dos modelos de felicidade, marcada pelo hedonismo, o consumismo e a incapacidade de integrar as dificuldades e o sofrimento”.
Igreja em mudança
Depois de lembrar a sua vivência do Concílio Vaticano II, nos anos 60 do século passado - “foi uma ousadia corajosa convidar a Igreja à mudança” -, D. José Policarpo advoga que “houve mudanças na Igreja que significaram cedência ao espírito do mundo”.
“Adoptar, para estar próxima dos homens, os critérios do mundo é, para a Igreja, o caminho menos indicado para mudar ao ritmo das exigências da missão. E a sociedade pressiona-a continuamente a mudanças segundo as exigências da cultura secularizada: casamento dos padres, ordenação de mulheres, aceitação de segundos casamentos, etc”, elenca.
Esta rejeição da mudança por “motivações profanas da cultura envolvente”, não deve significar, segundo o Patriarca de Lisboa, “a recusa de toda e qualquer mudança”.
Na Carta Pastoral, o Cardeal D. José Policarpo mostra-se preocupado com a ignorância de muitos fiéis que têm a Bíblia em casa mas não a lêem, com a pobreza e má qualidade de muitas celebrações litúrgicas, com a falta de oração e participação dos leigos na vida da Igreja. Considera ainda urgente
"redescobrir o dinamismo da iniciação cristã" para atrair as pessoas, como através da catequese de adultos ou catecumenato (iniciação cristã) para os adultos não baptizados.
“Esta poderá a ser a grande revolução da nossa Igreja diocesana: encontrar caminhos novos, inventivos e, porventura, ousados, de anunciar Jesus Cristo aos que nunca se encontraram com Ele e fazer com eles, com o ritmo sugerido pelas suas vidas, essa caminhada fundamental de enraizamento em Jesus Cristo e na Sua Igreja”, escreve.
Noutro âmbito, o Cardeal-Patriarca sublinha o crescente protagonismo dos leigos na vida da Igreja, “uma fisionomia nova do rosto da Igreja, que supõe, disse Bento XVI aos Bispos Portugueses, uma contínua mudança de mentalidade”.
A Carta assinala que “a Igreja dará prioridade aos mais pobres, aos mais frágeis da sociedade”. “Esta opção não pode ser teórica, exige que se conheça, em cada tempo, a realidade da pobreza na nossa Diocese e que se vá ao seu encontro, através das pessoas e das instituições”, pode ler-se.
A parte final desta missiva é dedicada às relações Igreja-Estado, com destaque para a nova Concordata .
D. José Policarpo afirma que “a Igreja não exige que os poderes públicos protejam ou imponham os seus valores específicos, mas espera que esses mesmos poderes defendam e promovam tais valores universais”.
A Concordata mantém-se válida nos princípios que transitam para a nova
concordata enquanto esta não for regulamentada pela Assembleia da República
ou pelo governo.
É uma das questões sublinhadas pelo Cardeal Patriarca de Lisboa na carta
pastoral, uma carta para assinalar também
os 30 anos de episcopado e os 10 anos de patriarca.
Questões como o estatuto das escolas católicas, a disciplina de educação
moral e religiosa católica e assistência religiosa hospitalar e em meios
prisionais mantém-se ainda por resolver, apesar da Concordata entre a Santa
Sé e o Estado Português ter sido assinada há quatro anos.
-Em entrevista ao nosso correspondente em Portugal Domingos Pinto, D. José Policarpo admite que nem todos os intervenientes políticos da altura em que este tratado internacional foi assinado tinham consciência do ritmo a
seguir, mas está optimista quanto ao desfecho das negociações com o governo.

Uma entrevista onde aborda ainda o braço de ferro entre o governo e as
Instituições Particulares de Solidariedade Social e onde se mostra
preocupado com a ignorância de muitos fieis que têm a bíblia mas não a lêem,
com a pobreza e a má qualidade das celebrações litúrgicas, com a falta de
oração e participação dos leigos na vida da igreja... RealAudioMP3
Algumas das preocupações do Cardeal Patriarca de Lisboa sobre temas
importantes da vida da igreja e da actualidade em Portugal, em especial, nas
matérias que neste momento estão a gerar alguma tensão entre a Igreja e o
Estado.









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