NA AUDIÊNCIA GERAL, A SOLIDARIEDADE DO PAPA AOS CHINESES ATINGIDOS PELO TERREMOTO
Cidade do Vaticano, 14 mai (RV) - Nas cataqueses que vem dedicando aos Padres
da Igreja, o papa falou hoje de um teólogo místico do VI século, de nome desconhecido,
que, "por humildade", quis assinar as suas obras com o pseudônimo de Dionísio O Aeropagita,
em alusão a um dos dois gregos que se converteram em Atenas depois de ouvir a pregação
do apóstolo Paulo, no Areópago, para uma elite do grande mundo intelectual grego.
A Audiência Geral das quartas-feiras, como a oração mariana aos domingos,
são uma janela aberta para o mundo. Hoje, o pensamento do papa se concentrou na tragédia
do terremoto que abalou a China, segunda-feira passada, dia 12, deixando cerca de
15 mil mortos, segundo o último balanço.
"O meu pensamento dirige-se, neste
momento, às populações de Sichuan e das províncias limítrofes na China, duramente
atingidas pelo terremoto que causou graves perdas de vidas humanas, inúmeros dispersos
e danos incalculáveis. Convido-vos a vos unirdes a mim na férvida oração por todos
os que perderam a vida. Estou espiritualmente próximo às pessoas provadas por esta
calamidade devastadora: imploremos a Deus que alivie os seus sofrimentos. Que o Senhor
ampare todos os que estão engajados em fazer frente às exigências imediatas de socorro."
Mas voltemos à catequese de Bento XVI, na Praça São Pedro, na presença de
18.000 peregrinos e turistas. Ele destacou que a mística do Pseudo-Dionísio pode ser
hoje um modelo para o diálogo com as religiões asiáticas. O Areopagita, partindo da
chamada "teologia negativa", ou seja, daquela teologia que sabe dizer de Deus sobretudo
o que ele "não é", se coloca como mediador entre o pensamento grego da época e a mística
cristã que estava nascendo.
O Pseudo-Dionísio chega a afirmar que, partindo
da teologia negativa, o fiel chega a conhecer mais a Deus na forma da teologia simbólica,
na qual a especulação cede o lugar à contemplação e o conhecimento à experiência,
a experiência de uma criatura que compreende com o coração o seu Criador:
"Sendo
a criatura um louvor de Deus, a teologia do Pseudo-Dionísio torna-se uma teologia
litúrgica: encontra-se Deus sobretudo louvando-o, não só refletindo; e a liturgia
não é algo de construído por nós, algo de inventado para fazer uma experiência religiosa
durante um certo período de tempo; ela é o cantar com o coro das criaturas e o entrar
na própria realidade cósmica. E precisamente assim, a liturgia, aparentemente só eclesiástica,
se alarga e se torna grande, torna-se união de nós mesmos com a linguagem de todas
as criaturas. Ele diz: não se pode falar de Deus de modo abstrato; falar de Deus é
sempre um cantar para Deus com o grande canto das criaturas que se reflete e se concretiza
no louvor litúrgico."
É o que propõe a mística que recebeu do Pseudo-Dionísio
um autorizado impulso, tão autorizado que, por exemplo, São Boaventura, o célebre
biógrafo de São Francisco, tirou dessa impostação o esquema para compreender a mística
do Santo de Assis:
"Boaventura viu o que é esta experiência em São Francisco:
é a experiência de um caminho muito humilde, muito realista, dia após dia; é o andar
com Cristo, aceitando a sua cruz. Nesta pobreza e nesta humildade, que se vive também
na eclesialidade, há uma experiência que é mais alta do que a que se alcança mediante
a reflexão: nela tocamos realmente o coração de Deus."
O papa observou que
neste modo de proceder está também a "nova atualidade" do Pseudo-Dionísio:
"Hoje
existe uma nova atualidade de Dionísio O Areopagita: ele se nos mostra como um grande
mediador no diálogo moderno entre o cristianismo e as teologias místicas da Ásia,
caracterizadas pela convicção de que não se pode dizer quem é Deus; dele se pode falar
apenas em formas negativas; pode-se falar de Deus só com o "não" e só entrando nesta
experiência do "não" se pode alcançá-Lo. E aqui se vê uma proximidade entre o pensamento
do Areopagita e o das religiões asiáticas: ele pode ser hoje um mediador, como o foi
entre o espírito grego e o Evangelho. Vê-se, assim, que o diálogo não aceita a superficialidade.
Precisamente quando alguém entra na profundidade do encontro com Cristo se abre também
o espaço vasto para o diálogo. Quando alguém encontra a luz da verdade, se apercebe
que é uma luz para todos; desaparecem as polêmicas e torna-se possível entender-se
um ao outro, ou ao menos falar um com o outro, aproximar-se."
Depois da catequese,
o papa saudou os diversos grupos de peregrinos presentes na Audiência, dirigindo um
pensamento amigo também aos brasileiros. Ouça a sua saudação seguida da Bênção Apostólica:
"Amados
Irmãos e Irmãs, Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, especialmente
com um cordial abraço ao numeroso grupo de visitantes provindos do Brasil. Desejo
a todos felicidades, paz e graça no Senhor! Faço votos de que a luz de Cristo ilumine
sempre a vossa fé para que tenham uma vida digna, cristã e repleta de alegrias. Recebam
a Bênção do Todo Poderoso que, de bom grado, estendo aos vossos familiares e amigos."
(PL)