SOCIEDADE SEJA ABERTA À LÓGICA DO DOM, E NÃO SÓ AO LUCRO: CONCLUÍDA PLENÁRIA DA PONTIFÍCIA
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Cidade do Vaticano, 06 mai (RV) - Foi apresentada esta manhã, na Sala de Imprensa
da Santa Sé, a conclusão da XIV plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais,
realizada no Vaticano e concluída nesta terça-feira.
Na coletiva de imprensa,
estavam presentes o professor Pierpaolo Donati, da Universidade de Bolonha, norte
da Itália, e a professora Margaret Archer, da Universidade de Warwick, na Inglaterra.
O
primeiro frisou que um dos pontos sobre os quais a opinião dos especialistas convergiu
foi justamente o da constatação de que o compromisso entre Estado e mercado não é
capaz de governar os processos da globalização, comumente geradores de desigualdades
e injustiças: "Há um vínculo entre Estado e mercado mediante o qual os interesses
do mercado e os regulamentos do Estado assumem o domínio sobre os grupos sociais,
as formações sociais intermédias, as associações, as formas de cooperação e o voluntariado.
Portanto, o ponto de acordo é que é necessário fazer emergir essa sociedade civil
que age não por lucro nem segundo as leis do Estado".
Dentro da sociedade civil
existem forças capazes de produzir bens partilháveis e isso depende do fato de que
atualmente a lógica do dom se reforçou em escala global, como demonstram a maior difusão
de doação de órgãos, as crescentes ofertas em dinheiro, a redistribuição de alimento
e, até mesmo, as novidades que se registram em âmbitos de vanguarda, como na internet.
Desses
exemplos emerge que a solidariedade coloca em movimento uma produção de bens cuja
circulação se deve à subsidiariedade, ou seja, à capacidade das forças sociais de
criar e partilhar valores materiais em resposta a necessidades.
Sobre esse
ponto, a professora Archer fez a seguinte observação: "Uma das conclusões às quais
creio que chegamos é a conscientização de que quando falamos de bem comum nem sempre
falamos da mesma coisa. De fato, falamos de 'bens' comuns, no plural, que são diferenciados,
que podem ser acrescentados, que emergem de novas práticas sociais, mas que são todos
vitais para o desenvolvimento e o bem-estar dos seres humanos considerados individualmente.
Nisso há também o reconhecimento, por parte das instituições sociais, da dignidade
inalienável da pessoa humana. E, ao mesmo tempo, o permitir a expressão de diversas
formas de 'dons' que cada pessoa tem".
Portanto, afirmou por sua vez o professor
Donati, o bem comum "não mais se identifica com uma entidade superior, como pode ser
o Estado, embora este tenha certamente um papel importantíssimo em produzir, em preservar
o bem comum". Simplesmente, o Estado "não é o único ator, não tem o monopólio do bem
comum". (RL/BF)