PORTA-VOZ VATICANO: "CRISE ALIMENTAR DEVE-SE À FALTA DE VONTADE POLÍTICA"
Cidade do Vaticano, 05 mai (RV) - A crise alimentar foi o tema do editorial
do último número de "Octava Dies", jornal do Centro Televisivo Vaticano, gerido pelo
Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.
Para o Pe.
Lombardi, o aumento da fome devido ao acréscimo do preço dos alimentos interpela as
consciências, pois não se deve à falta de capacidade de produção alimentar, mas à
falta de vontade política.
O porta-voz vaticano analisa as causas e conseqüências
éticas do "vertiginoso" aumento dos preços de cereais.
A análise começa recordando
que, no ano 2000, "a maior cúpula de chefes de Estado da história proclamou solenemente
a 'Declaração do Milênio', que enunciava os objetivos mais urgentes para o bem da
humanidade a serem alcançados até 2015".
O primeiro era reduzir pela metade
a pobreza extrema e a fome. Mas o Pe. Lombardi recorda que se passaram quase oito
anos e, nestes meses, "estamos diante de uma crise alimentar gravíssima em muitos
países por causa do aumento dos preços dos cereais", de forma que o número de famintos
e subnutridos volta a crescer rapidamente, correndo o risco de afetar milhões de pessoas.
Segundo o porta-voz vaticano, essa crise parece que "não vai ser passageira".
Citando
estudos de especialistas, o Pe. Lombardi menciona três causas para este fenômeno:
"A distorção no mercado, provocada por subvenções à agricultura dos países ricos;
a nova produção de biocombustíveis; e o maior consumo de carnes em grandes países
como a China e a Índia, de forma que boa parte da produção agrícola já não se dedica
diretamente aos cereais para a alimentação humana".
Segundo o porta-voz, "o
que falta no mundo não é comida ou a capacidade para produzi-la, mas a vontade para
resolver o problema mais grave que aflige a humanidade".
"Mas uma coisa é uma
Declaração, e outra é a dura realidade", constata. Agora, acrescenta, "nosso olhar
se dirige à cúpula para a segurança alimentar da Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e a Alimentação (FAO) de junho. É outra oportunidade que não podemos
deixar passar". (BF)