DEPOIS DA VIAGEM AOS EUA, OS AMERICANOS VÊEM O PAPA "COM OUTROS OLHOS". CARDEAL MARTINO
COMENTA SEU DISCURSO NA ONU
Cidade do Vaticano, 01 mai (RV) - Os norte-americanos têm hoje uma imagem mais
favorável do papa Bento XVI e da Igreja Católica do que antes da viagem pastoral aos
Estados Unidos, mas muitos acham que ainda é preciso tomar mais providências para
evitar que se repitam escândalos de pedofilia no clero.
A constatação emergiu
de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Opinião Pública do Colégio Marista, encomendada
pela entidade filantrópica católica Cavaleiros de Colombo. Na sondagem, foram ouvidos
na semana passada 1.013 católicos e não-católicos, com margem de erro de 3,1 pontos
percentuais.
Para 61% dos entrevistados, a visita atendeu ou superou as expectativas.
35% se disseram mais ligados aos valores espirituais depois da passagem do papa.
Durante
a viagem, recordamos, o papa se disse ‘profundamente envergonhado’ com o escândalo
dos abusos sexuais por parte de sacerdotes, surgido em 2002, e se reuniu com as vítimas,
além de prometer impedir a presença de pedófilos no clero.
Para 58% dos entrevistados,
este comportamento do papa foi satisfatório, enquanto apenas 32% acham que de fato
foram tomadas medidas que evitem um novo escândalo. Outros 22% têm dúvidas, e 46%
acham que seria necessário mais empenho.
Para 56%, o papa passou o tempo certo
falando do escândalo. Quase 40% dos entrevistados consideram que a parte mais significativa
da visita foi o encontro mantido com cinco vítimas de abusos.
A viagem do
papa foi um dos maiores eventos da mídia até agora neste ano, e 84% dos entrevistados
disseram ter visto, ouvido ou lido algo a respeito.
Aqui em Roma, no entanto,
o cardeal Renato Raffaele Martino, presidente do Pontifício Conselho da Justiça e
da Paz, ressaltou ontem os pontos mais relevantes do discurso do papa à Assembléia
Geral da ONU, em 18 de abril:
A importância das Nações Unidas como instrumento
de paz e de diálogo internacional, uma ‘magnífica lição sobre natureza e fundamento
dos direitos humanos’, o pedido de maior atenção para a África; e ainda, os objetivos
do milênio, a redução das desigualdades locais e mundiais, e enfim, a proteção do
meio-ambiente
Estas - explicou o cardeal - foram as proposições que o papa
quis lançar à comunidade internacional com seu discurso. O Presidente do Pontifício
Conselho da Justiça e da Paz, que foi por 16 anos representante da Santa Sé na ONU,
ressalta a continuidade no magistério dos papas na ONU: “Bento XVI se somou a seus
predecessores ao reconhecer a sede natural, na qual a comunidade internacional se
constrói. Como pano de fundo, estão a Pacem in terris de João XXIII, a Populorum progressio
de Paulo VI e as intervenções dos papas diante das Nações Unidas: Paulo VI em 1965
e João Paulo II em 1989 e 1995.
60 anos depois da Declaração dos Direitos
Humanos, “o papa recordou que estes direitos se baseiam na dignidade da pessoa humana,
e que, ainda hoje, existem países nos quais não vigem os direitos principais à vida,
ao trabalho”.
Papa Ratzinger, recorda o card. Martino, frisou, da tribuna da
ONU, quais devem Sr os verdadeiros objetivos do desenvolvimento, pediu a redução das
desigualdades, e insistiu na proteção do ambiente e na necessidade de não deixar a
África às margens da mundialização virtuosa.
Como foi evidente também com
o apelo lançado alguns dias atrás pela Somália, Burundi e Darfur, “os papas e a Santa
Sé chamam a atenção para a África, porque sem ela o mundo não pode dizer que é desenvolvido:
é essencial que ela se inclua, com pleno título, na comunidade das Nações”. (CM)